Capítulo 42

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Tinha começado a se sentir mal há alguns minutos, tinha algo errado com seu corpo com certeza. Estava inquieto, seus membros formigavam como se tivessem energia acumulada e Heiner sentia tudo, menos sono ou vontade de ficar ali deitado sem fazer nada. Olhou de relance para o enfermeiro, ele estava balançando a caneta entre os dedos, parecia entediado, na verdade decepcionado. Estava sendo um idiota ao trata-lo daquele jeito e Sven estava sendo um idiota ao fingir que estava tudo bem, era em momentos como aquele que Heiner queria que o médico fosse sincero e escandaloso como Henry, ou no mínimo tão autoritário quanto Kazimir.

- Escuta, Sven, me desculpe por ter sido tão inconveniente, não foi minha intenção atrapalhá-lo daquela forma. – sentou-se na cama, certamente tinha algo errado com seu corpo.

O enfermeiro arqueou as sobrancelhas e o fitou por alguns segundos com uma expressão surpresa no rosto e boca entreaberta.

- O que foi?

- É que você me chamou pelo primeiro nome. – Sven respondeu e imediatamente Heiner virou o rosto para baixo no intuito de esconder as bochechas vermelhas.

- Me desculpe, não foi minha intenção, Tenente. – tentou reparar o dano, mas isso só fez Sven sorrir de leve e menear negativamente.

- Tudo bem, eu não me importo, prefiro que me chame de Sven do que de Tenente. – respondeu. – E não se desculpe por algo sobre o que não tem controle.

- Não ter controle sobe meus pesadelos não justifica tê-lo abraçado daquele jeito ou...arranhado seu pescoço. – ele arqueou uma sobrancelha, de perto ainda era possível ver algumas marcas avermelhadas na pele do enfermeiro.

- Eu não me importo que tenha me abraçado, você só estava com medo. – disse um pouco aliviado por estarem tendo aquela conversa. – E meu pescoço pode melhorar, não é nada que ultrapasse arranhões.

O recruta balançou a cabeça sem muita disposição e então levantou o rosto até fitar Sven de novo, suas bochechas continuavam avermelhadas embora agora o enfermeiro não tivesse com tanta certeza sobre ele só estar envergonhado. Passou os olhos pelo corpo dele e percebeu que seus pelos estavam arrepiados nos braços e as mãos agarravam e apertavam o lençol da cama trêmulas como se estivessem fortemente lutando contra algo crescendo dentro dele.

- Heiner, você está bem?

- Não. – ele nem hesitou ou tentou mentir. – Tem alguma coisa muito errada comigo.

- Fisicamente...ou psicologicamente? – se arriscou a perguntar.

- Os dois. – ele ofegou como se estivesse prestes a explodir e então levou os olhos castanho-esverdeados até os de Sven que o fitou com certa preocupação. – Eu acho que eu quero queimar no inferno.

O enfermeiro voltou os olhos até sua mesa procurando o termômetro entre a sua bagunça pessoal que vinha e ia com ele todos os dias. Sven até tentava ser organizado, mas seus objetos pareciam muito mais felizes e descontraídos quando estavam bagunçados, o Tenente tinha a sensação de que eles estavam brincando entre si e isso era mais agradável do que a frieza de uma mesa rigidamente organizada. Encontrou-o junto com alguns lápis e canetas e rapidamente apanhou o instrumento dirigindo-se até Heiner que parecia ter começado a se desmanchar de repente.

- Como assim queimar no inferno? As pessoas não queimam no inferno a não ser que sejam más. – não era muito religioso, mas pelo menos tinha sido aquilo que seus pai haviam lhe falado.

- Eu sei, é que eu quero fazer algo tão ruim e errado que tenho certeza que vou para lá quando morrer.

Ficou em pé na frente dele e colocou a mão na sua bochecha a fim de ter uma noção sobre o calor dele, o recruta estava mais quente que o normal, mas não parecia febril embora estivesse mesmo aparente que ele não estava agindo como normalmente. O enfermeiro colocou o termômetro ao lado da xícara de café em cima da mesinha junto à cama e tornou a levar sua mão até o rosto de Heiner afim de mantê-lo olhando para si. A expressão dele não era das melhores, ele parecia estar remoendo algo dentro de si e sofrendo com isso, mas de alguma maneira parecia ter noção de que tudo aquilo era verdade, não negava mais, mas repudiava sentir aquilo.

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