Aluno exemplar

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Havia algumas coisas que Bright Vachirawit detestava, mas com certeza, a pior delas e a que ele mais evitava, eram as despedidas.

Sair daquela casa estava sendo mais complicado do que ele achou que seria. Viveu ali durante quase vinte anos e, agora, estava indo embora. Daria as costas como se aquele lugar não estivesse cheio de memórias. Memórias boas e ruins. Bright preferia levar consigo as lembranças que o faziam sorrir.

Era como se a casa de primeiro andar não quisesse que Bright fosse realmente embora, mas ela já havia sido alugada e o dinheiro estava agora em sua conta bancária, junto da pensão do pai que recebia todo mês. A mãe não o deixou nada e Bright não se incomodava com aquilo, porque ela foi a pessoa mais importante em sua vida, apesar dos inúmeros problemas que passaram juntos. Pensar na mãe, infelizmente, era sinônimo de lembrar o motivo da morte e de como aconteceu. Alguns detalhes Bright escolhia esquecer.

A questão era que Bright era um garoto forte, e embora a mente estivesse repleta de lembranças que apertassem o peito, era hora de levantar a cabeça, esquecer o passado e seguir em frente. O único jeito de abandonar o passado era aceitar o futuro, que já estava batendo em sua porta. Ir para a universidade, estudar Química e se formar, era o seu plano. Mudar de endereço e viver em um dormitório com um colega de quarto o animava, mesmo que minimamente, assim Bright não se sentiria tão sozinho e ocuparia a cabeça com um novo amigo e uma nova rotina. Estava ansioso. Até sorria. Existia esperanças ali e aquele era o único sentimento que precisava por enquanto.

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Ser perfeito era uma tarefa difícil. Na verdade, era quase impossível, mas Bright gostava de desafios. Entrar na universidade foi fácil. Sempre foi estudioso, estudioso até demais, o típico garoto que fazia questão de tirar notas altas para ver a mãe sorrindo. O Bright de antigamente achava que, se fosse um bom filho, a depressão da pessoa que mais amava desapareceria. Pensando nisso agora, percebia como era um menino tolo.

Não teve problemas para escolher o curso, porque Química era a sua matéria favorita na época do colégio. Bright gostaria de ser um professor porque ensinar parecia uma boa profissão. Não teria dificuldade para se enturmar, porque era extrovertido e adorava conversar. Às vezes, não calava a boca. A expressão era séria na maioria das vezes, como se estivesse com raiva ou chateado por algum motivo. Quem o conhecia entendia o ditado de que as aparências eram capazes de enganar muito bem.

Foi pensando naquilo, em ser perfeito, tentar ser um bom aluno, conhecer e ajudar qualquer estudante ou professor, que Bright se tornou líder estudantil. A ideia era criar um elo não só com a sua turma e os diretores e professores da universidade, mas com outros estudantes e líderes de outras turmas. Ele era adorado agora e não havia ninguém que não conhecesse Bright Vachirawit, o garoto perfeitinho aos olhos de muitos. A sua intenção era boa. Se alguém o olhava com inveja e maldade, não era um problema seu.

Aos dezenove anos, aquela era a sua vida. Estudar e ser uma boa pessoa, só para se sentir melhor consigo mesmo e não cometer os mesmos erros do pai que nem mesmo sabia que vida estava levando. As únicas informações que tinha do homem eram que estava casado com outra mulher e morava com ela e mais dois meninos. Bright sentia vontade de conhecer os irmãos, mas não querer ter contato com o pai impedia aquilo. Não tinha raiva dele, mas mágoa. Sofreu com o divórcio dos pais e sentia desgosto de como ele foi covarde em abandonar a esposa que sempre deu indícios de que sofria de depressão. Por sorte, Bright cuidou dela e esteve ao seu lado até o seu último segundo de vida. Ela era mesmo uma boa mulher, mas se entregou à depressão e consequentemente também ao alcoolismo, usando tudo aquilo como uma forma de analgésico para esquecer o que sentia. Bright a entendia e não a julgou em nenhum momento, porque compreendia os motivos que levaram à mãe a ser daquele jeito. Era um assunto doloroso e Bright preferia não falar ou pensar sobre ele.

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