Inesperado

37 3 12
                                    

Ámbar se remexeu no sofá mais uma vez.

A noite havia sido longa. Não apenas pela cama improvisada montada na sala de Emília, mas, também, pela inquietação em sua mente. Estupidamente, Ámbar não conseguia parar de pensar em Simón. Ela sempre foi mais racional que emotiva, mas estava sendo difícil controlar o coração nos últimos dias. Havia tomado decisões impulsivas comandadas pela garota adolescente loucamente apaixonada que insistia em viver dentro dela.

Comportou-se equivocadamente ao envolver-se com Simón. Por mais que o ame com cada pedaço do seu corpo, foi errado permitir que aquele beijo perdura-se e ela dormisse com ele. Ela sentia seu peito pesar sempre que se revivia esses momentos em sua mente.

A conversa entre Mônica e Luna pairava pela cabeça de Ámbar, repetindo-se como uma música em modo "replay". Ela estava com raiva. Muita raiva. Mas uma parte de si apontava-lhe o dedo e esfregava-lhe fortemente na cara o quão errado ela havia se comportado nos últimos dias. Ámbar e Emma poderiam não ser iguais, mas, no momento, eram minimamente parecidas.

-Bom dia!

Ámbar desviou o olhar do teto e encarou o homem italiano desfilando de moletom pelo loft. 

-Bom dia, Benício! - respondeu ela, sentando-se no sofá, e coçou os olhos sonolentos com a palma das mãos. 

-Vou fazer café. Você quer? - ofereceu ele, pondo a água para esquentar. Ela assentiu. Ámbar o analisou por um momento. Ele parecia tão confortável naquela cozinha que ela se perguntava há quanto tempo os Emília e ele escontravam-se às escondidas - Durmiu bem?

-Mais ou menos. - disse, levantando-se do sofá, e seguiu o caminho até o balcão da cozinha, sentando-se em um dos bancos - Cabeça cheia.

Benício balançou a cabeça.

-Entendo! Bom, sempre me disseram que o dia melhora depois de uma boa xícara de café. - ele abriu um sorriso simpático - O que me diz? 

Ela assentiu e retribuiu o sorriso.

-Quem disse isso é uma pessoa muito sábia. 

O italiano balançou a cabeça e estendeu a mão para ela.

-Prazer, me chamo Pessoa Muito Sábia.

-Mas você disse que te disseram isso - disse, confusa.

Ele deu de ombros.

-Eu considero as vozes da minha cabeça excelentes e sábias amigas.

Ela não pode se conter. Jogou a cabeça para trás e caiu na gargalhada. Benício logo a acompanhou.

-Tenho a impressão que as vozes da sua cabeça e eu seremos grandes amigas também.

-Não tenho dúvida. 

Ámbar mentiria se dissesse que não se sentia estranha em estar conversando animadamente com um dos melhores amigos do seu ex-não- namorado. Era inevitável se questionar se Simón comentava a relação deles dois com Benício da mesma maneira que ela fazia com Emília. A loira encarou os olhos castanhos brilhantes e divertidos do homem em pé do outro lado do balcão, servindo pacientemente duas xícaras de café puro. Não ter conhecimento do quanto ele sabia sobre ela e os problemas da sua fracassada vida amorosa era um pouco assustador, mas algo em Benício não a amedrontava tanto. Talvez fosse a roupa de moletom despojada no lugar do terno sisudo que diminuísse sua postura intimidante. Talvez fosse a aura divertida e engraçada demonstrada na noite anterior que desconstruia a imagem intocável de homem de negócios.

Benício empurrou uma das xícaras na direção da loira e bebericou a outra devagar.

Ámbar agradeceu e encarou o líquido escuro antes de levá-lo aos lábios, pensativa.

EstupidezOnde histórias criam vida. Descubra agora