Os dois lados da moeda.

306 29 121
                                    

Alicia havia chegado em casa com o humor diferente do normal e Germán notou que parecia distante, muito pensativa. Chegou, guardou a pistola no cofre, subiu para a suíte, tomou um banho e desceu para jantar. Tudo no automático, sem ao menos uma palavra ser dita.

O homem a observava comendo o belo fettuccine que havia preparado e que a ruiva costumava adorar e se deliciar, ao contrário daquela noite, pois não ouviu nenhum elogio à respeito dos seus dotes culinários, nenhum sinal de satisfação, nenhuma expressão positiva, nem negativa. Estava indecifrável.

Conhecendo-a bem, o homem, mesmo sem pistas, supôs que havia acontecido algo entre ela e Raquel, pois sabe que, apesar de pegar os piores casos, nunca leva para o pessoal, como se ao sair da delegacia ou da cena de crime, a Inspetora Sierra deixasse de existir e desse lugar a uma Alicia que nem todos conheciam: uma pessoa de verdade, com sentimentos, emoções, decepções... Então, apenas uma pessoa poderia ser responsável pela existência de uma Alicia Sierra cabisbaixa.

—Coloquei pouco queijo?–Perguntou.

Alicia pareceu acordar e diria até que se assustou ao ouvir a voz do homem. Era como se estivesse sozinha, ou quase isso, tendo como única companhia seus pensamentos.

—Como?

—Nada.–Fez uma pausa, limpando a boca com o guardanapo.—Quer me falar como foi o seu dia?

A mulher pensou por instantes, enquanto se olhavam nos olhos.

—O mesmo de sempre.–Mentiu, dando mais uma garfada.

—Já mentiu melhor.–O homem falou, se levantando e levando sua louça suja até a pia.

Depois de satisfeita, se levantou, levando sua louça também até a cozinha para lavar.

—Foi Raquel? Sempre é com algo com ela.–Tomou toda a louça das mãos da mulher, lavando-a, e a ruiva abaixou a cabeça, brincando com as unhas.—O que aconteceu dessa vez? Achei que estivessem melhor, não foi o que me disse?

A mulher mexeu o ombro e torceu a boca, respirando fundo e cruzando os braços, em seguida.

—Melhor do que antes estamos. Já conseguimos trocar mais de três palavras sem haver discussões.–A ruiva guardava o restante da comida, já que Germán exagerou e cozinhou para um batalhão.

—Então?–Perguntou Germán, secando as mãos em um pano de prato.

—Eu acho que fui rápido demais.

—Tentou beijá-la e ela recusou?–A mulher concordou.—Alicia... Que atirada!

A ruiva deu um riso rápido, mas logo voltou a uma expressão preocupada.

—Acha que tudo irá ficar estranho novamente?

—Sinceramente?–Sierra afirmou com a cabeça.—Eu não faço a mínima ideia. Mas pelo o que me fala sobre a marrentinha... Vixe!–Fez uma pausa, notando que não havia ajudado em nada.—Olha, mas tenta pensar positivo. Talvez, ela finja que nem aconteceu.

—E desde quando isso é bom?

O homem pensou melhor e se enrolou nas palavras.

—É, tem razão. Caramba, essa Raquel é chave de cadeia. Que mulher difícil. Deus!

—Se está difícil para você, imagina para mim.

—E você adora, ou não estaria correndo atrás insistentemente. Ela fez você arrear os quatro pneus. Admite. Aliás, nem precisa, está na cara.

Tentativas. || Ralicia [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora