Capítulo 16

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Já havia se passado uma semana e alguns dias e o soco que Damien tinha levado já começava a ser um assunto desgastado e antigo no quartel, ninguém mais se importava tanto com isso. O que aconteceu foi mais uma troca de favores do que qualquer outra coisa, Damien tinha empurrado o primeiro-tenente na piscina e ele o tinha atingido no rosto, ambos deveriam ser expulsos, mas nada aconteceu porque decidiram que era melhor engolir tudo aquilo de uma vez. O restante dos recrutas também parecia bastante satisfeito com o fato de terem tido o vislumbre de Kazimir sendo repreendido, era incrível a velocidade em que todos estavam se convertendo em malditos sádicos, mas não era algo inédito. Cães que são educados por um lobo logo aprendem a se portar como um, mesmo que isso seja totalmente contra sua natureza.

- Está fazendo errado, comece de novo. – o primeiro-tenente ordenou.

Damien bufou e obedeceu. Desmontou o fuzil de novo e fitou as peças por alguns instantes, não importava quanto tentasse, sempre fazia alguma coisa errada ou demorava demais para montá-lo. Àquela altura já não tinha mais ninguém ali, as mesas já estavam vazias e o restante dos recrutas já tinha ido embora, menos Damien porque o capitão achou que ele ainda não estava bom o suficiente, mesmo assim o próprio Wardraig já tinha ido embora e deixado o primeiro-tenente com ele.

- Que droga Saeger, você é retardado? – ele indagou irritado por também estar ali perdendo seu tempo. – Está fazendo errado de novo.

- Me desculpe senhor. – pediu.

Desmontou novamente o que já tinha feito e pairou as mãos sobre as peças, seus dedos estavam trêmulos e para seus olhos aquelas peças eram todas iguais e não faziam sentido algum.

Krieg bufou cansado e se levantou da cadeira de onde estava, aproximou-se do recruta e cruzou os braços, analisando-o.

- Você não consegue montar porque fica muito preocupado com o tempo. – disse. – Só monte a arma, não se preocupe com o tempo.

Como se fosse fácil assim, Damien semicerrou os olhos e começou a encaixar as peças de novo, não eram muitas e deveria ser consideravelmente fácil montar aquilo para qualquer pessoa, contudo, aparentemente Damien não se encaixava no grupo de pessoas normais. Terminou de montar depois de alguns minutos, vários a mais do que Heiner ou Arthur teriam demorado.

Kazimir olhou para a arma e depois para o rosto do recruta.

- Você tem algum problema cognitivo? – perguntou com escárnio, embora sua expressão fosse totalmente séria. – Essa droga vai desmontar na sua mão quando atirar e você vai ter sorte se perder só um olho. Faça de novo.

- Sim senhor. – respondeu, já estava ficando cansado de repetir aquela frase idiota e submissiva.

Olhou de relance para Kazimir enquanto montava a arma novamente. Os dias se seguiram exatamente como antes daquele soco, embora Damien tivesse que admitir que prestava mais atenção no primeiro-tenente do que em qualquer outra coisa naquele quartel, na verdade vinha fazendo o possível para que ele o notasse.

- Pare. – rosnou e depois pronunciou alguns palavrões na língua paterna e o fitou por alguns instantes.

O primeiro-tenente deu a volta na mesa e ficou ao lado do recruta, atraindo sua atenção para as mãos. Apontou cada peça e começou a montar a arma, lentamente e explicando de novo cada pedaço, embora Damien concordasse com a cabeça e tentasse prestar atenção na explicação seus olhos teimavam em se voltar para o rosto dele enquanto explicava atenciosamente. Era inegável aquela atração que sentia, como um imã sendo atraído pelo ferro ele não podia simplesmente negar e rejeitar o fato de que seu coração batia mais rápido quando Krieg ficava tão perto. Ah, esse cheiro. Damien jamais deixaria de notar o aroma do primeiro-tenente, ele lhe inspirava segurança e o lembrava do modo como Kazimir o tinha aconchegado em seu ombro.

DamageOnde histórias criam vida. Descubra agora