Cerca de duas horas depois, a reunião foi encerrada. Alicia agradeceu internamente e logo levantou-se, consertando a sua toalha. Foi até a bolsa que havia trazido e tirou as duas mudas de roupas de dentro dela, observando com calma e notando que havia cometido a garfe de pôr algumas de suas roupas favoritas, mas que não tinham nada a ver com a fazenda.
Eram peças muito pomposas, não daria para utilizá-las e ficar à vontade, portanto se deu a permissão de abrir o armário de madeira do quarto e procurar algo de Murillo que coubesse em si e fosse mais confortável.
Após um bom tempo à procura, encontrou o que procurava: um short jeans não muito apertado e nem tão curto assim e uma uma regata, que preferiu a da cor preta, mesmo com o risco de sentir bastante calor.
Quando estava colocando os cabides vazios no lugar, algo lhe chamou muito a atenção e afastou o restante, empurrando parte para a direita e parte para a esquerda ao mesmo tempo até sobrar uma única e pequena peça.
O minúsculo macacão de bebê possuía a cor amarela em todo o tecido macio e quentinho com apenas um toque de branco, somente na gola polo, e pertencia àquele modelo de saída de maternidade que cobre até os pezinhos.
A roupinha era encantadora. Alicia tirou-a do suporte de madeira, segurando no seu cabide e rapidamente foi consumida por aquele inigualável cheiro de bebê após o banho. A mulher sorriu triste enquanto tocava à peça com delicadeza, imaginando que provavelmente havia sido da criança que Raquel perdeu há alguns anos.
Alicia's Point Of View.
É estranho pensar que a nossa vida juntas fez uma longa pausa, mas as individuais continuaram a seguir e vivemos diversas histórias paralelas, que hoje após o nosso reencontro parecem sonhos. Ou... Pesadelos.
Já sabia sobre a criança que Raquel perdeu, mas nunca nos aprofundamos no assunto e jamais chegou a doer em mim este fato como dói agora. Essa peça de roupas, neste exato momento, me mostrava o quão real aquilo havia sido e o quanto a fez sangrar e, provavelmente ainda faz. Nem posso imaginar o tamanho do seu sofrimento. Acho que essa é uma dor impossível de ser compreendida ao menos que seja sentida na pele. E eu não senti e jamais sentirei, mas por saber que havia lhe torturado tanto, queimava como quando jogam álcool sobre o seu ralado de bicicleta na infância.
Acho que ser mãe sempre foi algo mais de Raquel, que almejava isso ao menos um pouquinho desde sempre, ainda que não costumasse entrar neste assunto comigo. Era nítido! E acredito que o motivo de não conversarmos a respeito talvez fosse o medo das divergências que pudessem sugir, já que nunca quis que a minha vida se resumisse à criar um ser humano do zero e deixo isso bem claro desde sempre.
Ok, tenho meus afilhados e os amo com toda a minha alma. Claro, eu não odeio crianças, só acho que a vida de mãe não me pertence. Ou... Bom, que talvez seja mais seguro para elas longe de mim. Eu jamais levarei o mínimo jeito para a coisa, afinal, o que eu sei sobre ser mãe, hum? Nunca tive uma.
Mas, por outro lado, Raquel sempre teve uma alma mais doce, paciente e delicada, que fazia com o que todos os pestinhas sempre a amassem. Ela era um imã para as crianças. E todas se apegavam para valer, às vezes até mais do que às suas próprias mães.
Acredito que ela possa ter nascido com um forte instinto materno, diferente de mim. E é por isso que dói tanto... Porque ela com certeza queria isso mais do que qualquer coisa nessa vida. Posso apostar isso com qualquer um.
E eu não sei como esse bebê foi concebido, mas imagino que por métodos clínicos. Ou seja, não foi do acaso, ela buscou, correu atrás, realmente desejou essa criança com todas as suas forças. E acredito conseguir imaginar a sua expressão de felicidade genuína ao ver o positivo no exame de gravidez. Coisa que, se fosse comigo, me deixaria apavorada.
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Tentativas. || Ralicia [AU]
Fanfiction[ EM ANDAMENTO ] Raquel Murillo e Alicia Sierra tinham um relacionamento no período formativo de suas carreiras, que acabou rompido, separando-as. O tempo, principalmente, deu-lhes rumos inimagináveis por suas antigas versões e, agora, no presente-f...