Capítulo 32

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Finalmente sexta-feira, não que Samuel tivesse algum plano para seu final de semana, mas só de ter a certeza que não precisaria treinar exaustivamente no dia seguinte já lhe dava uma carga gigantesca de paz de espírito. Fazer flexões nunca foi o seu forte, pular na lama e atirar também não, mas o fato de ser sexta-feira e o capitão ter dito que iriam para a sala de geografia naquela tarde fez Samuel desejar abraça-lo com força.

- Já encontrou esse? – Damien perguntou mostrando o papel com o conjunto de coordenadas para o garoto.

- Sim. – Samuel apontou empolgado para um ponto no mapa grande do país que estava aberto sobre a mesa redonda.

Henry havia separado toda o batalhão em grupos de quatro e dado uma mesa com um mapa grande estendido sobre ela como uma toalha para cada um, algumas coordenadas para cada integrante do grupo e pequenas peças vermelhas como as de jogos de tabuleiros para marcar os pontos certos no mapa. Samuel não se dava muito bem com seus colegas de dormitório, odiava a forma como eles o tratavam como uma criança, principalmente Eldric que insistia em chama-lo de "Sammy" como se fossem próximos o suficiente para isso e o assediava com certa frequência, embora Samuel tivesse ficado irritado em todas elas, e por isso Samuel foi coagido a aceitar a oferta de Damien para fazer parte do grupo dele. Basicamente, quem estava fazendo tudo eram os dois menores, uma vez que Heiner e Arthur discutiam sobre alguma coisa provavelmente fútil, os dois brigavam o tempo todo, mas se davam incrivelmente bem.

- Arthur, já marcou seus pontos? – Samuel perguntou cruzando os braços. – Henry disse que serão dez flexões para cada ponto marcado errado ou não marcado, para todos os integrantes do grupo.

O capitão tinha estipulado um tempo e conferia no relógio a todo instante, Samuel não se importava se Arthur ia fazer mil flexões, mas ele não queria fazer uma vez que era realmente bom naquilo. Samuel não costumava ser um bom recruta quando se tratava de exercícios físicos e talvez medianos em matérias teóricas, mas não havia nada em que ele era melhor do que o campo de estratégias e cálculos, marcar pontos em um mapa não era metade do que ele podia fazer com extrema facilidade, mas aquilo estava se mostrando ser realmente um árduo trabalho para Arthur.

Toda vez que olhava para o louro sabia que ele não era quem ficava atrás das mesas seguras, mas uma das peças no mapa de um oficial de patente alta, mas Arthur não era só o soldado idiota com um dedo frouxo no gatilho, Arthur era o líder que guiaria facilmente batalhões por pura força de vontade em tempos de guerra, o louro não era o cérebro, mas o coração e a motivação que qualquer soldado precisaria para seguir para a morte. Arthur era aquele que faria um belo discurso encorajador antes de um confronto, ele era o oficial que todos amariam e seguiriam.

Virou os olhos em direção à Heiner, ele era um pouco melhor que o louro em matérias teóricas, mas não tinha metade do carisma de Arthur. Heiner seria um ótimo soldado em campo, ele tinha bons atributos físicos, seria um líder mais estratégico e frio, Samuel não podia deixar de compará-lo à um jogador de xadrez que sacrifica o peão para salvar o bispo. Seria muito bom em qualquer papel que exercesse, mas as pessoas não confiariam nele da mesma forma que confiariam em Arthur e não o admirariam de forma alguma, Heiner seria o líder zombado pelos próprios homens, o rei traído em pleno tabuleiro, mas uma peça importante para oficiais de patente alta.

Samuel via a si mesmo atrás de uma mesa com um mapa grande como aquela, movendo batalhões para pontos estratégicos, dando ordens à homens como Heiner e Arthur e formulando acordos para evitar os próprios confrontos, o homem que evitaria guerras, mas cujo nome jamais seria conhecido.

Suspirou, isso tudo supondo tempos de guerra, caso nada acontecesse então desempenhariam as mesmas funções, mas sem muita ação no dia-a-dia, o que não era algo ruim, mas Samuel nunca sonhou em engordar atrás de uma mesa sem ter feito absolutamente nada da sua vida.

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