Ponto Final

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Uma trilha de carinhos molhados caminhava pela pele de Simón,lentamente.

Ele remexeu-se sob os lençóis e afundou o rosto no travesseiro, lutando contra a necessidade de acordar.

O som baixo de uma risada feminina contida invadiu seus ouvidos e ele sentiu as carícias recomeçarem. Pacientemente os carinhos alternavam-se entre a delicadeza dos lábios em beijos molhados e a maciez dos dedos que passeavam calmamente por sua pele quente. Simón respirou fundo e abriu um sorriso.

Docemente, as notas do perfume que dominava o ar invadiu suas narinas, prendendo-se em seus sentidos com intensidade. Cada centímetro ao redor dele parecia tomado pelo cheiro feminino floral e apaixonante. Era um aroma tão familiar e confortável que Simón sentia que não deveria temer sua existência nem lutar contra a vontade de senti-lo novamente, dia após dia. Há anos ele havia se perdido nesse perfume com a mesma intensidade com que um louco pula de um penhasco. Sem medo.

Ele mudou de posição na cama e abrir os olhos castanhos devagar

Aos poucos, seus olhos se acostumaram com a claridade matinal que penetrava pelos pequenos espaços entre as longas cortinas que cobriam as janelas. Diante dele, a imagem de uma linda mulher era moldada pela luminosidade. Os cabelos dourados caíam sobre os ombros em um dos suaves contornando com perfeição a face delicada e limpa de qualquer maquiagem. Os olhos azuis brilhavam extasiados em uma maravilhosa mistura de felicidade e paixão à medida que o encarava com ternura.

Ámbar sorriu docemente para ele.

-Bom dia! - disse ela, depositando um beijo rápido nos lábios dele. - Está na hora de levantar, Álvarez.

Simón abriu um sorriso sonolento e respondeu.

-Bom dia, bonita.

Mesmo que ele sentisse seu corpo embriagado de sono, era inevitável não analisá-la com carinho. Os olhos castanhos escuros passeavam pelos traços femininos à sua frente. Ela era perfeita. O contorno dos olhos penetrantes, a curvatura da bochecha e o contorno dos lábios finos apenas moldavam a beleza natural hipnotizante da mulher sentada na cama ao seu lado vestindo nada mais do que uma camisa social branca chegava ele até o meio das coxas. Simón abriu um sorriso divertido.

-Ei, essa camisa é minha.

-Convenhamos, Simón, ela fica muito mais bonita em mim - Disse, posando para ele como se estivesse em uma sessão de fotos, antes de cair no riso com ele.

Sua risada era contagiante e ele se lembrava disso. incontáveis memórias o lembravam o quão era fácil e leve sorrir ao lado dela. Sem fingimento nem manipulação, apenas pura alegria e autenticidade.

-Com certeza ela fica melhor em você - Afirmou Simon, envolvendo a cintura dela com as mãos e puxando delicadamente seu corpo de encontro ao dele. Ela passou seus braços sobre os ombros dele e acomodou-se confortavelmente em seu colo - Sinceramente, você não precisa de nada disso para ficar bonita. Você é linda de qualquer jeito, Ámbar!

Ela desviou o olhar dele, envergonhado, sentindo seu rosto em brasas, e escondeu a face na curva do pescoço dele. Ámbar cresceu em um mundo onde se acostumou a receber elogios das pessoas a cada evento social que seus pais a obrigavam a estar presente, mas com Simón era diferente. Qualquer mínimo elogio saindo de sua boca a fazia corar instantaneamente.

Ele riu. Impressionava-se como, mesmo se conhecendo há anos, ele ainda tinha o mesmo poder de deixá-la envergonhada com apenas algumas palavras bonitas e completamente verdadeiras. Ainda que lutasse contra o turbilhão de emoções que os envolvia e dissessem a si mesmos que eram dois adultos responsáveis movidos pela razão de fazer o certo, eles ainda se sentiam como dois adolescentes inconsequentes e apaixonados que a poucos haviam descoberto as maravilhas de amar alguém. Simón percebia isso, mas sabia julgar se era algo bom ou não. Por um lado, ele sentia o coração bater mais rápido, as borboletas voarem loucamente em seu estômago e sua pele ansiar por ser acariciada por ela, enquanto, por outro lado, percebia o quão inconsequente e impulsivo ele se tornava, ignorando o peso das decisões da vida adulta que voltavam à mente como um passarinho voltava ao ninho.

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