Você está preso

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Passamos por alguns momentos cruciais na nossa vida que de tão importantes para nós, às vezes não conseguimos acreditar que eles realmente aconteceram. O primeiro beijo com o coração disparado, a primeira vez se entregando à paixão, terminar o ensino médio, concluir um curso superior. Para Bright, a última opção parecia irreal desde o momento em que pisou na universidade, ainda em Cincinnati, quando era um garoto cheio de sonhos e inseguranças. Não era um rapaz orgulhoso, não tinha vergonha de admitir que era medroso. E ele sentia medo de tantas coisas. De perder Win, de voltar para a cadeia, de nunca mais ver Man, de não conseguir terminar o curso de Química. Mas ele conseguiu. Estava formado. Ou quase. Faltava subir no palco da universidade de Cleveland e pegar o diploma.

Bright estava sentado na segunda fileira de formandos. O pai, a madrasta, os irmãos e Win estavam na primeira fileira de convidados. Fizeram questão de serem uns dos primeiros a chegar para garantirem os lugares na frente e observar de perto um dos momentos mais importantes da vida de quem amavam.

— Eles não vão parar de acenar? — Frank perguntou. Estava sentado ao lado de Bright, se divertindo enquanto via todos animados. — A sua família parece legal.

— Não sei como eles conseguem ter tanta energia. Eu tô uma pilha de nervos e suor. É difícil acreditar que esse dia finalmente chegou.

— Eu sei. Você passou por muita coisa, mas agora é hora de comemorar. Apenas curta o momento.

— É o que eu vou fazer. E o seu irmão?

— Ah, ele deve aparecer daqui a pouco.

Por muito tempo, Bright achou que certos sonhos eram impossíveis de se tornarem reais. Após o longo discurso do representante da turma, ao ouvir o seu nome sendo chamado, andou com passos firmes até onde estavam os seus professores e o reitor, que o parabenizaram e entregaram o seu diploma. Mesmo com os pés em cima do palco, a beca alinhada no corpo, a mão agarrando o diploma indicando a sua formação em Química e controlando toda a emoção que tinha dentro do peito, Bright decidiu caminhar até o microfone. Não era obrigatório que fosse, já que ele agora não era nada mais que um mero aluno, mas ele resolveu surpreender a todos com algumas palavras.

— Oi, pessoal. Eu sou o Bright e... — Soltou um riso, enfrentando a vergonha em falar na frente de tantas pessoas. — Não me preparei para esse momento, porque eu devia ter me formado há alguns anos. Mas algo que aprendi depois de ter voltado a estudar, é o valor que esse diploma tem para mim. Antes, eu o queria para provar algo apenas para mim mesmo. Hoje, tô aqui para olhar nos olhos das pessoas que amo e dizer... — Procurou o olhar de Win na plateia. Ao encontrar, ele prosseguiu. — Eu consegui. Muitos aqui estão se formando pensando na recompensa financeira. E eu não julgo. Sério. Quem não quer poder ter tudo o que deseja? Eu só... Quero que saibam que a maior recompensa é ver que se orgulham de você. E sentir que é amado. Então sigam os seus sonhos, mas nunca virem as costas para quem os apoiam de verdade.

Ao som de alguns aplausos e sendo alvo dos olhos marejados do pai, da madrasta e do noivo, ainda era difícil para ele acreditar que tudo aquilo estava mesmo acontecendo. Todos vibraram ao ver os capelos irem ao ar no final da cerimônia e se reuniram em uma calorosa comemoração. Bright estava indo no caminho certo para ter uma vida digna, finalmente, cada vez mais abandonando o passado que insistia em perturbá-lo.

Mas Bright já deveria saber que, apesar de amar e ser amado verdadeiramente por Win, pelo pai e pela família que ele havia formado, que agora também fazia parte, alguns obstáculos ainda precisavam ser enfrentados. Ou pelo menos mais um. O de conseguir um emprego sendo ex-presidiário. Bright queria ser um professor de Química desde quando percebeu que aquela era a sua matéria favorita no colégio e agora que finalmente poderia fazer aquilo, estava sendo rejeitado por todos os lugares em que deixou o currículo ou fez uma entrevista. Escutava sempre as mesmas palavras.

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