Dia atípico.

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Algumas semanas se passaram e muita coisa mudou, como por exemplo: Mônica, que voltou de viagem com seus filhos, logo conhecendo seus novos sobrinhos; Silene e Ágata começaram a fazer parte da vida uma da outra ainda mais para que as crianças pudessem se adaptar melhor, ainda que a realidade fosse diferente do comum e os menores entendessem desde o princípio que teriam "mães separadas", pois não eram nada além de... "amigas", assim como suas madrinhas, pois mesmo estando cada vez mais próximas e agindo como um casal, negavam isso a todo custo, principalmente Raquel e por motivos bem específicos que evitava compartilhar com qualquer pessoa além de si mesma.

Raquel's Point Of View.

Ontem, após a delegacia, viemos para a minha casa, pois Ali não estava muito bem e achei melhor que fizéssemos algo juntas. Ok, a intenção era algumas taças de vinho e sexo intenso, mas estávamos muito exaustas, ela principalmente, que acabou dormimos antes mesmo das preliminares. E eu a acompanhei, mas não frustrada, e sim grata, de certa forma, porque o dia havia sido muito cansativo e pesado, após termos que lidar com trotes de atentado contra uma escola de ensino fundamental. Resumindo: além de exaustivo, todo o nosso esforço foi à toa.

Sem contar que Alicia lidava com problemas em sua casa, pois a irmã de Gérman se ofereceu para ficar um dia que agora já havia se transformado em mais de duas semanas, mesmo não sendo bem-vinda e tendo consciência total disso. A mesma havia mexido em toda a rotina, contratado uma empregada nova muito suspeita, mudado algumas coisas na decoração do imóvel, inclusive sumindo com algum porta-retratos bem significativo para o homem... Estresse puro e o tempo todo. E aparentemente não podiam expulsar ela de lá ou dar um basta em seu comportamento por motivos maiores, acredito eu que tenha a ver com herança. Já perguntei para Sierra à respeito mas costuma mudar de assunto, fica inquieta e enfim... Não sei o que pensar sobre isso. Talvez só não seja da minha conta ou algo grande esteja por vir, mas prefiro pensar que ao menos dessa vez devo dar um voto de confiança pra ela.

Sim, mudei a minha opinião. Há algum tempo resolvi virar a página e Alicia tem me mostrado que fiz a escolha certa, que valeu muito a pena lhe dar mais uma chance, ao menos por enquanto. E parece melhorar a cada dia. Mas às vezes tenho dúvidas da sensação que isso me causa. Não parece certo, fico agitada, com a cabeça a mil sempre que penso sobre nós.

Ver o teu rosto tão iluminado e tranquilo, como se fosse a pessoa mais feliz e despreocupada do mundo me traz muita paz, mas acho que também muita culpa. Parece tão esperançosa, ela tem total convicção de que voltaremos, mas não sei se é uma boa opção, pois temos ideias de futuro incrível muito divergentes e não quero ser uma egoísta que a obriga a viver a minha vida. E, como Silene disse há algumas semanas, Alicia faria qualquer coisa por mim neste exato momento para que toda a batalha não tenha sido uma guerra perdida. Ela precisa que todo o esforço tenha valido a pena, que eu seja o grande pote de ouro no fim do arco-íris.

Suspirei fundo ainda observando-a dormir ao meu ladoe desvencilhei-me de todo e qualquer pensamento desconfortante. Não era o momento, teria tempo o suficiente para me entender e tomar uma decisão à respeito, mas depois e não neste exato momento.

Me levantei, seguindo até o controle de temperatura da casa para aumentá-la alguns graus, pois estava um sábado bem friozinho. Em seguida, caminhei até o banheiro, prendendo o cabelo em um coque frouxo para lavar o rosto e escovar os dentes e quando terminei, me despi, tomei uma ducha e vesti-me novamente, trocando a camisola verde musgo de renda por um moletom azul marinho extremamente confortável. Depois disso, guiei-me até a cozinha e lá preparei ovos mexidos, panquecas americanas com gotas de chocolate– especialmente para a viciada em glicose que estava em minha cama–, um café bem forte e cortei algumas frutas para finalizar.

Tentativas. || Ralicia [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora