Livro 3 - O Resgate da Mãe Aborrecida

Epílogo

Em algum lugar dominado pela escuridão de uma neblina escura em uma noite sem luar, um homem loiro de pele clara e corpo esbelto aparentando pouco mais de 30 anos andava com uma brilhante chama em sua mão esquerda, enquanto olhava o peito nu, verificando leves arranhões, assim como nos braços.

— Isso foi divertido, ele era melhor do que o último. — O homem sorria ao andar com o braço direito esticado para baixo, como se estivesse carregando algo.

Até que após alguns minutos chegou em sua nave modesta, a qual se tornou visível, mostrando ser redonda e ter o tamanho de um grande cômodo. O homem então entrou e pareceu deixar algo em uma prateleira que saiu da parede emborrachada.

— Uma nova mensagem. — Uma doce e suave voz feminina avisou, fazendo o loiro se voltar para o centro da nave, para o que poderia ser chamado de "computador", no qual uma esfera branca se localizava junto de um painel.

— De quem? — Ele estranhou. Não costumava receber mensagens quando fazia seus retiros, então deveria ser algo importante.

— Zaad. — A voz pronunciou com doçura, mas era muito difícil sentir algo bom ao se lembrar daquele homem, especialmente daquele rosto...

— Pode reproduzir. — Deu o comando e foi lavar as mãos em uma pia que saiu de um canto na parede, enquanto um holograma em tamanho real de Zaad era criado.

— Programei essa mensagem para ser enviada após 7 dias e sempre a estou adiando, então se em 7 dias não o fiz... Por mais clichê que pareça, é porque estou morto.

— Que bom... — O homem sentia o doce aroma do sabonete líquido.

— Apesar do nosso passado, apesar desta cicatriz que você fez em meu rosto, sempre invejei o seu poder. Agora que estou morto e não tenho mais nada a perder, posso lhe dizer como conseguir o que tanto deseja. A imortalidade.

— Como você teria acesso a isso? — O loiro se virou para o holograma, sabendo que o computador pausava a gravação automaticamente ao perceber a insinuação de sua voz, algo que poderia proporcionar praticamente uma conversa.

— Em todos esses anos, Kara nunca lhe disse sobre os 3 amuletos atlantes que tinha a posse? Amuletos que quando juntos poderiam lhe dar o que tanto deseja? Saiba que pelo menos um deles está na Terra, aos cuidados de um jovem protegido da Andarilha do Tempo, enquanto outro está em Kryan sob os cuidados daquela mulher.

Não sei o que me matou, mas se realmente estou morto, duvido que tenha sido por um ataque repentino da minha doença ou por divergências no trabalho, então imagino que tenha sido pelos triclóides ou alguém ligado a kryniana ou a Andarilha do tempo. Afinal, se a polícia e seus telepatas puzessem as mãos em mim, descobririam a mensagem e a teriam cancelado com o meu acesso alguns dias atrás.

Pena que a pessoa ou pessoas que me mataram não pensaram que minha morte traria um problema muito maior até eles... Seria isso o que chamam de "rir por último"? Se meus pulmões estivessem bons hoje, eu estaria rindo.

De qualquer forma, junto com a mensagem também há arquivos com tudo o que sei sobre os amuletos e espero que faça um bom proveito. Em troca do presente, apenas peço que descubra quem me matou e o mate da pior maneira possível. Acredito que seja um preço pequeno a pagar por esse seu sonho infantil.

— Ser imortal é a coisa mais bela e poderosa do mundo. Pena que seres inferiores como você não consigam entender. Mas está bem, eu mato. Não é como se fizesse alguma diferença para mim.

— Afinal, você é aquele que Enosiac luta para manter a existência em segredo, pois sabem que se um dia retornar, nada nem ninguém poderá detê-lo, Zhien. Ou como é conhecido aqui na Terra, Lúcifer.

— Fazem 18 anos que não vou à Terra, 18 anos que Ana morreu... — Ele fechou os olhos por um momento ao lamentar. — Mas então Enosiac decidiu fingir que eu não existo? Ainda tenho alguns assuntos importantes para tratar, mas quando tiver um tempo livre farei uma visitinha à Grace...  — Ele murmurou.

Em cima da prateleira, tendo seu pescoço cauterizado havia a cabeça de um ser com olhos e cabelos negros como a própria escuridão, dentes afiados e chifres curvados para os lados, lembrando perfeitamente uma coroa.