Sob O Morro

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ÉRICA: 🤍
Dois dias depois

Acordar com o som da chaleira apitando lá da cozinha e o cheirinho de café no ar já me dizia tudo, tia Cecília tava aqui, desde ontem à noite, Já chegou com aquele jeitinho dela que mistura cuidado e bagunça boa, E eu amava, Principalmente hoje.

Ainda deitada, senti o Isaac se remexendo no berço do lado da cama, Meu presente diário, Ele soltou um gemidinho, ainda sonolento, e quando abri os olhos, lá estava ele espreguiçando o corpinho, os olhinhos tentando se acostumar com a luz que entrava pela fresta da janela.

Érica: Feliz aniversário pra mamãe mais linda da Rocinha, né meu amor? — sussurrei, puxando ele pra um carinho demorado, o barulhinho do riso gostoso dele me fez sorrir.

Dei um banho no Isaac, deixei ele todo confortável, só uma fraldinha, coloquei ele no berço enquanto tomava meu banho de gato.

Desci com ele no colo, e lá estava ela, Tia Cecília, com a panela no fogo, a pia já cheia de ingredientes que eu nem sabia de onde ela tirou e uma blusa florida que gritava "sou tia festeira".

Cecília: Feliz aniversário, minha boneca! — ela falou, se virando e vindo me abraçar com tanta força que quase esmagou o Isaac junto.

Érica: Obrigada pelo carinho tia. — Sorri muito feliz. — Cê tá desde cedo nisso, tia? — perguntei, rindo.

Cecília: Desde ontem planejando! Hoje é dia de celebrar você, E ó, nada de ficar lavando chão, hein, Já falei! — Mas eu sou teimosa.

Depois do café da manhã reforçado com cuscuz temperado, pão frito e bolo de cenoura com chocolate que ela trouxe da casa dela, fui direto pra faxina, Não dava pra comemorar com a casa de pernas pro ar, Cecília resmungou, tentou tomar o rodo da minha mão umas três vezes, mas no fim aceitou com a condição de que depois eu ia ficar quietinha.

Enquanto eu colocava o feijão pra ferver e temperava as coxas de frango, o som da campainha tocou, E olha quem apareceu com um sorriso largo e uma sacola cheia de presentes, Tio Bruno, Veio só no horário de almoço porque ainda tava de plantão no hospital, mas não quis perder, Pegou Isaac no colo como se fosse um troféu de ouro.

Bruno: Parabéns, minha sobrinha guerreira! Você é foda, Érica. — ele disse, rindo, mas com muita emoção, eu for muito também.

Fiquei com o coração apertado de carinho, Os dois ali mimando meu filho, brincando de fazer ele rir enquanto ele babava no ombro de Cecília.

Cecília: Ele tá tão lindo, Érica, E esse sorrisinho? Vai arrancar corações igual a mãe! — Cecília brincou.

O almoço ficou por minha conta, arroz soltinho, feijão com paio, frango assado na manteiga de alho e batatas douradas, E ainda fiz uma salada com manga, que era pra dar um charme especial, Ficou uma delícia, modéstia à parte.

Mais tarde, a campainha tocou de novo, E meu peito até aliviou, era Hellena, Ela tava com o cabelo preso num coque bagunçado e um vestido leve, meio amassado, mas com aquele brilho discreto no olhar, Mesmo com tudo que ela passou, mesmo com as dores que ainda habitavam o peito dela… ela sorriu.

Hellena:Feliz aniversário, minha preferida. — ela disse, me abraçando forte, Por um segundo, senti como se nada tivesse acontecido, Como se minha irmã estivesse inteira de novo.

Érica: Obrigada meu amor, Você veio… — sussurrei, sentindo os olhos arderem.

Hellena: Claro que vim, né, Você é meu lar.
— O sorriso dela era sincero, mas os olhos… ah, eu conheço minha irmã, Não estavam 100% livres, mas estavam tentando, E só isso já valia o mundo.