Capítulo 5

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Peter Todd

Saio do quarto de hóspedes que dormi e passo pelo corredor silencioso, chego na frente da bancada da cozinha e vejo o gato me encarando. Ele tem o pelo preto e os olhos são bem amarelados, não sei porque ela colocou o nome dele de Blue.

Olho para Gwen e ela está com um roupão branco de seda, a luz do sol passa por ele e da para ver alguns contornos do seu corpo enquanto ela se mexe. Os cabelos longos e castanhos estão presos por um prendedor e ela está fazendo algo que cheira muito bem.

Começo a me aproximar e vejo que é bacon, estico a mão para pegar um e ela olha para mim surpresa. Enfio o pedaço que peguei na boca e nos encaramos, estava meio estranho depois de ontem a noite.

Ela ficou desesperada com o gato, pelo que eu entendi, ele parecia ser uma terapia para ela. Como toda essa bosta de casa sem drogas, álcool e tudo mais que uma pessoa precisa ficar longe.

-Suas roupas já secaram.- ela desliga o fogo e se afasta.

-Ótimo.- a observo enquanto ela pega dois pratos.- Eu não vou comer, eu vou embora agora.

-Ah, ok.- ela guarda um dos pratos.- Deixei as roupas em cima da mesa.- aponta.

Mexo a cabeça e pego minhas roupas, volto para o quarto e sinto o cheiro de lavanda vindo das minhas roupas. Elas nunca tiveram o cheiro de lavanda, normalmente era um cheiro que não tinha cheiro.

Me visto rapidamente e deixo as roupas que usei no cesto que tem no quarto, saio de lá arrumando a blusa e pego minha jaqueta que está apoiada no sofá. Só de manhã vejo que é uma casa bem do campo.

-Segunda que vem você vai voltar?- pergunto.

-Sim.- assente.- Já arrumei o serviço de táxi...

-Tessa falou que eu ia ficar buscando e deixando.- explico rapidamente.

-Não precisa fazer isso.- ela coloca a comida no prato.

-Também não precisa ir de táxi se eu posso deixar e buscar você.- balanço a cabeça.- Não é nada demais...

A campainha toca e Gwen chupa os dedos por causa do bacon, então ela caminha até a porta e franzo as sobrancelhas quando abre e tem um cara vestido de policial. Vejo Gwen corar e ele sorri para ela, sorri de um jeito que diz que já viu ela nua.

-Só passei aqui para saber se já tinha voltado.- ele explica e olha para ela da cabeça aos pés.

-Sim, eu...- ela passa a língua pelos lábios e ele observa isso também.- Eu voltei.

-Queria saber se queria jantar comigo.- ele troca o peso do corpo e então me vê.- Ah, você...

-Não, ele passou a noite aqui por causa da tempestade.- ela ajeita os cabelos e eu bufo.

-Então, o jantar...

-Claro, hoje?- pergunta e ele assente.- Ok, você passa para me pegar às...

-Seis.- ele sorri para ela como um idiota.

-Você....- Gwen morde o lábio.- Quer ficar e comer algo?

-Não quero atrapalhar...

-Está.- sento em uma das cadeiras e sorrio.

-Você falou que ia embora.- Gwen me encara.

-Preciso comer algo antes de ir.- explico.

-Claro que precisa.- ela bufa.

-Eu volto aqui mais tarde.- o policial mexe a cabeça.- Até.

-Até.- ela sorri.

Gwen fecha a porta e senta na minha frente enquanto come os ovos mexidos com bacon. Vejo que ela tem um sorriso leve no rosto e fico me divertindo com aquilo, vou acabar com a diversão dela em cinco segundos ou menos.

-Sabe o nome dele, Gwen?- pergunto.

O sorriso dela diminui.

-Claro.- ela se ajeita na cadeira.- É....

-Você não sabe o nome dele.- sorrio.

-Peter, você vai ficar me irritando ou vai embora de uma vez?- ela franze as sobrancelhas.

-Tem razão.- me levanto.- Não vale a pena ficar irritando você se no fim o que eu vou ganhar são lágrimas.

-Muito bom, Peter.- ela abaixa o garfo e parece não querer mais tocar na comida.- Muito bom.

-Eu vou embora agora.- começo a ir embora.

-É, claro.- ela balança a cabeça.

Pego as chaves que deixei em cima da mesa e saio da casa, vou até meu carro e entro rapidamente. Passar esse tempo na casa dela foi um erro, agora eu estava me sentindo mal pelo que falei.

Antes eu não me sentia, isso porque eu não passei tanto tempo com ela quanto eu passei hoje. Então é só ficar um tempo afastado e esse ódio vai voltar, simples, bem simples.

Gwen Gallagher

Vou até o banheiro e começo a prender os cabelos, antes de sair ou acontecer alguma coisa, eu sempre tinha que fazer isso. Isso é desde que minha mãe me arrumou para ir no primeiro encontro.

Mas deixou algumas marcas ao longo do tempo e agora eu não gosto muito delas, as cicatrizes que deixou não são enormes, mas eu consigo ver pelo espelho. Consigo ver enquanto estou de roupa. Consigo ver sempre.

Tiro o roupão e passo os dedos pelas cicatrizes pequenas, franzo as sobrancelhas quando toco uma no meu quadril. Tudo isso era por causa dos corpetes, ela sempre quis que eu tivesse uma cintura fina, tão fina que caberia em todos os vestidos.

A campainha toca e visto meu roupão de novo, corro para a porta e minha mente está tão longe que quando eu abro e vejo o policial eu só consigo pensar em uma coisa para fazer.

-Você precisa de mais tempo?- ele franze as sobrancelhas.

-Não, não preciso.- agarro a camisa dele.

-Gwen...

Beijo ele e passo meus braços por seus ombros, ele me coloca no colo e fecha a porta com o pé enquanto me leva para a cama. Só preciso disso, preciso de um pouco disso para me sentir eu mesma, para esquecer essas cicatrizes e me achar bonita.

Só preciso me achar bonita.

Peter Todd

-Gente!- abro a porta.- Gente! Eu preciso de amigos...

Começo a subir as escadas e ouço uns barulhos estranhos, sorrio abrindo a porta do quarto deles e vendo Tessa montada em Mattias. Ela grita com raiva e nem sai de cima dele enquanto joga o travesseiro em mim.

-Sai, Peter!- ela grita.

-Mas eu....

-Peter, por favor!- Mattias arregala os olhos, quase implorando.

-Bosta.- fecho a porta e vou lá para baixo.

Abro o armário de bebida e pego uma garrafa de uísque, saio do apartamento e dou um gole enorme na garrafa. Mattias nem vai ligar se eu pegar uma garrafa emprestada, ele está ocupado demais transando com Tessa ou fazendo algo feliz com ela.

Depois eu devolvo o uísque para ele.

Gwen Gallagher - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora