Capítulo 9

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Havia uma grande mansão vitoriana pintada em branco e tons pastéis, mas esse não era o foco da sua atenção. Ele estava correndo em direção ao enorme jardim cercado com labirintos de belos arbustos floridos, era uma tarde bonita e ele podia até mesmo dizer que os raios de sol brilhavam contra as diversas cores do jardim refletindo na paisagem colorida. Também havia uma fonte no meio do jardim, havia três sereias com caudas escamosas compridas e água escorrendo pelos lábios carnudos. Sua irmã mais velha costumava assustá-lo contando histórias sobre a fonte, dizendo que as sereias eram mulheres amaldiçoadas que foram transformadas em pedra por tentarem seduzir um príncipe. Ela também costumava dizer que logo ele se transformaria em pedra também.

Parou de correr e olhou para os lados, assustado, se colocasse a mão no peito e puxasse então conseguiria pegar seu coração e segurá-lo como se fosse uma maçã. Ao fazer uma rápida varredura não encontrou ninguém e apoiou as mãos no joelho para recuperar o fôlego perdido, tinha corrido muito até ali, na verdade estava correndo desde o seu quarto dentro da mansão e descera os lances de escadas praticamente voando, quase sem tocar os degraus. Alguns empregados tentaram segurar, mas Henry era pequeno e magro, facilmente desviou de todos eles, inclusive o mordomo que também tentou apanhá-lo com os longos e magros braços que tinha.

- Achei você! – uma voz gritou furiosa e segurou o braço dele com força.

- Não! Não! – ele gritou o mais alto que um garoto de 14 anos conseguia gritar e isso não era um volume muito modesto. – Me solta, seu porco imundo!

O homem era consideravelmente mais alto que ele, tinha cabelos amarelos como a luz do sol e olhos igualmente dourados, a barba rala no rosto e as rugas também diziam que sua idade estava entre 30 e 40. Era mais forte, era um adulto. Deu um tapa no rosto de Henry, forte o suficiente para fazê-lo virar o rosto.

- Olha como fala seu garotinho mal educado! – ele gritou, a voz estrondosa como um relâmpago.

Henry rapidamente se recuperou do tapa e puxou seu braço com força, mas mesmo assim não conseguiu soltar-se, acabou dando um chute entre as pernas do seu agressor e saiu correndo. Olhou para os lados de novo enquanto corria, tinha que se esconder em algum lugar logo antes que aquele homem voltasse a segui-lo, se ele já estava irritado pelo garoto ter fugido estaria mais ainda quando se recuperasse do chute. Avistou um arbusto de roseira brava, ninguém jamais o procuraria ali. Correu até as plantas e abaixou-se até conseguir se enfiar num pequeno espaço entre um amontoado de flores e os galhos espinhosos das flores. Abraçou as pernas e tapou a boca com a mão para que não deixasse escapar nenhum barulho ou soluço enquanto as lágrimas escorriam por seus olhos.

Não podia acreditar no que estava acontecendo, no que aquele homem tinha insinuado e insistido, não podia acreditar que ele o tinha esbofeteado daquela forma. Ele nunca foi muito gentil com Henry, mas jamais chegou a fazer o que tinha ameaçado naquele dia.

Ouviu de repente um barulho atrás de si e virou-se para olhar o que era, temendo que tivesse sido encontrado, mas ao fazer isso alguém agarrou sua perna e o puxou com força, Henry instintivamente agarrou a primeira coisa que viu: um galho espinhoso de roseira brava. O homem o puxou com vontade, mas ele permaneceu segurando o galho enquanto chorava e gritava, sua mão ardia com o corte e deixava escapar o líquido carmesim que tinha o mesmo tom das rosas. Finalmente o ramo se partiu e ele foi puxado para fora do esconderijo, mas não deixou de usar o ramo que tinha ferido suas mãos para bater no rosto do seu agressor e deixar um corte diagonal no rosto dele.

- Seu pequeno bastardo! – urrou de volta o homem dando-lhe um soco forte no rosto que fez o nariz de Henry sangrar.

O garoto teve a arma arrancada da mão e foi virado de costas sem nenhuma cortesia, começou a gritar mais alto e a se debater, movendo as pernas rapidamente tentando acertar o homem, mas ele não perdeu tempo e se posicionou entre suas pernas, abrindo caminho e separando os joelhos que lutaram para permanecer juntos.

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