Capítulo 2

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- ...contudo, tal unificação se tornaria uma possibilidade real apenas após a Guerra Austro-Prussiana de 1866, da qual a Áustria saiu per... – Henry começou a dizer quando foi interrompido.

- Capitão, eu não estou mais sentindo os dedos do pé. – murmurou Arthur.

- Ah, isso é normal. – o dono dos olhos azuis respondeu. – Se me interromper de novo você vai correr pelo pátio nu, entendeu?

- Sim senhor. – Arthur respondeu imediatamente.

- Como eu ia dizendo, a Áustria foi derrotada e excluída permanentemente dos assuntos alemães, deixando o caminho livre para a Prússia... – o capitão continuou.

Obviamente Arthur não estava escutando nada do que ele dizia, não porque ele era um mau aluno, – apesar de realmente ser – mas fazendo flexões daquela forma ele simplesmente não conseguia se concentrar no que saia da boca de Henry. Como se já não bastasse serem oito horas da noite ele ainda estava na sala de aula sozinho com o capitão, fazendo flexões enquanto Henry sentado sobre suas costas explicava a matéria que Arthur tinha errado na prova.

Já havia se passado dois meses desde seu primeiro dia naquele lugar, o segundo e o terceiro também não foram mais agradáveis que o primeiro. Na verdade todos os dias desde que entrou naquele lugar estavam sendo extremamente exaustivos. Henry o fiscalizava o tempo todo e coisas bobas eram motivo de punições severas, ele pegava no seu pé, qualquer um podia ver isso. Durante aqueles dois meses ele mal tinha dormido, porque passava o dia todo cumprindo punições e a noite toda cumprindo punições por não ter cumprido as primeiras adequadamente. Flexionou os braços de novo e de novo, subindo e descendo com o capitão nas suas costas e por um momento se sentiu aliviado por ele não ser tão pesado.

O motivo de estar ali daquela vez era porque tinha conseguido a proeza de tirar cinco em uma prova de história que o capitão havia aplicado, ele nunca tinha sido bom em matérias que precisavam ser decoradas e não melhoraria agora que frequentava as aulas cansado como um trabalhador rural depois do trabalho.

- Astrophel, em que ano teve início o conflito entre a Prússia e o Segundo Império Francês de Napoleão III? – perguntou o que tinha acabado de dizer, para testar a atenção do recruta.

- 1866? – não tinha certeza, porque não tinha escutado nada, estava mais preocupado com os dedos dos pés que pararam de formigar a alguns minutos.

- Arthur, eu preciso que aprenda mais do que bater e atirar, como espera servir o seu país se não sabe nem a história dele? – o capitão respondeu ao ouvir a resposta obviamente errada.

- Me desculpe senhor, mas tudo o que eu quero é bater e atirar. – ele respondeu balançando a cabeça para que algumas gotas de suor que estavam na ponta do nariz finalmente caíssem.

- Astrophel, quantas flexões eu mandei fazer?

- 300, senhor. – ele respondeu prontamente.

- Em qual você está? – o capitão questionou.

- 230, senhor.

- Ótimo, então comece de novo. – ordenou.

- Sim senhor. – Arthur respondeu entre os dentes.

É claro que tudo o que ele queria no começo era apenas isso, bater e atirar, mas Henry tinha conseguido mudar sua ideia depois da primeira semana o tendo como professor. Arthur Astrophel agora queria ser mais que um simples soldado, queria subir de cargo até que fosse no mínimo Major, queria ver a expressão no rosto de Henry quando isso acontecesse, quando ele estivesse tão alto que o capitão mal o pudesse ver. Queria poder dar ordens a ele e o humilhar exatamente como ele estava fazendo agora, queria fazê-lo chorar.

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