A Intimação.

284 20 52
                                    

Raquel abriu os olhos e notou os pés de Cinci apoiados em seu rosto e travesseiro, enquanto Cecília dormia sobre a mesma, com a cabeça entre os seus seios, roncando suavemente. Olhou para o alarme na esperança de haver mais tempo para descansar, pois ainda estava exausta, mas as horas viraram. 5:30 a.m. Conseguiu parar o aparelho antes que fizesse um barulho estrondoso e acordasse os pequenos pestinhas.

Hora de levantar e se preparar para mais um dia de trabalho.

"Calma, Murillo! Você ama esse emprego, lembre-se disso."–Dizia para si mesma, se motivando enquanto levantava-se cuidadosamente. Era como se estivesse em um pequeno campo minado com duas granadinhas bem potentes no quesito estrago.

Realizou suas higienes matinais, vestiu seu uniforme, calçou sua bota policial e caminhou até a sala, vendo que Ágata estava lá jogada, praticamente desmaiada com metade do corpo sobre o sofá e a outra no chão, com a televisão ainda ligada em um volume baixíssimo– provavelmente não queria incomodar durante a madrugada. Negou com a cabeça, puxou o controle das mãos da morena e desligou o aparelho, sacudindo-a em seguida para que acordasse. E foi o que fez.

—Ai, o que é hein?–Perguntou com a voz rouca, tentando tampar suas vistas com o antebraço, pois Raquel abria as cortinas.

—Bom dia! Estou indo trabalhar, tem que ficar com as crianças até meio dia. Ou esqueceu que marcamos esse horário com Mônica?

—Eu sei, Raquel, eu sei. Mas precisa abrir a janela assim? Sou sensível a claridade quando acordo, porra.

—Na verdade, quando acorda você é sensível a tudo. Cheia de "não me toque". E eu não posso deixar de abrir as cortinas, o dia está lindo lá fora.–Deu um meio sorriso, olhando através dos vidros das janelas.

—Está apaixonadinha, loirinha?

—Cala a boca!–Revirou os olhos e virou-se para a morena, caminhando em sua direção novamente.—Nada a ver.

—Sei.–Retrucou Ágata em um baixo tom de sarcasmo.

—É só que se eu não fizer isso, você continua aí morta em cima deste sofá ou no chão. Vai assustar minhas crianças. Medo de voltar mais tarde e estar em decomposição ou com bolor.

—Hahaha! Muito engraçadinha.–Disse enquanto Raquel se distanciava, indo para o lado de dentro do balcão da cozinha.—Acordou comediante, hein. Fez um show de stand-up enquanto dormia? E nos seus sonhos foi possível você ter senso de humor?

Se alfinetaram por mais algum tempo, mas logo Ágata levantou e foi escovar os dentes antes de sentar-se à mesa para tomar café com sua amiga.

Estavam conversando sobre como seria o dia das crianças e Raquel dava instruções de como era a rotina deles em sua casa. Quando a loira já havia passado todas as informações, o assunto morreu e ficaram em silêncio por alguns instantes, permitindo que a morena a observasse. Jimenez reparava em toda sua linguagem corporal e apertava os olhos, notando que a loira havia voltado da viagem um tanto diferente.

—O quê?–Raquel perguntou, levando uma xícara de café até a boca.—Por que está me olhando assim? É assustador.

—Eu só estava observando você. Gostei.–Se referia ao lápis de olho que a loira havia passado.—Realçou bastante seu olhar.–Disse sugestiva e piscou.

—Fala logo o que você quer, Ágata!–Revirou os olhos.

A morena bateu palminhas, animadas. Aguardava esse momento.

Tentativas. || Ralicia [AU]Onde histórias criam vida. Descubra agora