Festa

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Ámbar bebericou o líquido em sua taça e continuou a percorrer os olhos pelo luxuoso e movimentado salão.

Os sorrisos falsos e as conversas fúteis e tediosas preenchiam cada centímetro do lugar à medida que seus olhos vagavam por ele, distraidamente.

Ela não estava tão animada quanto deveria. O encontro com Simón no dia anterior havia sido emocionalmente cansativo. Ele assombrava seus pensamentos sem parar, o que a obrigou a se afundar em trabalho na noite anterior em uma tentativa de afastá-lo da sua cabeça e distrair seus sentimentos.

Porém, não havia sido tão fácil.

Dentre todos os contratos da organizada pilha sobre sua mesa, como um jogo do destino, o nome de Simón apareceu logo no primeiro. Ela não havia conseguido parar de encarar o contrato em suas mãos. Talvez tenha permanecido ali, parada, por alguns segundos ou alguns longos minutos, Ámbar não tinha certeza. Apenas sabia que nada saia como o planejado. A armadura de aço ao redor do coração que ela tentava manter firme desmoronava a cada nova troca de olhares com Simón e, embora quisesse ficar longe, o destino parecia não cooperar.

–Pensando em como fugir da festa, Srta. Smith?

Ámbar prendeu a respiração. Um arrepio percorreu todo seu corpo com o sussurro rouco em seu ouvido. Ela conseguia sentir cada célula sua reagir a presença dele, ainda que sua mente gritasse contra. Ámbar realmente era teimosa e seu corpo comprovava isso descaradamente.

E lá estava o destino brincando com eles novamente.

Ámbar levou a taça aos lábios, sentindo o sabor do vinho tinto tocar sua língua com carinho. Ela precisava se acalmar e controlar a si mesma. Ámbar sabia que provavelmente encontraria Simón naquela noite, afinal a empresa em que ele trabalhava era a patrocinadora da noite e seria uma desfeita deselegante se ele não aparecesse.

Respirando fundo, Ámbar girou o corpo e o encarou. Ele estava um espetáculo. Assim como da primeira vez que se reencontraram, o terno escuro de alfaiataria desenhava seu corpo com perfeição e requinte. Os olhos azuis dela percorriam cada detalhe do homem a sua frente com atenção. A postura impecável era um pouco intimidadora, mas tudo parecia desaparecer ao simples cruzar de olhares. As duas esferas escuras a encaravam fixamente com um brilho encantador e conhecido que, assim como antes, era capaz de fazê-la sentir as borboletas em seu estômago voarem inquietamente. Ámbar sentia seu coração acelerar dentro do peito, batendo forte contra o peito. As lembranças das vezes que se deparara com aquele brilho quando se perdia nos lindos olhos de Simón em seus encontros, às escondidas, na adolescência a atingiam intensamente.

A imensidão azul dos olhos dela desceu pelo rosto dele com calma, prendendo-se um pouco em cada traço. Ela segurou um sorriso ao analisar a barba por fazer ainda presente na face masculina. Seu olhar continuou o caminho silencioso por Simón. Cada pedaço de tecido da roupa que o contornava era instigante. O que afetava todo os resquícios de autocontrole que lhe restavam para manter as mãos longe dele, ainda que os dedos dela implorasse senti-lo pelo tecido.

Ámbar continuou a apreciá-lo, em silêncio. O olhar dela se deteve na mão direita dele solta ao lado do corpo.

O anel de noivado permanecia ali.

"Era óbvio que ele continuava ali, Simón está noivo", Ámbar pensou. Ela desviou o olhar rapidamente e o encarou séria. Uma pontada em seu peito a incomodava sempre que seus olhos encontravam a aliança ao redor do dedo dele.

Ámbar não sabia como descrever essa sensação, mas Emília, sua melhor amiga, teria suspeitas prontas na ponta da língua e não deixaria Ámbar em paz até que ela confessasse que a amiga estaria certa.

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