Ponto final ou vírgula?

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Chegava o dia tão esperado: segunda-feira. Raquel finalmente retornaria à delegacia após pouco mais de duas semanas afastada por conta do seu acidente, que apesar de ter tudo para ser fatal, não lhe causou graves ferimentos. Ela teve muita sorte.

Ao entrar na delegacia, a loira foi recebida por flores e palmas de boas-vindas, emocionando-a. Ela era muito querida e a sua ausência era notável. Todos haviam se preocupado quando souberam da notícia e agora estavam aliviados por verem a sua imagem ultrapassando a porta de entrada.

Seus olhos percorreram todo o ambiente em busca de Alicia, mas ela ainda não havia chegado. Além de ter passado do horário por conta da insônia, que só lhe deixou dar uma descansada pela manhã, o trânsito estava terrível por conta de algumas manutenções na estrada. Isso lhe atrasava demais, deixando-a bastante irritada.

Chegou na delegacia com quase duas horas de atraso e seguiu direto para a sala de Tamayo para marcar presença e dar explicações, já que era bem pontual e comprometida. Não queria sujar sua reputação ali.

Ao sair da sala do seu chefe, a ruiva seguiu para a sua sala, pensando se era um bom momento para ir até o escritório de Raquel falar com ela, mas nem teve tempo de tomar uma decisão, pois logo Murillo seguiu com pressa pelos corredores, indo em direção às salas de interrogatório junto aos outros policiais.

Raquel's Point Of View.

Chegava o fim do expediente, mas eu ainda estava aqui super ocupada interrogando alguns suspeitos da investigação que ando fazendo nas últimas semanas. Finalmente avancei. E sentia que estava bem perto da verdade.

A gente conversava sobre o caso como se estivéssemos tomando um café de frente para um lindo jardim. Eu tentava não colocar medo e agir de uma forma mais humana e menos profissional, com bastante informalidades até, para que se sentisse mais à vontade.

Sem contar que... Estamos falando de um assassino em série que retirava a pele do rosto das vítimas para guardar em um porão como troféu. O local era literalmente um museu de máscaras humanas.

Coloquei uma amostra desse material que encontramos embaixo da casa sobre a mesa de ferro ao nosso lado e ele olhou, afastando um pouco o corpo, parecendo se assustar.

—É disso que estamos falando.–Olhei em seus olhos.

—Deve ter sangrado muito.–O suspeito de idade avançada dizia.—Não sei como alguém consegue ouvir os gritos e ainda continuar.–Negava com a cabeça, respirando fundo com uma expressão de indignação.—Eu fico imaginando os gritos, principalmente os das minhas filhas e netas, entende?–Concordei com a cabeça, pegando em sua mão para confortá-lo.—É apavorante!

—É... Eu também fico pensando nas minhas crianças passando por isso e... Bom, é o que me faz estar aqui.–Dei um sorriso leve sem mostrar os dentes.—Então, se souber de alguma coisa, qualquer coisa, pode contar. Estará protegido.

—Eu não sei de nada. Adoraria ajudar, mas não sei.

Após a entrevista com o homem, me retirei da sala de interrogatório limpando as mãos na minha própria roupa sentindo nojo por não só ter encostado naquela pele morta de uma das vítimas, mas também por ter tocado o autor do crime. Era ele.

—E aí, inspetora? Conseguiu tirar alguma coisa dele?–Tamayo perguntava, ansioso.

—Podem prendê-lo.

—Ele confessou?–Se animou.

—Não. Mas é bem possível que seja ele. Sabe de informações do crime que só o autor saberia, como por exemplo o fato das vítimas estarem vivas enquanto eram cortadas. Ele falou dos gritos, porém em momento algum eu mencionei isso na conversa. Sem contar que... Houve muitas expressões exageradas. Me pareceu bem superficial.

Tentativas. || Ralicia [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora