Doloroso

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A cadeira do escritório deslizou pelo carpete e chocou-se contra a parede com força.

Simón apoiou as mãos nos quadris e respirou profundamente.

Inspirou. Expirou. Inspirou. Expirou.

Ele sentia os sentimentos se alastrarem descontroladamente em seu peito. Era um misto de raiva e decepção. Estava muito irritado, só não sabia dizer se com Ámbar, com ele ou com os dois. Simón havia se entregue a ela da melhor forma que conseguia, superando os próprios medos e as próprias limitações e, embora entendesse a visão dela sobre o relacionamento deles, não poderia dizer que ela tomou a decisão mais sensata.

Eu amo você, Simón.

A voz de Ámbar ecoava em seus ouvidos sem parar, nutrindo a decepção cada vez mais forte e isso o irritava. Seus sentimentos eram uma bola de neve. Um puxava o outro até que se tornem perigosamente indômitos. Sufocantes.

Simón esperava que o limite das suas emoções tardasse mais a chegar. Ele estava enganado. Sentia seu corpo ser dominado. 

Soltou os braços ao lado do corpo, pegou a primeira coisa que viu sobre a mesa e a viu cortar o ar indo de encontro com a parede. Ele precisava descarregar a montanha russa em seu peito. O que antes era aquecido pela felicidade agora entrava na era do gelo. Simón sentia-se perdido. Sem rumo.

Ele estava confuso.

Não julgava completamente a decisão de Ámbar. Viu em seus olhos azuis o quanto ela estava magoada e insatisfeita com a situação. Simón passou os dedos por entre os fios do cabelo, puxando-os com força, e se virou, aproximando-se da enorme janela do escritório. Podia-se ver uma grande parte da cidade dali. Pessoas indo e vindo, presas nos próprios problemas. Simón se questionava quantas delas alguma vez já estiveram na mesma situação que ele. Com um coração completamente arruinado.

Respirou fundo e pressionou a testa contra o vidro da janela.

Cada centímetro do seu corpo estava inquieto. Sua mente não se concentrava em nada além das palavras de Ámbar. Seu corpo pesava toneladas. Seu peito doía fortemente.

Será que dessa vez ele realmente a havia perdido?

Não vou te obrigar a escolher, Simón. Não é algo que você tem que fazer sob pressão e, sim, de coração. Essa escolha você tem que fazer sozinho.

Esse era o problema. Ele não sabia qual escolher. Temia escolher errado e cair novamente, levando consigo apenas memórias dolorosas e um coração partido. Temia deixar algo seguro por algo incerto. Sua relação com Emma era relativamente segura, calma e conhecida. Com Ámbar era o completo oposto. Incerto, avassalador e desconhecido. Embora conhecesse Ámbar desde a adolescência, ela podia ter razão. As coisas podiam mudar, assim como as pessoas. Era evidente que ela amadureceu.

Simón bateu levemente a testa contra o vidro.

Era exaustivo encarar sua própria vida e ver que perdeu completamente o controle sobre ela. Simón não se arrependia de ter reencontrado Ámbar nem de jogar tudo para o alto e ficar com ela. Ele a amava, mas não negava que tinha medo.

Ele realmente sentia-se um covarde. 

-Simón, ma che cazzo sta succedendo qui? – ouviu alguém  perguntar surpreso.

Simón respirou fundo e travou a mandíbula, irritado.

O sotaque italiano de Benício era forte. Quem convivesse com ele já estaria acostumado a ouvi-lo soltar frases em italiano sempre que suas emoções eram muito intensas, mas Simón não estava com paciência para nada disso hoje. Não entendia nada que o amigo dizia, então preferia ficar em silêncio a dizer algo que se arrependeria depois.

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