Levei Yelena pra casa, mas nem entrei. Eu disse pra ela que iria me encontrar com meus amigos na praça ali perto antes de correr até o lugar. Dava pra ver a praça com bastante clareza até mesmo dentro de casa. Sabe, cidade pequena.
Quando cheguei, eles estavam espalhados pelos brinquedos do parquinho. Steve estava em um dos balanços, mexendo no celular
Carol estava sentada no topo do trepa-trepa também mexendo no celular. E Peter estava ao seu lado, mas estava calado.— Gente, a Nat chegou! - Carol fala assim que me vê abrindo o portão do parquinho.
Todos olharam pra mim, mas ninguém se mexeu. Povo preguiçoso, parece eu. Fui ao trepa-trepa e sentei ao lado de Peter. Steve foi em nossa direção. Ele se sentou no outro lado do brinquedo, nos obrigando a virar em sua direção.
— Sobre o que vai ser o trabalho de vocês? - Pergunto pra Carol.
— Quero fazer uma história sobre uma mulher independente que precisa lutar contra o machismo na sociedade. - Ela fala isso de um jeito dramático fazendo todos rirem. - Já Steve...
— Eu queria fazer uma história de super herói.
— Isso é pedir por bullying. - Falo e todos riem enquanto ele olhava pra mim como se dissesse "é sério?". É, é sério.
— Eu gostaria de ser um herói. - O loiro fala. - E vocês?
— Não consigo cuidar nem dos meus problemas direito. - Falo de um jeito irônico. - Imagina ter que cuidar dos problemas dos outros? Tô fora.
Todos riram e concordaram. Até que ser a turma dos esquisitos não é tão ruim assim. Enquanto o pessoal da escola fica o dia inteiro trancado dentro de casa sem nem pegar um bronze, nós ficamos conversando e rindo na praça que sempre tá vazia. Único momento do dia que temos paz. A cidade inteira saber sobre nossas sexualidades não ajudava com as relações com nossos pais.
Meus pais até que não falam muito, porque se falassem eu já teria me jogado de um penhasco. Carol já até desistiu de tentar dialogar com eles há muito tempo, já Steve tenta até hoje fazer eles acreditarem que aquilo não era pecado, obviamente sem o menor sucesso. Já Peter... Bem, ele não sabe lidar muito com isso. Não que algum de nós saiba, mas ele briga muito com os pais.
A alegria acabou quando eu vi que horas eram.
— Vou nessa, gente. - Falo antes de descer do brinquedo. - Tá quase na hora de ir na casa de Wanda.
— Também vou. - Peter fala me acompanhando. - O Maximoff vai ficar puto se chegar lá antes de mim.
Nos despedimos e saímos da praça, seguindo caminhos diferentes.
— Boa sorte. - Falamos juntos antes dele seguir na esquerda e eu na direita.
Cheguei na casa de Wanda e apertei a campainha. Ela demorou um pouco, mas finalmente abriu a porta.
— Finalmente! Sabe que horas são?
— Três horas ué. - Falo a olhando como se ela fosse maluca. Ela é, mas segue o roteiro.
— Três horas e cinco minutos! - Não pude conter o riso. - Que foi?
— Vamos só fazer esse trabalho. - Falo entrando antes que ela continuasse com aquela merda. - Oi senhor e senhora Maximoff. - Não queria ser simpática com eles, mas minha mãe me deu educação.
— Ela é Natasha Romanoff. - Wanda fala antes que um deles fizesse essa pergunta. - Vamos fazer um trabalho juntas.
— Seja bem vinda, querida. - Sua mãe disse sorrindo. Eu achei fofo e retribui o sorriso, mas não queria criar muitas expectativas. A mãe de Carol era igual até saber sobre mim e meus amigos.
— Se comportem, meninas. - Digo o mesmo de seu pai, mas ele não estava sorrindo e eu não continuei sorrindo.
— Vem. - Ela fala segurando meu pulso e me puxando até seu quarto.
— Ai! - Quase gritei quando ela finalmente me soltou. - Precisava apertar tão forte?
— Acredite em mim, é melhor do que ouvir meus pais falando sobre como é bom eu fazer novos amigos e blá blá blá. - Fala enquanto ligava o laptop e sentava na cama. Sem olhar pra mim, ela gesticulou para que eu sentasse ao seu lado.
Hesitei por um momento. Ela podia não estar "falando" comigo e me xingaria se eu sentasse em sua preciosa cama.
— Cê não quer sentar? - Me surpreendi com a pergunta e me sentei ao seu lado. - Enfim, tu já tem ideia pra esse trabalho?
— História de amor seria clichê demais?
— Seria, mas podemos fazer isso. Eles não vão avaliar o quão clichê a história é.
Eu estava estranhando sua gentileza, mas ao invés de pensar nisso, fiquei olhando pras paredes do quarto. Tinha uns pôsteres de algumas bandas que eu não conhecia e séries bem héteros, tipo La casa de Papel.
— Vai ser sobre quem? - Olho confusa pra ela, não tinha ouvido porque estava ocupada demais pensando nela assistindo as séries como louca. Não sei porquê aquele pensamento não era ruim. - A história vai ser sobre quem? - Ela repete e eu dou de ombros. - Você é boa nessa matéria, eu tenho certeza que pode pensar em algo.
— Só faço histórias de casais LGBT. - Falo olhando pras minhas mãos, na espera de alguma piada.
— Pode ser. - Quê.
— C-como é? - Eu fiquei tão perplexa que nem conseguia pensar direito, quanto mais falar.
— Eu disse que pode ser. Quem vai sofrer com isso é você. - Ata! Cacete que susto. - Ninguém vai mexer comigo.
— Que susto. Estava pensando que você tinha deixado de ser homofóbica.
Ela parecia querer fazer outro comentário, mas perguntou:
— Então, que nomes você tem em mente?
— Jessie e Sophie. - Falo os primeiros nomes que vieram na minha cabeça. - São inimigas porque Jessie faz bullying com Sophie. Mas as duas se gostam secretamente. Sei que é clichê, mas só consigo pensar nisso no momento.
— Isso é legal. - Ela tava sorrindo ou eu tava chapada? Devia estar chapada. Não me pergunte como eu estava chapada. - Como tem essas ideias?
— Não sei. É um dom.
Ela olhou pra mim e sorriu de novo. Aquilo já estava me assustando. Na verdade, pensar que eu achava aquilo sorriso fofo me assustava BEM mais.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Casal impossível - Wantasha CONCLUÍDA
FanficEU JURO QUE VALE A PENA LER ATÉ O FINAL. Muita sofrência, raiva e vergonha alheia, mas O FINAL É BOM. (atualização de 2023, 2 anos depois) Wanda Maximoff é conhecida como a garota mais homofóbica da escola de Ligonier. Já Natasha Romanoff, é famosa...