Castelo de Cartas

Vida nova

O fato era que Win tinha razão em muitos assuntos, começando pelo fato de saber, na maioria das vezes, qual era a melhor resposta em um caso prestes a ser solucionado. Não era à toa que Win Metawin era uma lenda na delegacia, até mesmo Type o respeitava. Trabalhando por oito anos seguidos, no mesmo local, com a mesma equipe, Win tinha motivos para ser o melhor detetive e, provavelmente, a melhor pessoa daquele lugar.

O problema era a solidão que o envolvia quando as coisas se complicavam. Não existia alguém ao seu lado para ajudá-lo a segurar o fardo. Muitas vezes, tudo o que Win queria era um colo ou um ombro amigo. Aquele lado frágil, porém, Win escolhia esconder. Na delegacia, ele era apenas o detetive reservado que preferia não tirar folga. Todos eram muito bons com ele e ele era muito bom com todos. Type gostava de dizer que a equipe da delegacia era uma família e Win não discordava do seu capitão.

Quarenta e oito horas foram mais que suficientes para que a ansiedade de Win se dissipasse. O cansaço desapareceu depois de dormir por mais de dez horas em uma noite sabendo que não precisaria acordar às seis no dia seguinte. Ele seguiu o conselho de Fong e correu no parque mais tarde para sentir um pouco da adrenalina que gostava, ouvindo a playlist favorita repleta de músicas dos anos 2000. Como não fazia há muito tempo, almoçou com calma, no silêncio do apartamento, sem a correria e o barulho da delegacia. Pôde organizar toda a bagunça, tanto a do apartamento, como a dos cantinhos mais escondidos do seu ser. Win não gostava de ficar sozinho, pois sempre se deparava com toda aquela confusão dentro de si, mas, decidiu tirar o dia para colocar os pensamentos e sentimentos no lugar. Juntou as mágoas e rancores que passeavam por sua mente e as guardou no quarto mais escuro, os trancando por lá para serem mais uma vez esquecidos. Depois, assistiu a um filme de ação junto com as suas sequências e dormiu cedo para ter mais tempo para descansar.

Agora, Win estava de volta. Se sentia bem e pronto para voltar ao trabalho. Type o mandou uma mensagem pedindo para que aparecesse na delegacia no horário da tarde, lembrando o detetive do almoço que haviam marcado. Win estava animado com o novo caso que pegaria, não esqueceria o encontro por razão alguma. Algo grande o esperava e daquela vez, ele estava certo de que precisaria estar 200% pronto.

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— Detetive. — Type olhou Win de cima abaixo quando abriu a porta da sua casa para que ele entrasse. Ele estava com o olhar atento e, por ter experiência em estudar expressões faciais, Win entendeu que o capitão estava desconfiado. — Pare de me estudar. — Pediu ele. Type era uma mistura de seriedade com sarcasmo e Win adorava aquilo em sua personalidade, tirando os momentos em que não sabia se o capitão estava falando sério ou apenas brincando.

— Eu estou inteiro. — Rebateu, sorrindo, animado. Ele entrou na casa, respeitador como sempre. As mãos estavam atrás das costas e, mais uma vez, o corpo vestia uma roupa preta. Talvez o Win adolescente e fã de rock dos anos 2000 ainda estivesse muito vivo no corpo do Win adulto. — Com todo o respeito, capitão, você começou a me analisar primeiro.

— Só para conferir se você estava bem.

— Não precisa se preocupar comigo. Já sou bem grandinho e sei me cuidar.

— Nem você está confiante com as suas próprias palavras, Win.

Win seguiu o capitão enquanto andava pelo sobrado, que parecia um lugar enorme por fora, mas apertado por dentro. Móveis rústicos e prateleiras cheias de recordações da família estavam por todo lugar. Havia muitas janelas e a iluminação do sol oferecia um ar aconchegante. O quarto das gêmeas era no andar de cima, mas os brinquedos estavam espalhados por toda a casa. Passando pela sala e vendo os brinquedos de montar junto com algumas fantasias, Win sorriu com carinho ao lembrar das meninas. As filhas de Type adoravam trocar de personalidades e confundir as pessoas. Win caiu nas brincadeiras de Rose e Alice seis vezes ou mais, e nunca perdia a graça.