Reticências.

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No dia seguinte, Alicia acordou um pouco desnorteada, na cama com o Germán, ambos ainda sem roupas e de imediato lembrou-se de tudo o que havia acontecido na noite anterior.

Uma parte sua estava arrependida e se sentindo mal por considerar uma traição com Raquel e a outra parte extremamente satisfeita por não sentir que saiu por baixo diante de toda aquela situação. Era confuso. Muito confuso.

Se levantou e foi para o banheiro tomar um banho e vestir uma roupa mais confortável, pois só precisaria trabalhar à tarde, mas antes que entrasse no chuveiro o seu celular tocou e era Tamayo, que lhe dispensava pelo ocorrido com Raquel, pois não achou conveniente Alicia operar a delegacia com a namorada internada. Não estaria focada.

—A-acidente? Raquel?–Alicia sentiu uma tontura ao ouvir o que havia acontecido com a loira e se segurou na pia do banheiro para não cair. Respirou fundo e encarou o espelho.—Claro.–Respondia em um tom tão manso que nem parecia ela.

Desligou a ligação extremamente confusa, tentando associar tudo o que tinha escutado. Preferia não acreditar. Levou as mãos até atrás da cabeça e caminhou de um lado a outro pelo banheiro olhando para cima, sentindo a culpa lhe consumindo. Não sabia o que fazer.

Alicia's Point Of View.

As palavras de Tamayo me causaram um desconforto tão grande que senti como se em questão de segundos tivesse sido transportada para o inferno, para o meu inferno pessoal.

Será que ela está bem?

Ninguém me ligou para dar notícia algumas e não sei até que ponto isso é bom ou ruim. Se bem que... Provavelmente todos me culpam neste exato momento, claro, especialmente a Mônica.

E ok, talvez eu tenha tido uma parcela de culpa na história, porque não deveria tê-la deixado daquela forma. Foi insensível da minha parte por mais que tudo o que eu tivesse fazendo era sentir. E sentir muito. Toda vez que eu lembro das palavras da Victória, daquela foto e da cena dela na baladinha sinto algo me rasgando o peito e queimando tudo por dentro. É tão doloroso.

Mas também foi bem doloroso ter olhado pela janela uma última vez e tê-la visto de joelhos na calçada. Me senti péssima, mas estava cega de raiva. Na verdade, ainda estou, mas é impossível parar de me importar com ela. Eu a amo tanto que até dói. E é por isso que tudo é tão exagerado, tão intenso, tão... porque tem a proporção do meu amor.

O meu medo de perdê-la foi tanto que agora eu realmente posso ter perdido-a para sempre e não sei como eu vou lidar com isso. Não sei como vou me perdoar se algo acontecer à Raquel.

É o momento de deixar meu orgulho e rancor de lado por mais difícil que seja. Parece que minha razão está descendo pela descarga.

Limpei uma lágrima que escorreu pela minha bochecha e logo liguei para Ágata, pois imaginava ser a mais provável de me atender naquele momento. Estava errada. Ela derrubou minha ligação inúmeras vezes.

Se nem ela quer falar comigo... Eu realmente não espero nada das outras.

Logo meu celular tocou e pude ver a foto do nosso afilhado aparecendo na tela. Gelei e senti um nó formando na minha garganta. Ele precisava saber. Quer dizer, eu acho que ele já sabia e precisa de mim, precisa do meu conforto, mas não posso lidar com isso agora. É o que a Raquel gostaria, mas eu não consigo.

Aliás, preciso parar de falar dela no passado. Ela não morreu e nem vai! Isso não pode acontecer. Eu não estou pronta. Nunca vou estar.

Minutos depois, liguei para Júlia e ela me atendeu, mesmo sendo bastante ríspida. Todos pareciam me odiar e a minha culpa só aumentava.

Tentativas. || Ralicia [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora