Colapso

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Quando Metawin se afastou do abraço, Bright sentiu um vazio enorme no peito, como se aquela fosse a última vez que se tocariam por um longo tempo. Sabia que depois que falasse o que estava guardando dentro de si, o que tanto o incomodava, Metawin poderia reagir àquilo se afastando no mesmo instante. Imaginar que nunca mais o teria ao seu lado quase o fez desistir de dizer aquelas palavras, mas ele precisava, ou não ficaria em paz.

— Eu também quero conversar com você. — Disse Metawin, ainda com os dedos no rosto de Bright, tentando enxugar o que estava molhado. — Você precisa saber algo sobre mim que ninguém aqui sabe. E tudo bem se você quiser se afastar depois. Vou entender.

— Ben... — O tocou na nuca, os dedos acarinhando a pele, puxando os fios com leveza. Ele sorriu, triste e apaixonado. Existia combinação pior do que aquela? — É você quem vai se afastar de mim depois de ouvir o que eu tenho a dizer.

— Sinto que nada pode me assustar depois do que eu presenciei nos últimos anos, mas... — Riu. — Você está me assustando agora.

Bright se aproximou para beijá-lo uma última vez antes de se afastar completamente. Era como se quisesse gravar o gosto dele em sua memória. Metawin o puxou pela regata, com a intenção de fazer Bright se deitar por cima do seu corpo. Com o beijo quente, era normal que o tesão aparecesse, mas Bright tinha algo mais importante para resolver. Ele se sentou na cama, levando os cabelos para trás, vendo Metawin fazer o mesmo, se sentando em sua frente com a boca vermelha e o olhar nublado. Bright fechou os olhos com força para não ceder à tentação e depois os abriu, disposto a encarar o que o futuro reservava para si.

Sentados de frente um para o outro, os joelhos se tocaram e o garoto abaixou a cabeça, afastando as mãos quando Metawin tentou tocá-las. Estava com repulsa de si mesmo pelo que iria contar, ainda que não se arrependesse de fato.

— Eu vou falar primeiro. Se você ainda conseguir olhar para a minha cara, eu vou ouvir o que você tem a dizer.

— E como eu não conseguiria olhar para o rosto mais lindo que eu já vi, Bright? Aposto que você está sendo dramático como sempre.

— Eu matei o Somsak.

Bright levantou a cabeça para ter certeza de que Metawin havia escutado a sua confissão. O sorriso estava congelado e os olhos não piscaram por um tempo. Bright quis que ele tivesse qualquer outra reação, não aquela. Aquela era muito mais assustadora. Preferia raiva à decepção.

— O que você disse? — Ele finalmente perguntou, o sorriso se desfazendo, agora com os olhos incrédulos. Estava em choque e Bright o entendia.

— O que você ouviu. A pessoa que ameaçava o Somsak durante todo esse tempo era eu. E fui eu quem sabotei a moto dele. Eu deveria estar na prisão, não a Tontawan. Ela é inocente. E eu não suporto ver que outra pessoa tá pagando por algo que eu fiz. Não era para estar acontecendo isso. Tudo saiu do controle e...

Metawin molhou a garganta e pareceu voltar à realidade. A língua passou pelos lábios mais ressecados pelo nervosismo e o corpo se acomodou melhor na cama. Os joelhos ainda se tocavam. Bright temia a hora em que Win se afastaria de vez. Por mais que ele fosse o seu amor, não achava que era merecedor daquilo. Talvez fosse bom que ficassem um tempo longe um do outro. Ele passaria por cima da saudade se aquilo fosse fazer Metawin perdoá-lo algum dia.

— Bright. — O chamou. Os olhos escuros estavam nele, mais assustados do que antes. — Isso não tem graça.

— Quando eu me apaixonei por você e ficamos mais próximos, decidi parar o que tinha começado. Esqueci essa história de ameaças e resolvi deixar para lá todo o sofrimento que o Somsak me causou, mesmo ele tendo destruído a minha vida. Até uma noite em que eu o vi no laboratório, importunando mais uma aluna. Aquilo foi a gota d'água para mim. Eu tinha que colocar um fim nisso antes que outras meninas tivessem o mesmo destino que a minha mãe teve. Eu estava determinado a esquecer do plano, mas depois do que presenciei, a raiva voltou e eu agi por impulso. Peguei um alicate de corte no laboratório de engenharia, fui até a moto dele e cortei os freios. Ele teve o que merecia. Mas era para tudo ter acabado ali.

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