Capítulo 30

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Levantou os olhos até o relógio na parede, Samuel não ia aparecer mesmo naquele dia, provavelmente. Hans tinha certeza de que ele apareceria e estava um pouco decepcionado, mas sua vida não costumava ser recheada de vitórias de toda forma, embora estivesse contando com aquela. Suspirou e olhou para os lados, os seus ajudantes e cozinheiros começavam a sair da cozinha e se dirigir para o refeitório, o ruivo já havia comido então não tinha nenhuma tarefa tão importante para fazer enquanto isso.

Cruzou os braços em frente ao peito e firmou os pés no balcão, empurrando-o de forma que ficasse balançando em cima das duas pernas traseiras da cadeira, desafiando a gravidade e o próprio bom senso que um homem da sua idade já deveria ter adquirido. Estava entediado, estava mesmo muito entediado, podia se levantar e ir procurar Sven para conversar sobre alguma coisa, mas de alguma forma sabia que a conversa correria como água em direção a Samuel e o enfermeiro provavelmente não ia querer escutar sobre suas proezas da noite anterior. Apesar de ser um pouco depravado, o Tenente Nikolaevich ainda tinha muitos princípios e sonhos. Eles conversavam muito sobre sonhos, Hans também tivera um, embora isso não importasse muito agora.

Soltou outro longo suspiro daquele de quando você acha que vai se desmanchar tamanha sua desmazela pela vida, ajeitou-se na cadeira e se levantou. Sempre tinha alguém com quem podia conversar sobre todo tipo de putaria sem que o ouvinte ficasse chocado, e o ruivo realmente já tinha inventado algumas coisas para tentar deixa-lo chocado, sem sucesso. Tinha que ser rápido.

Saiu da cozinha e dirigiu-se rapidamente para o refeitório, era um salão grande com janelas de vidro amplas que davam visão para o pátio, o que não era uma visão tão bonita já que não havia nada no pátio além de cimento e alguma grama baixa em pequenos pedaços geométricos, mas as janelas enchiam o salão de luz e davam um contraste bonito com a cena pouco colorida. Todos os recrutas usavam uniformes de tons escuros e as cores mais vibrantes eram as que estavam na comida, e na cabeça do cozinheiro-chefe, é claro. As mesas eram todas de madeira maciça, algumas maiores e outras menores, por algum motivo os lugares pareciam marcados já que as mesmas pessoas sempre sentavam nos mesmos lugares. Hans sabia onde procurar, olhou para uma mesa menor do canto, ainda estava vazia, o que indicava que seu alvo ainda estava se servindo. Melhor ainda.

Dirigiu-se até a mesa do canto e se sentou, não precisou esperar muito já que a pessoa que procurava apesar de ser difícil de se encontrar em uma multidão estava sempre acompanhada por alguém fácil de se localizar. Levantou uma das mãos ao perceber que se aproximavam e deu um tchau para o primeiro-tenente Krieg, o homem franziu o cenho irritado e mostrou o dedo do meio para o cozinheiro que não ficou nem um pouco surpreso. Em resposta, o ruivo juntou a ponta do dedo indicador com a do polegar, fazendo um círculo, e colocou o dedo médio da outra mão lá dentro várias vezes com um sorriso no rosto. Kazimir deu um passo firme na frente, sua testa se enrugou de repente e ele realmente teria voado em cima de Hans se o capitão Wardraig não o tivesse segurado pelo braço e sussurrado alguma coisa para ele. Logo Krieg mudou de rumo e foi para outra mesa enquanto Henry continuou reto até a mesa que Hans estava sentado, aguardando o superior com um sorriso convidativo e olhos brilhantes.

- Você não cresce? - Henry perguntou com o canto dos lábios enquanto puxava uma cadeira para se sentar em frente ao cozinheiro.

- Eu fui amigável, foi ele quem começou com a grosseria. - deu de ombros.

- Hans, não tem que ser amigável com o Kazimir, não tem que olhar para ele, não tem que encostar nele, não tem nem que respirar o mesmo ar que ele. - o capitão disse arqueando uma das sobrancelhas, odiava ter que ficar dando sermão nos dois porque se comportavam como completas crianças perto um do outro. - Nunca vi o Kazimir guardar tanto rancor quanto guarda de você, e eu não acho que seja só por causa do Damien, acho que ele te odeia por que te acha um vagabundo presunçoso.

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