Ei, Ben

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Sonolento era a palavra certa para descrever como Win se sentia naquele momento. A rotina mudou completamente e Win sempre deixou claro para si e para qualquer pessoa que mudança não era o seu forte. O horário do despertador mudou para uma hora mais tarde e Win ainda estava tentando se acostumar com a novidade, acordando mais cedo do que o necessário na maioria das vezes. Se revirava na cama até que o despertador o lembrasse que teria que levantar. Não havia mais a caminhada no bosque ou a paz do seu apartamento, nem a sua própria privacidade, já que dividia o quarto com outra pessoa.

O detetive estava há tanto tempo tendo uma vida agitada. Era normal que agora estivesse entediado em uma sala de aula. Sentia falta da correria da delegacia, da adrenalina que sentia resolvendo casos e principalmente do alívio e orgulho quando dava voz de prisão aos culpados, onde ele podia sentir a justiça prevalecendo. Aquele era o seu momento de realização, quando não se arrependia de ter seguido aquela carreira mesmo contra a vontade do pai. Estava até com saudade de segurar uma arma. Das piadas de Fong, dos pedidos do capitão, do barulho do local de trabalho. A sala onde estava era uma completa calmaria. Dew, em sua frente, prestava atenção como se o professor estivesse prestes a falar sobre o maior segredo do mundo, o que não era verdade.

Win estava prestes a fechar os olhos e cochilar com a aula de Sociologia. Recordava-se aos poucos de como estudar era exaustivo. A época em que entrou para a universidade foi diferente comparada a agora, já que naquela época, Win estava louco para aprender tudo o que o curso tinha para oferecer e se formar de uma vez para se tornar o detetive que era hoje. Não fazia ideia de que passar por tudo aquilo de novo seria mil vezes pior do que imaginava, tendo que enfrentar novamente as piores disciplinas. Tudo bem que conseguia responder algumas perguntas vindas da professora sem precisar quebrar a cabeça pensando na resposta certa, mas ficar quase uma hora, em uma sala completamente em silêncio, ouvindo uma professora falar sem parar, devagar, como se ela mesma estivesse prestes a dormir, era uma sacanagem.

Faltou muito pouco para que levantasse da cadeira e gritasse em pura comemoração quando a professora parou de falar sobre a importância da Sociologia no Direito e se despediu dos alunos. Sofrendo por antecedência, Win pensou em faltar a aula da próxima semana. Seria uma tortura aparecer ali novamente. Como se não bastasse, a mulher ainda havia passado um seminário naquele mesmo dia. Se a sala não estivesse silenciosa, Win teria choramingado para que todos ouvissem o quanto estava sofrendo.

— Metawin. — Dew o chamou, ainda sentado em sua frente. O corpo estava virado para Win e ele parecia muito disposto. O detetive sorriu com carinho ao se ver naquele garoto mais uma vez. — Quando quer começar a organizar o seminário?

As duplas haviam sido divididas mais cedo e Win chamou Dew para fazer consigo por ele ser o mais próximo de si em sua turma. Dew aceitou, embora se comunicasse com outros alunos. Ele também sentia que seria melhor que Win fosse a sua dupla, pois era um cara legal e dividiam o quarto, então achou perfeito que trabalhassem juntos.

— Quanto antes melhor. Hoje?

— Fechado. Vou sair para almoçar, podemos nos encontrar na biblioteca mais tarde?

— Claro. Às três?

— Tudo bem. Não quer ir almoçar comigo? Eu achei um restaurante que parece ser bom. E não é longe.

Win negou, alegando que não estava com fome o suficiente para almoçar em um restaurante. Disse que faria um lanche qualquer e Dew se despediu, animado. Win sorriu sozinho ao observá-lo. Era incrível como o garoto o lembrava de si mesmo na adolescência, com toda aquela disposição para estudar, andar pelo campus, sair para se alimentar de forma saudável e se formar. O admirava.

O problema era que Win não estava com fome. As noites de sono estavam sendo péssimas, acabando com toda a sua energia para cuidar do caso, o que era algo que precisaria de toda sua atenção. O horário para acordar e dormir mudou, os exercícios ficaram para trás e consequentemente a alimentação balanceada também. Ele já podia sentir o corpo emagrecendo. Por um segundo, em uma madrugada de insônia, Win pensou em desistir de toda aquela farsa, porque em quase duas semanas fazendo tudo o que podia, não havia achado pistas e nem mesmo esbarrado com Somsak. Talvez outro detetive pudesse dar conta melhor do caso. Mas aí, pensou melhor. Ele só precisava se acostumar com a nova rotina e se empenhar nas investigações. Tudo ficaria bem.

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