Da água para o vinho.

116 8 70
                                    

Há três dias Raquel precisou viajar a trabalho para outra cidade, pois ela e Alicia investigavam, juntas, um caso muito misterioso e repleto de incógnitas, mas que as levaram a um só destino: Pamplona.

Em tese, o correto seria as duas irem nessa viagem, porém, Sierra acabou passando mal, provavelmente por ficar ansiosa e não se alimentar nada bem, acabando substituindo as refeições por refrigerante ou algumas dessas comidas de rua, que acabaram não caindo muito bem em seu estômago vazio e ultimamente tão sensível.

Assim, Raquel teve que ir sozinha, mesmo preocupada com a namorada. Ligava sempre que estivesse disponível, no mínimo, quatro vezes ao dia e se pudesse contrataria uma babá vinte e quatro horas, mesmo com a ruiva sob a supervisão de Germán. Murillo não o achava grandes coisas e nem competente o suficiente para cuidar de sua amada.

Alicia's Point Of View.

A esse horario Raquel deve estar entrevistando as pessoas, trilhando o caminho e seguindo as pistas que identificamos. Aposto que deve ter descoberto algo que eu daria tudo para ver de perto. Queria tanto ter ido.

Caralho!

Por que eu tinha que passar mal logo por esses dias?

E o pior é que não foi grandes coisas. Eu logo me curei, só bastou ela mandar mensagem falando que havia chegado. Quer dizer, ok que depois eu tive uma tontura ou outra e uma absurda dor de cabeça, mas passou com remédios e muito repouso, já que eu estava entediada, sem nada para fazer, pois o pau no cú do Tamayo me dispensou.

É muito estranho desacostumar e passar a odiar ficar sozinha, mesmo adorando isso antes. Ultimamente meus sentimentos em relação às minhas ideias de mundo e de mim mesma andam bastante confusos e sem nexo, confesso. Tenho mudado tanto.

Suspirei olhando para o teto do quarto enquanto refletia sobre a minha própria vida.

Em cerca de quinze minutos o meu telefone tocou. Era Raquel, nem preciso olhar, porque é sempre ela. Quer dizer, às vezes Germán. Ambos são muito protetores e andam bem preocupados comigo, mesmo que eu já esteja quase renovada, precisando apenas de mais uma soneca para recarregar a bateria.

Deus, agora reparei o quanto tenho dormido, mas ainda assim, esse cansaço nunca passa. É como se eu fosse uma máquina e estivesse trabalhando sem parar, a todo vapor... E agora, após o excesso, estivesse apresentando problemas técnicos. Acho que os trabalhos na delegacia têm me sobrecarregado muito.

—Oi.–Atendi a minha loira.

—Já comeu?–Disse assim que atendi, sem ao menos me cumprimentar.—Algo que não seja carregado de açúcar, gordura ou sal.–Falou antes que eu pudesse responder.

Ela parecia estar super atarefada, fazendo outras coisas e conversando com outras pessoas paralelamente enquanto também falava comigo. Acho que estava com a equipe de investigações em um dos locais do percurso que traçamos.

—Comi salada com verduras, um frango grelhado pálido e sem gosto e arroz, que já é algo meio sem graça também.–Falei sem ânimo nenhum, já que não era uma das minhas comidas favoritas no mundo.—E de sobremesa... Adivinha.–Fingia animação com um sarcástico suspense.—Mais um comprimido para essa dor de cabeça terrível que não sabe se vai de uma vez ou fica me atormentando para sempre.

Ela deu uma risadinha rápida.

—Boa garota!–Falou, parecendo estar em um lugar mais tranquilo, já que estava menos agitada e a chamada mais silenciosa.—Pelo andar das coisas por aqui, volto em dois dias. Ai essa dor de cabeça passa de uma vez.–Brincou usando um tom de voz... safado. Entendi o recado.—Mas se estiver incomodando muito, é melhor que vá ao médico.–Agora falava sério.

Tentativas. || Ralicia [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora