Capítulo 39

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Sven estava escrevendo alguma coisa. Ele sempre estava escrevendo. Heiner ficou alguns minutos imaginando se aquilo tudo eram relatórios, mas obviamente não eram, ninguém tinha que escrever tantos assim. Levou os olhos das mãos dele até seu rosto, desde que inha saído para entregar um suposto relatório a Henry ele estava daquele jeito. Heiner podia ser um idiota, mas tinha boas percepções sobre linguagem corporal, os ombros de Sven estavam levemente caídos, como se ele estivesse cansado, os olhos não se abriam ou brilhavam tanto quanto antes. Seus movimentos pareciam sem magia, diferente dos que fizeram Heiner sonhar com bonequinhos saindo do papel como um perfeito drogado.

- Você está bem? – indagou subitamente.

O enfermeiro parou de repente e demorou mais do que o usual para se virar e fitar o recruta.

- Sim, claro. – ele sorriu de leve, mas não pareceu tão verdadeiro.

Mesmo tendo passado tão pouco tempo com ele era impossível não perceber que Sven sorria espontaneamente de uma forma que Heiner nunca viu um militar sorrir, ele tentava ser simpático, conquistava a confiança das pessoas assim e não aplicando punições severas e enfiando sua patente goela abaixo dos praças. Quando uma pessoa sorri muito você percebe quando ela está feliz ou não, você percebe quando ela só sorri por obrigação.

- Está mentindo, aconteceu alguma coisa? – franziu o cenho, mas não para Sven, na verdade para si mesmo, por se pegar tão curioso a respeito do que afligia o enfermeiro quando não deveria se importar.

- Não, eu...eu... – ele relutou, largou a caneta em cima da mesa e direcionou sua atenção ao recruta. – ...você realmente acha que os homossexuais são doentes?

- O que? Está bravo com o que eu disse? – realmente não tinha considerado aquilo, mas fazia algum sentido agora. – Eu só continuei porque você concordou, se tivesse me mandado calar a boca eu teria calado.

- Eu não mando as pessoas calarem a boca, eu gosto de saber o que elas pensam, na maioria das vezes. – Sven não costumava discutir com pessoas de opinião contrária a sua, apenas as escutava e relevava. – É isso o que você pensa?

- Sim, é o que eu penso. – semicerrou os olhos e fitou o rosto do enfermeiro. – Por que está tão preocupado? Por acaso é gay?

- Não, só estava curioso. – mentiu e se pegou surpreso por fazer isso, não costumava mentir daquele jeito, principalmente sobre a sua sexualidade, mas no momento não ser odiado por Heiner pareceu mais importante do que ser honesto.

- Porra cara, que bom, você me assustou. – suspirou com certo alívio exagerado.

Sven riu de leve e juntou os papéis que estavam em cima da mesa ao perceber que estava quase no horário em que seu expediente diário acabava. Estava surpreso consigo mesmo, e decepcionado também, porque estava mudando seus hábitos somente para que Heiner não o odiasse, para ter a aprovação dele. Não gostava de mentir, muito menos de fingir ser heterossexual, fazer algo de que não gostava somente para agradar alguém...aquilo o preocupava. Riu de leve para si mesmo enquanto juntava suas coisas, com um pouco de desespero. Não, não, não.

- Meu turno será o da noite amanhã, então quem vai ficar aqui contigo durante o dia será Belshoff.

- Belshoff? – tentou se recordar. – Aquela que tem cabelos encaracolados?

- É, ela mesma. – respondeu.

- Bom, não te digo que será um dia triste. – o recruta disse com certo sarcasmo.

- Não...ela é...muito bonita.

Heiner deu um meio sorriso e gesticulou alguns seios grandes no peito, até entreabriu os lábios para dizer algo, mas Arthur e companhia apareceram na porta antes que ele dissesse algo. Sven ficou imensamente agradecido a eles, porque de forma alguma queria ouvir o que Heiner ia dizer sobre os seios da enfermeira.

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