Linha de chegada

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Bright adorava crianças, mas ele não sabia o porquê. Desde pequeno, tinha facilidade para fazer novas amizades. No começo da adolescência, quando raramente encontrava com os primos pequenos, tinha toda a paciência do mundo para lidar com eles. Já adulto, sempre que esbarrava com uma criança, não deixava de fazer um carinho na cabeça ou apertar uma das bochechas. Talvez estivesse no seu destino ou algo assim, já que o sonho era ser um professor e ensinar Química nas aulas de Ciências para aqueles pequenos.

Era a primeira vez que Bright estava trabalhando como professor. Sem experiências, achou que não daria conta de uma sala cheia de crianças elétricas, mas na verdade, acabou sendo mais fácil do que imaginava. Ele podia sentir que tinha o dom. O dom de ensinar e o de lidar com aquelas pessoinhas que batiam na sua cintura. Depois de estar com Win, dar aula era sem dúvidas a coisa que mais gostava de fazer. Ter os olhos curiosos dos pequenos em cima de si enquanto explicava um dos assuntos da sua matéria não tinha preço. Toda a atenção estava nele. Às vezes, quando o sinal da escola tocava para o intervalo, Bright sorria sozinho, sabendo que escolheu a profissão certa.

Alguns alunos adoravam fazer bagunça, mas dar uma bronca não era do feitio de Bright. Paciente, ele conversava com quem quer que estivesse envolvido e tudo se resolvia em minutos. O professor foi elogiado muitas vezes pela diretora, pelos outros professores e até mesmo pelos pais dos alunos, que alegavam que o rendimento dos filhos estava muito melhor desde que o professor substituto chegou. Por sorte, após a professora que estava substituindo voltar da licença, ele foi contratado. Ele teve muito medo de o dispensarem, que só tivessem o escolhido por causa da indicação da mãe de Dew e não quisessem um ex-presidiário perto dos seus alunos. No dia final do seu contrato temporário, o chamaram para uma reunião em que achava que iria ser dispensado, mas ao invés daquilo, recebeu elogios e um novo contrato para assinar, o de professor efetivo. No que dependesse de Bright, ele nunca abandonaria o seu trabalho, a equipe ou aquele lugar.

Ser amigo dos alunos fazia tudo valer a pena um pouco mais, principalmente quando recebia desenhos ou encontrava cartinhas em cima da sua mesa das meninas que insistiam em dizer como Bright era o professor mais bonito da escola. Quando aquilo acontecia, Bright abria um sorriso. Naquele dia em questão, ele recebeu mais uma carta. Com alguns erros na ortografia, mas ainda não deixava de ser especial. Apesar de ter uma pilha de provas para corrigir e aulas para planejar, Bright desejava chegar em casa para mostrar o carinho em forma de palavras que recebia daqueles alunos para o marido, porque Win sempre perguntava como havia sido o seu dia e ficava alegre quando Bright o contava tudo o que aquelas crianças aprontavam.

Enfim em casa, tendo sido a última vez a voltar de ônibus, já que no dia seguinte pegaria o carro novo na concessionária, Bright encontrou o lugar vazio. Às vezes, Win demorava para chegar do trabalho. De uma forma inexplicável, estava sentindo uma saudade absurda dele. Era inexplicável porque moravam juntos e passavam boa parte do tempo na companhia um do outro, além disso, apesar dos caminhos diferentes, Win fazia questão de dar uma carona a Bright e deixá-lo na porta da escola. O problema era que o detetive estava fazendo horas extras demais na delegacia, isso porque queria conseguir mais folgas com a chegada de Mirian. Não era certo trabalhar demais e deixar a garota nas mãos da sua mãe. Pelo menos no começo, Win queria estar o máximo de tempo possível ao lado dela.

De banho tomado e jantar pronto, Bright se sentou na mesa para começar a corrigir as provas dos alunos. Quase dez minutos depois, com três provas corrigidas, Win apareceu. Não estava cansado pelo rosto sorridente e pelos passos largos que deu até o marido, o beijando na boca e indicando daquela forma que também sentiu a falta dele. Se sentando na mesa, ele fez a pergunta que Bright já esperava.

— E o seu dia?

Win se preocupava com Bright desde quando soube que ele não teve uma vida fácil. Saber se ele teve um dia bom e produtivo, se ele estava bem, se estava cansado ou não, tudo aquilo Win fazia questão de saber.

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