Raquel voltava do trabalho e seguia até a casa de Ricardo para buscar Cecília, que não havia tido aula na creche, pois houve um surto de gripe na instituição e dispensaram as crianças por alguns dias, precisando ficar aos cuidados do homem, já que era sua semana se estar com seus filhos e agora a família já não tinha babá.
Ao abrir a porta, Raquel notou imediatamente que o homem estava perdido. Usava um avental sobre o tronco desnudo, uma coroa de princesa quase caindo em seus olhos, cabelo sujo de purê de batata, metade do rosto com uma maquiagem duvidosa e glitter e a outra metade riscado de canetinhas e muito, muito suor. Também estava nervoso, segurando e agitando uma mamadeira com a destra enquanto sua canhota sustentava a garotinha em seu colo, que chorava sem parar, já vermelha e babando, segurando Clarice, sua coelhinha branca de pelúcia, nos bracinhos. O próprio caos.
—Raquel!–O homem ficou aliviado ao vê-la e pareceu agradecer a alguma entidade como se a mulher fosse um anjo mandado.
—O que aconteceu nessa casa?–Perguntou, com a testa franzida, tomando a menor dos braços do homem.—Oi, meu anjinho.
—Eu não sei,–Entraram na residência.—ela só faz chorar como uma sirene de bombeiros.–Bateu a porta atrás de si.—Não quer comer ou dormir... Nem mesmo assistir aquele desenho insuportável que tanto gosta.–Raquel estava prestes a fazer uma pergunta, mas o homem respondeu antes mesmo da loira verbalizar.—E também não está doente.–Se sentaram no sofá.—Só está bastante manhosa, teimosa e malcriada.–Apoiou os cotovelos nas pernas e abaixou a cabeça, negando.—Sem contar que o meu pai não está aqui para me ajudar. Nunca fiquei sozinho com eles, com ela.–Estava completamente desesperado.—Tenho que estar na construtora em meia hora e olha só o meu estado. É impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Não consigo nem fazer minha filha parar de chorar.
—Não é impossível, porque sua ex-mulher faz isso o tempo todo e eu também.
—Como?–Perguntou confuso e olhou para a garotinha que ainda chorava sem parar.—Ela vai me enlouquecer.
Raquel se preocupava com a garotinha e se balançava, ainda sentada, tentando cessar o choro da menor, ninando-a.
—Acontece que, nós, mulheres, somos mais capacitadas e conseguimos fazer quatrocentas coisas ao mesmo tempo. Mas você não tem culpa de ser homem.–Deu dois tapinhas no ombro dele.
—Haha! Muito engraçadinha.
—Já tentou brincar com ela?
O homem fez uma cara de "é óbvio" e apontou para seu rosto maquiado e a coroa em sua cabeça.
—O que acha?
—Eu acho que está uma graça, Ricardinho.
Ricardo revirou os olhos e soltou todo o ar em seus pulmões de uma só vez, coçando a cabeça desesperadamente, em seguida, por conta do nervosismo e do purê de batatas lhe fazendo cócegas enquanto escorria entre os seus fios.
—Calma, calma. Vai lá tomar um banho, se arrumar... Deixa que eu me resolvo com a chefinha.
—Valeu, Raquel! Te amo.–Beijou a testa da mulher e se levantou rapidamente, seguindo para seu quarto.
—Somos só nós agora, mocinha. Já pode me dizer o que tem.–A garotinha apoiou a cabeça no peito de Raquel, ainda chorando e soluçando sem parar.—Ou pode chorar mais.–Sussurrou para si mesma, vendo que seria um longo dia.
A criança chorou por mais algum tempo, mas logo depois acabou cansando e Raquel lhe deu suco de maracujá, que havia acabado de preparar, e funcionou, por partes, para acalmar o serzinho tão genioso e cheio de personalidade que é a sua afilhada.
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Tentativas. || Ralicia [AU]
Fanfiction[ EM ANDAMENTO ] Raquel Murillo e Alicia Sierra tinham um relacionamento no período formativo de suas carreiras, que acabou rompido, separando-as. O tempo, principalmente, deu-lhes rumos inimagináveis por suas antigas versões e, agora, no presente-f...