Castelo de Cartas

Bem-vindo ao inferno

A viagem acabou sendo cansativa para Win, que apareceu no campus em um horário nada apropriado. Para se despedir dos mais próximos da delegacia, Win fez questão de fazer hora extra no trabalho só para ficar um pouco mais com quem gostava. Sentiria falta do pessoal e do ambiente agora que trabalharia à distância.

Foi na madrugada da quarta para a quinta-feira que Win colocou os pés na universidade. Estaria mentindo se dissesse que não estava nervoso, o que era bobo da sua parte, já que não era um adolescente prestes a começar uma graduação. Ele era Win Metawin, o detetive designado para investigar o que estava ocorrendo naquele lugar. Ou melhor, ele era agora Ben Metawin, ou só Metawin, como preferia. Fong foi quem sugeriu o seu novo nome quando estavam em reunião com o capitão Type. Pensar nele, no capitão, na delegacia e na cidade natal que ficou para trás, fazia o peito apertar de saudade. Estava em Cincinnati não fazia sequer um dia, mas Win já sentia falta da sua vida e da sua rotina. Não era a favor de mudanças e aquela foi a mais drástica que estava enfrentando desde que saiu da casa dos pais para assumir o controle da própria vida.

Definitivamente, não esperava que assim que chegasse alguém o beijaria antes que ele pudesse entrar em seu quarto. O corredor estava escuro e Win sabia que a maioria dos alunos daquele dormitório deveria estar dormindo, o que seria perfeito, pois assim ele não chamaria atenção. Acontece que quando parou frente à porta do seu quarto, cruzou com dois universitários que chegavam bêbados em pleno meio da semana. Vendo aquela cena, Win pensou que nunca havia feito aquele tipo de coisa em sua época de estudante.

Para não ser notado pelos alunos, tentou ser invisível. Aquele não era o momento para conversar, já que estava exausto da viagem. Acabou xingando em tom baixo quando um dos garotos andou até ele. Quando ouviu que era só um pedido para usar o banheiro, Win quase suspirou de alívio. Como estava acontecendo com frequência nos últimos dias, ali estava mais um momento em sua vida que não conseguiu controlar. O garoto conversou consigo e Win decidiu ser simpático, porque fazer amizades era uma das partes essenciais para a sua investigação. Ele só não esperava que aquele papo com alguém que não sabia nem o nome, com as suas vozes mesmo baixas ecoando pelos corredores vazios e escuros naquela madrugada, terminaria com ele sendo beijado na boca.

Estaria mentindo se dissesse que não gostou. Sinceramente, Win não soube exatamente que tipo de sentimento tomou conta de si naquele momento, se era surpresa ou a ansiedade. O fato era que ter sido beijado por aquele veterano foi bom, e se não estivesse 100% focado na investigação envolvendo Somsak, ele procuraria o garoto misterioso para perguntar como se chamava e pediria para trocarem um pouco mais de carinho.

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— Dew Jirawat.

Quando frequentou a universidade em sua adolescência, Win não passou pela necessidade de morar em um dormitório. Apesar das turbulências entre ele e a sua família, morava com os pais na casa que hoje já não existia mais. Ter um colega de quarto era uma novidade e Win não sabia exatamente como se comportar em relação àquilo. Era uma regra que criasse um laço de amizade com Dew? Ter intimidade com o garoto era obrigatório? E afinal, poderia confiar naquela pessoa? Win estava com a arma e o distintivo em uma das malas, e não saber se Dew era confiável ou não e imaginá-lo mexendo em suas coisas, arrepiava a sua espinha.

Ele tentou não pensar no pior. Estendeu a mão para selar uma convivência e sorriu largo para mostrar que era uma pessoa fácil de lidar. Por um segundo, quase disse em voz alta o nome verdadeiro, mas foi esperto e rápido o suficiente para não dar com a língua nos dentes e fazer uma besteira.

— Ben Metawin.

— Você também é calouro?

— Sim, é o meu primeiro ano.