Sentimentos Adormecidos

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Não se considerava uma pessoa distraída.

Ámbar sempre foi determinada e concentrada em cumprir o que estava comprometida a fazer. Porém, hoje nada estava como deveria. A sessão de fotos no período da tarde demorou mais do que o planejado pela sua falta de foco no trabalho. Havia proferido mais pedidos de desculpas nessa tarde do que durante o seu período escolar inteiro. Ela realmente se sentia mal por isso. Estava atrapalhando mais do que ajudando e isso a deixava decepcionada consigo mesma.

Ela suspirou, cansada, e encarou o painel do elevador mais uma vez.

Ainda faltavam alguns andares até chegar ao seu.

Ámbar se esforçava para ser forte e inabalável, mas a conversa com a noiva de Simón realmente a havia abalado. A insinuação sobre seu sucesso sempre mexia com ela e com lembranças do passado que ela preferia esquecer. No entanto, a vida sempre dava um jeito de trazer tudo à tona. Seja pela boca de seus colegas de trabalho, seja pela boca de Emma. Aquela história nunca tinha fim e isso era desgastante.

O som característico do elevador chamou a atenção dela. Em uma despedida educada e rápida aos dois vizinhos, Ámbar ultrapassou as portas do pequeno transporte metálico e se dirigiu ao próprio apartamento, procurando as chaves perdidas na bolsa pesada e lotada de coisas que carregava no ombro.

Um banho e algumas horas de sono eram tudo que ela precisava. Não negaria se perder em uma banheira de água quente com alguns sais de banho relaxantes acompanhada de uma saborosa taça de vinho. Apenas queria descansar e esquecer que teria uma rotina tão cansativa quanto à de hoje recomeçando no dia seguinte. O desejo de parar o tempo e aproveitar incondicionalmente a maciez aconchegante das cobertas da sua cama, sem preocupações, era um sonho que ela não podia ser dar completamente ao luxo.

Ámbar respirou fundo e mexeu os ombros em uma falha tentativa de dissipar a tensão e o cansaço de seus ombros. Onde estavam aquelas malditas chaves? Ela pensou, continuando a remexer a bolsa, impaciente. O tilintar do metal invadiu seus ouvidos e a fria superfície das chaves contra seus dedos fez um sorriso feliz surgir nos lábios da loira. Um obstáculo entre ela e sua noite de descanso estava sendo vencido.

Ela levantou o olhar para abrir a porta e parou abruptamente com as chaves apontadas para a porta. 

De fato, Ámbar estava distraída hoje. Ela não havia percebido o homem sentado no chão ao lado da sua porta, encarando-a divertido.

Piscou repetidas vezes, surpresa, e aproximou-se dele devagar, tentando controlar o sorriso que queria nascer em sua boca.

-O que está fazendo aqui? – perguntou Ámbar, sorridente.

-Soube que a linda modelo que mora nesse apartamento teve um dia cansativo e pensei que talvez ela quisesse jantar comigo – respondeu Simón levantando-se do chão e apontando para as sacolas de comida que estavam no piso ao lado dele. – e relaxar um pouquinho. Uma pessoa me disse uma vez que eu sou um excelente massagista.

Ámbar ergueu uma sobrancelha, divertida. As lembranças das mãos de Simón tocando sua pele e dissipando a tensão de seus músculos antes de alguma prova difícil ou depois de dias exaustivos. Ele tinha mãos mágicas.

-Essa sua fonte é confiável? – fingiu ceticismo.

-Uma das mais confiáveis - constatou com um sorriso. – E não se preocupe com sua dieta da semana que eu trouxe algo que você pode comer. Nossas assistentes ficaram amigas muito rápido.

Ela retribuiu o sorriso, assentindo, e abriu a porta do apartamento, passando pela porta com Simón em seu encalço. Conhecendo bem Jazmin, Ámbar sabia que no dia seguinte ela ouviria sobre Delfi por horas. Sua assistente adorava tagarelar, principalmente sobre novas pessoas e amizades. 

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