Covardia

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Dizer que Win continuou o mesmo detetive depois de tudo o que passou seria uma mentira. Ele não se considerava mais o grande detetive Win Metawin, embora muitas pessoas ainda o vissem como o melhor daquela delegacia. O problema era que eles não entendiam que Win estava traumatizado. Muitos não acreditavam naquilo. Nem mesmo o próprio Win percebia que precisava de ajuda.

— Bom dia, detetive. — Disse Stephanie, a nova parceira de Fong. Por mais que as coisas pouco a pouco estivessem voltando ao normal, Win e Fong não eram a dupla de antigamente. Claro, eles ainda trabalhavam juntos, mas Fong passava mais tempo com Stephanie, já que se tornaram parceiros quando Win pegou o caso de Somsak. Fora que, agora, eles haviam se tornado um casal. — Detetive?

Win levantou a cabeça, devagar, ouvindo alguém chamá-lo pela segunda vez. Por não ter uma boa noite de sono há muito tempo, o raciocínio estava cada vez mais lento. Definitivamente, ele havia mudado. E para pior. Mal conseguia ouvir alguém chamar o seu nome. Resolver um caso era a pior parte de ter voltado para a sua rotina na delegacia. Não tinha concentração para absolutamente nada. Estava vivendo no automático.

— Oi, Stephanie.

— Sei qual é a resposta, mas vou perguntar mesmo assim. Você está bem?

O detetive deu um sorriso fraco, ladino, quase sem forças para esticar os lábios. Ele encostou as costas na cadeira confortável da delegacia e encarou a mesa bagunçada.

— E você? Está bem? — Ele rebateu a pergunta. — O Fong tira você do sério, pelo que eu soube.

— Bom, eu o amo, então não há muito o que eu possa fazer. — Respondeu ela, se sentando em sua frente. Win desviou o olhar da mesa para a mulher. Estava feliz por Fong ter engatado em um relacionamento sério. Ele merecia ter alguém bom ao seu lado e a pessoa que estava com ele também era sortuda. Ainda que Stephanie fosse a mulher mais durona dali, ela era inteligente, bonita e tinha todas as qualidades para fazer Fong feliz. — Nós temos uma reunião em dez minutos. Você está preparado?

— Qual é o assunto?

Win achou que o assunto já havia sido colocado em pauta em alguma conversa entre os detetives, mas como o cérebro não estava nas melhores condições, acabou esquecendo.

— É só mais um caso que chegou para resolvermos. Se você estiver com outra coisa em mente, podemos ver se o capitão pode dispensá-lo dessa vez.

— Eu preciso ocupar a minha cabeça com alguma coisa, certo? Além do mais, eu não vou deixar você pegar o meu lugar de melhor detetive tão fácil.

Stephanie sorriu para ele, se sentindo melhor consigo mesma por conseguir distrair o detetive. Ela sabia de toda a história. Do caso de Somsak, de Bright, de como tudo acabou. E ela entendia por que Win estava se comportando daquele jeito. Achava que ele precisava de algum tipo de apoio moral, mas não tinha coragem para se intrometer em um assunto que parecia doloroso demais para ele. Talvez ela falasse com Fong para ele tentar ajudar o melhor amigo do seu jeito.

Dez minutos depois, pontualmente, a reunião começou. Type convocou Fong, Stephanie, Win e alguns policiais para a conversa. Como o esperado, Win não prestou atenção. O caso? Não sabia qual era. Não tinha a intenção de saber. Podia sentir o olhar de Fong em cima de si, cheio de pena. Não se importou. Não se importava com mais nada desde que...

— Win. — Ao ouvir a voz do capitão, Win levantou a cabeça rápido com o susto. Type estava em pé, prestes a abrir a porta. Ele pediu que Win o seguisse fazendo um sinal com a cabeça e Win se levantou, indo atrás dele, sabendo que levaria uma bronca pela falta de atenção. Do lado de fora, Win colocou as mãos na cintura e encarou o chão, esperando a advertência. — Escute com atenção o que eu vou falar, detetive. Você vai tirar férias a partir de hoje, sem contestações.

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