Eu os declaro...

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De longe, Win olhou a casa de Fong. Não estava totalmente queimada, talvez dois ou três cômodos. Quem sabe conseguissem salvar algumas coisas. Móveis, eletrodomésticos, objetos de valor. Mas Win ou Type não estavam preocupados com nada daquilo. Eles queriam ver Fong com vida. De acordo com os bombeiros, ele ainda estava do lado de dentro e ainda havia fogo para apagar e muita fumaça.

A vontade de Win era entrar dentro da casa, atravessar o fogo, a fumaça tóxica e procurar pelo melhor amigo. Ele só não o fez porque Stephanie o segurou pelo braço o tempo todo como se soubesse que a qualquer momento Win correria para dentro daquela bagunça tentando bancar o super-herói. O detetive pediu que Bright ficasse em casa e a contragosto foi o que ele fez. Por mais que quisesse apoiar Win, sabia que não ajudaria em nada indo até o local. Ficaria nervoso com o nervosismo do noivo, apenas.

Observando a extinção do fogo e os bombeiros entrando na casa com máscaras e roupas protetoras, Win pensou em seu casamento. Faltava pouco para que se casasse com Bright e ainda tinha tanta coisa para fazer. Ele nem havia comprado as alianças. Os preparativos estavam inacabados. Ocupado demais com a mente no trabalho e com medo de não conseguir adotar Mirian, o planejamento do casamento atrasou. E tudo bem, porque ninguém ali estava com pressa. Ele já tinha um relacionamento com Bright. Moravam juntos. A única coisa que mudaria era colocar um anel no dedo dele e assinar alguns papeis. Sinceramente, Win não fazia questão de nenhuma cerimônia, mas para oficializar e ter uma confraternização com a família e os amigos reunidos, ele faria aquilo. A questão era que tantas coisas boas estavam para acontecer e sempre que Win achava que algo daria definitivamente certo para si, algum tipo de tragédia ou situação traumática acontecia.

Demorou mais ou menos meia hora para que os bombeiros saíssem de dentro da casa. Win esperou com aflição todos os momentos a seguir. Eles haviam achado Fong, são e salvo. O mundo voltou a girar. Ele abraçou Stephanie, comemorando. Esperaram que os bombeiros colocassem Fong na traseira da ambulância para se aproximarem.

— Você nos deu um susto, Fong. — Type foi o primeiro a falar. Stephanie estava sentada ao lado do namorado, enquanto Win continuou em pé. Estava se sentindo patético por estar chorando, mesmo com o melhor amigo vivo. — Só conseguíamos pensar no pior.

— Se você nos assustar assim novamente, Fong, eu mesma vou matá-lo.

Eles riram da fala de Stephanie.

— Vocês acham mesmo que vão conseguir se livrar de mim? Eu sou a luz daquela delegacia. Vocês não são nada sem mim.

— Você está totalmente certo. — Disse Win, se sentando ao lado dele. O abraçou pelos ombros, apertado, a sensação de choro querendo voltar. — Amamos você, sabia?

— Eu sei, detetive. Também amo vocês.

Type também se aproximou para abraçá-lo, então todos se espremeram em um abraço em grupo até que Fong tossiu e os outros se afastaram, preocupados.

— Vou levar você para o hospital. — Como uma intimação, Stephanie falou.

— Não precisa, bebê.

— Precisa, sim. Você vai fazer um exame para ver se está tudo bem. Você pode ter inalado muita fumaça. Não está ouvindo o quanto você está tossindo?

— Você só está preocupada porque...

— Não se atreva, Fong. — Mandou, ameaçadora. — Eu estou preocupada porque gosto de você, seu idiota, e não porque sou traumatizada por ter passado pela mesma coisa quando era mais nova. Foi por causa de toda aquela fumaça que o meu avô teve uma intoxicação pulmonar e morreu.

Não parecia, mas Stephanie era carinhosa com Fong e o mimava até que se sentisse no céu com comidas feita por si na cozinha da casa dela, presentes no Dia dos Namorados e beijos em horário de trabalho, mas também tinham puxões de orelha quando Fong merecia. Ela não era aquela mulher séria o tempo todo, o problema mesmo era o medo que ela tinha de perder as pessoas que amava, por isso se retraía a maior parte do tempo, não querendo criar laços para não se apegar e acabar precisando se despedir em breve. Mas de Fong ela não conseguiu fugir. Estava tão apegada a ele que mal conseguiu respirar ao ver a casa sendo quase totalmente engolida pelo fogo. Perder o namorado seria como perder uma parte do seu coração. Apesar de todas as roupas pretas que usava, da maquiagem pesada, do sorriso que quase nunca aparecia, das piadas ácidas e do mau-humor constante, ela também conseguia ser doce como um favo de mel.

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