Estupidez

Terra da Rainha

Sigo pensando en ti

(Aitana - Formentera)

A viagem foi longa e cansativa.

Simón mal havia pregado os olhos durante a viagem. Preencheu seu tempo entre cochilar por poucos minutos, ouvir as músicas da sua playlist pelos fones de ouvidos e conversar com a garotinha de três anos sentada ao seu lado com a mãe.

Ele levou a garrafa de água aos lábios e deu um gole, sentindo a água gelada descer por sua garganta. Estava cansado. Assim como suas costas, os pés e o pescoço doíam e imploravam por uma boa noite de descanso. Arrastando sua mala pelo aeroporto, Simón digitava uma rápida mensagem para Ámbar, atualizando-a sobre sua viagem: Já na terra da rainha.

Pegou um táxi, orientou o motorista e esperou pacientemente o carro percorrer as vias cinzentas de Londres até o hotel em que se hospedaria. Ele respirou fundo, encostou a cabeça no estofado do carro e fechou os olhos, cansado. Seria mais prático e mais economico para Simón se hospedar no seu próprio apartamento na cidade? Com certeza. Porém, não seria nada confortável. O apartamento havia sido completamente decorado para Emma e ele quando os planos de morarem juntos surgiu após o término do relacionamento dele com Ámbar. Ter imóveis na Inglaterra não era uma necessidade apenas pessoal, mas profissional também. Benício vem trabalhando na expansão da empresa há anos e a Inglaterra era um alvo desde o início, o que provocaria viagens bimestrais para ambos.

-Chegamos, senhor - anunciou o motorista, parando o carro no meio fio.

Simón entregou o dinheiro a ele e desceu do carro, arrastando sua mala até a entrada do hotel em uma tentativa rápida de escapar da chuva que começava a dominar o céu inglês. Os planos para os próximos dias não incluíam demorar naquele país nem perder tempo com as chantagens emocionais que Emma provavelmente começaria a fazer. Simon nunca se deu muito ao trabalho de prestar atenção ou julgar algum comportamento de Emma. Não era como se não lhe importasse nada do seu relacionamento, ele apenas preferia focar em seu trabalho e não se deixar abalar por situações superficiais e, na maioria dos casos, fora do seu controle.

Jogando-se sobre as cobertas macias, após um relaxante banho quente e uma comida apetitosa trazida pelo serviço de quarto a uns vinte minutos, ele discou um número rapidamente e apertou para ligar.

Um toque. Dois toques.

-Alô?

O tom de voz sonolento faz Simón encarar o relógio em seu pulso quase de imediato. Marcava pouco mais de onze e meia da noite, o que significava, por um cálculo de fuso horário, que não devia ser mais de sete horas da noite por lá.

-Bonita? Você estava dormindo?

Um barulho do outro lado da linha o assustou. Simón prestou atenção a qualquer ruído e franziu o cenho, preocupado.

-Ámbar, você está bem?

-Oi, amor -ele a ouviu responder menos sonolenta - Estou bem, eu cochilei por um minuto. Não se preocupe comigo. Como foi a viagem?

-Foi excelente - disse ainda preocupado e acrescentou - Eu conheci uma pessoa no voo. Bem simpática. Ela adorou passar as mãos pelos meus cabelos. Você tinha que ver, ela era um amor.

A linha ficou muda de repente. Simón abriu um sorriso divertido.

A falta de resposta imediata da modelo era a reação que ele esperava. Ciúmes. Ámbar era uma pessoa ciumenta e disso ele não tinha dúvidas.

-Uma pessoa? - ele confirmou - Você conheceu alguém no voo?

-Isso. Ela se chama Olivia e tinha lindos olhos azuis - continuou em um tom pensativo - pensando agora, ela me lembrava bastante de você.