Antes tarde do que nunca

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A primeira coisa que Bright fez quando terminou de jogar a partida de basquete foi verificar o celular. Em geral, ele e Metawin não trocavam tantas mensagens, exceto quando Metawin viajava para visitar os pais, ou quando estavam ocupados demais com provas e seminários e não conseguiam achar tempo para se encontrarem. Naquela noite, porém, Bright recebeu algumas ligações. Todas elas não foram atendidas, já que estava ocupado na quadra. O número era desconhecido. Curioso, o garoto limpou o suor do rosto com a toalha e retornou a ligação. No terceiro toque, um homem atendeu. Bright sentiu como se o coração parasse por um segundo para então depois voltar a bater rapidamente. Ele conhecia aquela voz.

— Oi, filho. — Era praticamente um ultrage que o pai de Bright o chamasse de "filho", porque aquele homem nunca foi um pai para ele. Se divorciou da esposa quando Bright ainda era uma criança. Mal se lembrava de como ele era. Não conseguindo que nenhuma palavra saísse da sua boca, Bright apertou o celular com força até que os dedos doessem. — Bright?

— Como você conseguiu o meu número?

— Você tem o mesmo número desde quando ganhou o primeiro celular. Eu achei o seu contato em uma agenda antiga por aqui. — Bright se manteve em silêncio. Os olhos arderam pelas lágrimas se formando, mas ele foi forte mais uma vez e não deixou que elas caíssem. — Quero saber se podemos nos encontrar.

— Como é que é?

— Por favor. Eu estou pedindo com gentileza. Não quero causar nenhum conflito entre nós, apenas quero ver você.

— Por quê?

— Porque eu sou o seu pai e...

— A última coisa que você é nesse mundo é o meu pai. — O cortou.

— É a única coisa que eu estou pedindo, Bright.

Bright ponderou a ideia. Não queria ver o pai de jeito nenhum. Ele causou tanto sofrimento há tanto tempo que até hoje pensar em toda a angústia pela qual passou o fazia chorar. Bright queria distância daquele homem, mas, também queria saber o que ele queria consigo.

— Tudo bem.

— Eu estou em frente à sua universidade.

— O quê? Que porra. Como você sabe onde eu estudo?

— Eu o procurei nas redes sociais. Não foi difícil descobrir sobre a sua vida. Não que eu esteja atrás de você, longe disso, mas precisamos conversar.

Bright não tinha nada para conversar com o pai. Nenhum assunto se passava pela sua cabeça. Afinal, o que aquele homem queria? Lembrar de todo o tormento que o fez passar? Perguntar sobre a sua mãe? Porque Bright sabia que o pai não fazia ideia de que ela havia morrido durante o seu último ano na escola.

— Se é o que você quer. — Disse o garoto, furioso como há muito tempo não ficava. — Apareço daqui a pouco.

Ele encerrou a ligação e chutou o degrau da arquibancada com raiva. Há muito tempo não sentia aquele tipo de sensação. Aquela fúria. Não era um garoto que sentia todas aquelas coisas desagradáveis, nunca foi, mas por causa do pai e por causa do que o universo colocou em sua vida, ele se tornou assim.

Não se despedindo do time, Bright pendurou a toalha no pescoço e agarrou a garrafa de água, esvaziando metade dela pelo caminho. Praticamente correu até a porta da universidade, longe do seu dormitório. Estava escuro e alguns alunos passavam para lá e para cá. Se aquele homem ousasse fazer alguma maldade consigo, Bright poderia gritar por ajuda ou ele mesmo poderia acabar com a raça daquele maldito.

Para o seu azar, ele estava lá, em pé no meio fio. Bright parou atrás de si e esperou que o pai o notasse. Percebendo a presença de Bright, o homem virou o corpo e sorriu ao ver como Bright havia crescido. Estava até maior que si.

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