Deleites

418 50 122
                                        

O plano de Somsak era terminar de arrumar o laboratório como o bom professor que era, mas uma das suas alunas apareceu trazendo alguns beckers e tubos de ensaio que ela havia utilizado para um experimento. E ele não perdeu a oportunidade de flertar com mais uma garota daquela universidade. O sol já estava indo embora, o local ficava escuro aos poucos. A maioria dos alunos haviam ido para casa ou para os seus dormitórios. Era a oportunidade perfeita para Somsak ter um tempo com a aluna sem que ninguém atrapalhasse ou os pegasse em flagrante, o que poderia manchar a sua tão zelada carreira acadêmica.

Somsak achou que a garota estava ali para flertar consigo de forma indireta, se mostrando difícil para depois ceder. Ela permaneceu ali inocentemente para ajudá-lo a guardar os materiais do laboratório. Claro que, por causa do seu grande ego de cinquentão charmoso, ele não viu a situação por aquela perspectiva e deu em cima dela descaradamente, ainda que ela se mostrasse assustada com as investidas. Os materiais foram desarrumados novamente após esbarrarem em um carrinho com amostras quando ele estava prestes a beijá-la, até que ela se afastou, alegando que Tontawan a alertou para ficar longe do professor. Mesmo que não tivesse acreditado no início, agora ela sabia do que a vizinha de dormitório estava falando.

Ouvindo barulhos de passos no corredor, sendo salva da situação, a garota saiu dali o mais rápido possível. Somsak foi engolido pela raiva. Tontawan destruiria a sua carreira quando menos esperasse enquanto acabava com as suas diversões aos poucos. Não fazendo questão de controlar a raiva, Somsak voltou a arrumar os materiais e, depressa, também saiu da sala. Após tentar ligar para Tontawan diversas vezes sem sucesso, chegando ao estacionamento, havia um bilhete em cima do tanque da sua moto. Ele o pegou com calma e leu o que estava escrito.

"PELA ÚLTIMA VEZ, ME DEIXE EM PAZ"

O professor amassou o papel, o jogando no chão do estacionamento, sabendo que a autora do recado era Tontawan mesmo sem precisar conferir a letra, pois ela era a garota por quem Somsak estava obcecado ultimamente, se divertindo com aquele jogo de caça e caçador.

— Depois de ganhar a minha atenção, depois de eu ter dado presentes e joias, ela não quer mais me encontrar. Quem ela pensa que é para me contrariar assim?

Com pressa e sem olhar para trás, Somsak subiu na moto, ligou o motor, e saiu em disparada para a rua. Estava atrasado para um compromisso com uma das várias alunas com quem mantinha um caso daquela universidade. Se encontrariam em um restaurante em um bairro reservado e depois a noite seria apenas dos dois. Somsak gostava de quando conseguia fisgar alguma aluna fácil. A maioria se fazia de difícil, e quando não cediam, Somsak forçava um pouco mais, chegando até a passar dos limites. Tontawan era uma delas. Se ela não fosse tão bonita, teria desistido dela há muito tempo. Ele se deleitava a importunando.

Agora na estrada, em alta velocidade, com um sorriso presunçoso na boca e pensamentos nojentos sobre o que faria a seguir, Somsak seguiu acelerando a sua moto superesportiva com mais de mil cilindradas, ansioso para chegar em casa, vestir uma roupa elegante, e se encontrar com mais uma garota quase trinta anos mais nova. O trânsito piorou aos poucos com o horário do fim da tarde e Somsak precisou diminuir a velocidade, mas ainda estava com pressa e sem paciência para esperar o sinal ficar livre para passar. Aproveitando alguns sinais que ainda estavam em amarelo, ele seguiu avançando. Faltava apenas um último cruzamento de avenidas movimentadas para que ele finalmente virasse à esquerda e chegasse em casa, então o professor se acalmou. Com o sinal ficando vermelho antes que se aproximasse o suficiente, ele decidiu frear, mas diferente do esperado da sua moto que valia mais do que muitos carros, os freios não responderam. Aquilo o desesperou.

As pessoas diziam que, antes da morte, era possível ver um filme da vida passando pelos olhos. Aconteceu com Somsak quando não conseguiu frear, avançou o sinal vermelho, e foi acertado em cheio por um caminhão em alta velocidade. Somsak lembrou de como viveu uma vida errada e de como machucou as suas alunas. Se arrepender de todas aquelas decisões ruins antes de morrer não foi possível para ele, porque foi impossível resistir ao acidente. Era tarde demais para Somsak, que teve o seu fim ainda sendo um grande filho da puta.

Castelo de CartasOnde histórias criam vida. Descubra agora