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Amor.

Uma pequena palavra de quatro letras e diversas interpretações que pode mover o mundo.

Assim como tudo na vida precisa de equilíbrio para se manter adequadamente, com o amor não seria diferente. Por alguma razão é possível notar as consequências, sejam boas ou ruins, de uma palavra tão pequena, mas nem um pouco inofensiva. Os excessos e as faltas dele podiam causar situações catastróficas. Situações que o faziam sentir-se mal. Usado. Como um prêmio ou um troféu para exibição, o que, infelizmente, tornou-se frequente com o passar dos anos.

Sua mente voou até Emma. Ela amava os holofotes. Para ela, estar em foco a cada segundo era tão necessário quanto respirar.

Simón odiava isso.

Preferia se manter distante dos desnecessários holofotes a se jogar diante deles. Ele se sentia mais confortável com ser quem realmente era - manter sua postura natural - ao invés de incorporar um maldito personagem sempre que saísse de casa. Ele tentava justificar, de alguma maneira, que isso era algo comum em seu ramo, mas não conseguia entender a necessidade, mesmo que visse Emma fazer isso todos os dias.

Ela mudava da água para vinho em um piscar de olhos. Em um piscar de um flash. A mulher inteligente e esforçada, com quem convivia há anos, transformava-se em alguém fútil e adepta a pensamentos e causas pelas quais torcia o nariz de desgosto apenas ao ouvir Simón comentar sobre quando estavam a sós.

O que eu estou fazendo?, ele pensou.

Havia passado o caminho inteiro até o aeroporto perdido nos próprios pensamentos. Pensando e repensando as escolhas que tomou nas últimas horas. Chegou a conclusão de que se considerava um pouco covarde. Não completamente. Mas percebia que tinha uma grande parcela de culpa diante da circunstância que se formava ao redor dele. As escolhas tiveram consequências e ele optou por continuar na posição mais cômoda.

De novo.

Simón não era perfeito. Nem de longe.

Por que ser feliz era tão difícil?

Simón suspirou profundamente e acendeu a tela do telefone, verificando a hora.

Nunca agradeceu tanto pelos ponteiros que giravam tão lentamente.

Simón abriu o aplicativo de mensagens mais uma vez - perdeu a conta de quantas vezes repetiu isso desde que se sentou na sala de embarque - e encarou a conversa com Ámbar. Uma parte dele, mais especificamente a apaixonada, implorava para que ao menos uma mensagem de despedida fosse enviada e, quem sabe, ela o pedisse para ficar. A parte magoada o lembrava, sem parar, que ela o mandou embora. Pediu o cumprimento da maldita cláusula que ele mesmo havia sugerido.

Ele passou as mãos sobre o rosto, tentando colocar os pensamentos em ordem.

Estava cansado daquelas idas e vindas. Não queria mais magoar a si mesmo nem magoar ninguém. Queria poder suspirar feliz ao acordar pelas manhãs e deitar a cabeça no travesseiro sem peso na consciência durante a noite. Queria poder beijar os lábios da mulher por quem é apaixonado sem culpa nem medo de perdê-la no segundo seguinte.

Passageiros do voo com destino a Inglaterra, por favor, dirijam-se ao portão de embarque.

O tempo havia acabado.

Agora era tudo ou nada. Ir ou ficar. Emma ou Ámbar.

Simón levantou-se do banco, agarrou a mala e a arrastou pelo aeroporto em direção ao portão de embarque. Seu coração gritava para ele ficar, mas valia a pena? Os sentimentos, que emergiram em seu corpo a cada passo que ele dava, o faziam pensar se arriscar permanecer ali seria o melhor.

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