Capítulo 2

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Antes de ir embora, Namjoon ainda ficou por mais alguns minutos. O suficiente para recolher todos os livros do chão e me pedir para ficar longe da escada por um tempo. Ele se despediu e agradeceu pelo livro, que o protegeu da neve, colocando sob o sobretudo, antes de sair.

Ao final do dia o senhor Woo apareceu com duas sacolas repletas de comida. Eu me apressei para ajudá-lo, que mesmo com problemas de mobilidade, nunca deixava de me ver.

Subimos para jantar e dividi com ele o encontro mais improvável da minha vida.

- E você pediu um autógrafo? - ele perguntou.

- Não... - realmente foi uma oportunidade desperdiçada, mas as memórias que foram criadas em poucas horas superaram qualquer papel com a assinatura dele.

- Bom, quando ele voltar, você pede.

Meus lábios se apertaram para não deixar a comida escapar. Realmente o senhor Woo não sabia a importância de quem estávamos falando. A probabilidade de Namjoon cruzar aquela velha porta de madeira novamente era tão baixa quanto ler o livro que entreguei.

Mesmo que alguma fagulha de esperança sobre ele ler pelo menos um dos poemas, queimasse dentro de mim, eu ainda sabia que ele deveria receber centenas de livros e aquele seria só mais um em uma pilha enorme em algum lugar de sua casa.

Quando a claridade do dia se apagou do lado de fora, acompanhei o senhor Woo até a casa dele, no final da rua. Me certifiquei que a calefação estivesse funcionando e a casa quentinha. Eu tinha uma cópia das chaves da casa e tranquei tudo depois de deixar ele em sua poltrona, assistindo a uma partida de tênis de mesa, ocorrida a pelo menos dois meses atrás.

Certamente ele pegaria no sono ali mesmo e no dia seguinte, quando sentisse dores nas costas, reclamaria que seu colchão precisava ser trocado.

A temperatura do lado de fora estava beirando a algo negativo e a neve grossa que caia do céu, me daria trabalho no dia seguinte quando eu precisasse desobstruir a porta da frente.

Quando me aproximei da livraria, notei uma figura alta parada ao lado da porta de entrada. A iluminação naquela parte da rua era um pouco fraca durante a noite e eu não conseguia notar muitos detalhes. Mas senti medo.

A pessoa estava de costas para mim e parei de caminhar assim que percebi que batia na porta. Nunca recebemos ninguém àquela hora. Nenhum fornecedor, nem clientes e muito menos algum amigo meu.

Minhas mãos suaram e as esfreguei contra o casaco de lã. Me virei para voltar para a casa do senhor Woo e provavelmente acordá-lo para dizer que passaria a noite ali. Foquei em não fazer barulho contra a neve quando meu nome foi chamado.

- Aimy... É você? - todo o ar que segurei enquanto tentava ser silenciosa escapou dos meus pulmões e encontrou o ar gelado, fazendo uma enorme fumaça branca se formar em frente ao meu rosto.

Me virei cuidadosamente para ele e dessa vez notei algo a mais. Uma bicicleta encostada perto da vitrine.

- Namjoon? - Meus olhos se estreitaram para focar no rosto quase imerso na escuridão perto da porta.

- Isso. - Ele deu um passo para que ficasse mais perto da luz.

- Caramba, você me assustou! - Coloquei a mão contra o peito e ele sorriu.

- Desculpa, eu deveria ter avisado mas, bem... eu não tinha como.

Me aproximei dele e percebi que estava com uma sacola e uma caixa na mão. Que diabos ele estava fazendo ali, com aquilo, aquela hora.

- Eu trouxe pra você. - disse ele depois de perceber meu olhar analisador. - Na sacola tem alguns livros que eu gostaria de doar, não sei se vocês aceitam... - ele continuou quando eu não disse nada.

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