Proposta

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—Senhorita Smith, é sempre um prazer trabalhar com você - disse o fotógrafo, beijando a mão dela com delicadeza e acrescentou galante - Espero ter o prazer de revê-la em outros projetos. Minha câmera e eu apreciamos bastante você e o seu trabalho.

—O prazer é todo meu! - disse Ámbar, simpática, vendo-o se afastar e se retirar do camarim reservado exclusivamente para ela.

Ámbar realmente admirava o trabalho dele. Eram incontáveis as horas em que ela havia passado admirando o alto nível do trabalho dele. As fotos eram simplesmente maravilhosas. Era inegável que ele havia nascido com o talento nato para a fotografia, diferentemente dela. Há alguns anos Ámbar havia se aventurado na mágica das câmeras, mas o que devia ser um relaxante hobby tornou-se um completo desastre. Ela não conseguia se sentir cômoda escondida detrás de uma lente. Aquele não era o lugar dela. O seu real lugar, onde ela se sentia realmente confortável, era do outro lado. Sendo o centro das atenções de alguém. Amava posar para a câmera. Amava ter o olhar de todos sobre ela. Amava ser admirada.

Porém, odiava ser julgada pela aparência.

Todos viam a jovem modelo e acreditavam que ela era apenas mais um rostinho bonito. Não podiam estar mais enganados. Ámbar havia terminado os estudos com honra, falava inúmeros idiomas e administrava os próprios negócios com maestria. Ela podia ter vários defeitos. Muitos já jogaram na sua cara o quanto orgulhosa, teimosa e ciumenta ela podia ser, mas ela nunca aceitaria que a acusassem de ser apenas um rostinho bonito. Por um lado, Ámbar conseguia compreender que quem a visse de longe, poderia confundir os belos olhos azuis, os graciosos fios loiros do seu cabelo e a pele angelical e perfeita como sendo de uma pessoa completamente fútil e superficial. Mas nada do que pensavam chegava aos pés da realidade.

Não era por ter seu rosto e seu corpo estampado nas revistas de todo o país nem por ter milhares de fãs nas redes sociais que Ámbar permitia que os outros decidissem quem ela era.

Ninguém que não convivesse com ela poderia conhecê-la de verdade.

—Ámbar?

Ela fechou os olhos, afastando os próprios devaneios e encarou o reflexo da assistente pelo espelho da penteadeira. Jazmin estava agoniada como sempre, andando para todos os lados sem descanso desde que o início do dia.

—Sim, Jazmin?

—Você tem um almoço daqui a alguns minutos no restaurante daqui do prédio com o representante de uma das empresas que desejam fechar contrato com você - disse ela, verificando a agenda mais uma vez - É uma empresa suuuper importante! Eu, sinceramente, acho que eles têm a melhor proposta para você no momento. Eles...

E, mais uma vez, Ámbar não parava para se dar ao trabalho de ouvir a tagarelice de Jazmin. Embora ela soubesse que era importante saber os detalhes do contrato para não ser pega desprevenida, Ámbar estava cansada. Seu corpo gritava pela própria cama, implorando uma boa noite de sono, talvez a primeira em muito tempo.

—...Você vai adorar tudo! Tenho certeza - completou Jazmin dando pulinhos, empolgada. – É perfeito!

Ámbar gostava do lado alegre de Jazmin. Ele a salvava em dias ruins e ela era profundamente grata por isso. Algo no persistente bom humor de Jazmin afetava o humor da própria Ámbar. Havia dias em que ela acordava torcendo para não encontrar com nenhum ser humano para evitar uma possível acusação de assassinato, mas, felizmente, sempre a primeira pessoa com quem cruzava era sua bela assistente com um enorme sorriso nos lábios e um empolgado cumprimento de "bom dia".

No fim, era verdade o que diziam.

Um sorriso realmente podia mudar o dia de alguém.

—Confio plenamente no seu julgamento, Jaz. - declarou Ámbar, passando o removedor de maquiagem em sua pele - Quanto tempo ainda tenho até o almoço?

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