Capítulo 1

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PARTE 1

A livraria que eu trabalhava não era como todas as outras. Ela ficava na parte mais tradicional da Coréia, onde a arquitetura milenar ainda era mantida intacta. Longe dos grandes centros, a nossa clientela era... pouca.

Ela era uma herança da família do senhor Woo. A muitos anos viveu repleta de leitores e sempre foi o orgulho dele. Mas com o passar dos anos, o senhor Woo, que ficou viúvo e não tinha filhos, viu sua saúde se deteriorar com a idade e não conseguia mais cuidar sozinho do lugar.

Quando cheguei na Coréia, a dois anos atrás e busquei por emprego, foi a oferta do senhor Woo que me chamou a atenção. O salário era baixo e bem longe do que meus amigos falavam ser o ideal, mas quando entrei na loja pela primeira vez e encontrei um senhorzinho sorridente do outro lado do balcão, sabia que era ali o meu lugar.

O senhor Woo sempre me tratou como filha e desde que criamos um laço de confiança, ele me "presenteou" com um espaço na loja.

Atrás do balcão, uma escada de madeira envernizada, levava para o andar de cima. Lá, duas portas se abriam para lugares diferentes. Uma, para o estoque onde o cheiro de páginas novas inundava o ar. E a outra, para um ambiente até então sem função.

- Não é grande coisa e sei que você merece algo muito melhor Aimy, mas pode transformar esse espaço em sua casa.

O senhor Woo me ofereceu o local como parte do salário que ele não podia me pagar. E nada era mais perfeito. O espaço era ideal para tudo que eu precisava e aos poucos fui transformando ele em minha casa.

A cozinha ficava bem na entrada, com duas bancadas espaçosas. Uma delas com um pequeno fogão elétrico de duas bocas e uma pia quase tão pequena quanto as bocas do fogão. Às vezes o senhor Woo fazia suas refeições comigo, então eu mantinha sempre duas cadeiras na pequena mesa redonda perto do que eu subdividi, como a sala.

A sala tinha apenas um sofá e uma pequena televisão presa à parede. O resto era revestido por inúmeras plantas. E quadros. Ao lado do sofá, uma estante de metal era o que dividia o "quarto" do resto da casa. A estante continha meus livros, decorações, álbuns do meu grupo favorito e mais plantas.


Naquela manhã, depois de ligar o aquecedor central, tratei de organizar as ordens dos livros. A rua estava tomada pelo branco da neve e precisei desobstruir a porta assim que abri a livraria.

Busquei a pequena escada de metal no estoque e a posicionei em frente a estante de livros estrangeiros. Mais precisamente sobre os que falavam de viagem e instruíam os leitores sobre os melhores pontos turísticos. Eu precisava retirar um por um para limpar, catalogar, incluir os novos e organizar.

Apesar de uma parte do meu cérebro me alertar sobre o perigo, a outra parte questionava porque eu não pegava todos os livros de uma vez e descia cuidadosamente a escada até largá-los no balcão. Claramente um corpo preguiçoso decidiu pelo caminho mais arriscado.

A prateleira mais distante me custava um alongamento maior, a escada não era tão alta e talvez não ultrapassasse um metro e meio. Assim eu precisei ficar na ponta do pé enquanto abraçava o maior número de livros.

- Um passo de cada vez... - sussurrei a mim mesma enquanto buscava acertar o passo no degrau da escada enquanto descia.

Minha concentração foi para o além, quando o barulho da sineta da porta tocou. Droga. Respirei fundo e tentei me concentrar novamente. Eu atenderia quem quer que fosse assim que chegasse ao chão.

Com a visão um pouco obstruída pelos livros que estava abraçando, percebi que era uma pessoa alta. Eu podia ver um pouco do seu chapéu bucket entre as outras estantes. Com a perna tremendo tentei alcançar mais um degrau abaixo.

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