Sven rabiscou mais alguma coisa no papel, desta vez não estava tentando escrever, mas desenhar algo que povoara sua mente desde que ele tinha terminado de escrever seu último conto. Sua letra não era muito boa e somente alguns olhos mais pacientes e treinados conseguiam lê-las, mas o enfermeiro desenhava bem, desde que ninguém o atrapalhasse. Começou pela cabeça, os olhos tinham de estar fechados, a boca levemente aberta para que os dente grandes como espadas pudessem ser vistos e as patas abaixo do queixo, a criatura estava deitada em uma caverna, não sozinha, aninhado em suas asas havia um soldado. Ambos dormiam tranquilamente.
Enquanto traçava o desenho que já estava feito em sua mente ele se lembrou do quanto tinha estado preocupado no dia anterior. Sexta-feira foi o último dia em que viu Heiner e seu próximo plantão foi só no domingo, logo ele passou todo o sábado sem ver o garoto e logo teve o dia livre para tristes especulações. Quando saiu da enfermaria exausto das atividades proibidas com Heiner ele seguiu direto para casa e dormiu assim que encostou na cama, mas na manhã do dia seguinte enquanto tomava seu café da manhã ele se lembrou do que o garoto tinha lhe dito, sobre suas experiências no orfanato. Sven nunca conseguiria passar por tudo aquilo, certamente colapsaria em algum momento quando percebesse que ele era exatamente o que o tinham ensinado a odiar com todas as forças. Jamais suportaria ficar de castigo daquela forma ou apanhar por amar alguém biologicamente igual.
O enfermeiro sempre soube que era homossexual, desde a adolescência, quando seus colegas ficavam de olho nos seios das meninas mais velhas e ele não, mas Sven nunca foi muito preocupado com relacionamentos, mas também não era obcecado por seus estudos. Tinha uma boa memória, conseguia processar tudo o que lhe diziam e raramente estudava, aprendia com facilidade e consequentemente sempre teve notas boas, embora seu objetivo de vida nunca fosse ter um emprego dos sonhos com um salário magnífico. Tudo o que sempre quis foi cuidar da irmã e tê-la para sempre consigo, não importava em trabalhar como caixa de um supermercado, desde que tivesse tempo para ela.
Seus pais tinham se divorciado pouco depois do seu nascimento, sua mãe se casou com outro homem e foi morar do outro lado do país dizendo que preferia pagar a pensão do que cuidar das duas crianças, assim o enfermeiro sempre morou com o pai. Ele era um bom homem, o Sr. Nikolaevich, era formado em direito, mas trabalhava como político desde antes mesmo de Sven nascer e isso só mudou quando ele resolveu se aposentar, trabalhou na prefeitura da mesma cidade a vida toda e até então ainda residia lá. Sven sempre soube que ele não ficaria irritado ou o odiaria, seu pai o aceitaria e o enfermeiro nunca teve medo de admitir que gostava de outros homens por causa disso, mas mesmo assim nunca disse absolutamente nada até os vinte anos de idade simplesmente porque não queria causar problemas para o seu pai. Ele era um político bem visto pela sociedade, talvez ter um filho gay prejudicaria sua imagem e o homem gostava tanto do que fazia que Sven não podia se imaginar estragando a felicidade do seu velho, e ele já outros problemas para se preocupar, como a filha portadora de Síndrome de Down, o enfermeiro só não achou que sua sexualidade fosse tão importante a ponto de interferir na vida alheia por causa disso, então preferiu ficar calado.
Rafaela era três anos mais velha que Sven e ela era a artista por trás da sua personalidade, a menina o tinha moldado daquela forma, se o Tenente era tão calmo, paciente e gay, como diria Hans, era culpa de Rafaela. Primeiro ela cuidou dele quando bebê e lhe mostrou o mundo da forma como enxergava, então quando cresceu Sven passou a preservar o mundo que ela via, protegendo-a do que era ruim e das coisas para as quais ela era cega. Rafaela era a personificação da bondade e Sven era apaixonado pela menina, cuidou dela durante toda sua vida até que finalmente fez 18 anos e teve de decidir o que faria da vida, seu pai o sonhava com um diploma e como sempre o garoto se posicionou de tal forma que não podia deixar de querer ver o sorriso do seu pai. Escolheu enfermagem porque era o que ele basicamente vinha fazendo a vida toda com a irmã era aproximado do que o que seu pai queria: medicina. Dessa forma todos estavam felizes, mas foi necessário contratar uma babá para Rafaela, pois como frequentaria a faculdade o dia todo ele não poderia mais ficar com a irmã.
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Damage
RomanceArthur entrou no exército sem grandes expectativas a respeito do futuro, assim como seus dois companheiros de dormitório, Heiner e Damien. No entanto no primeiro dia quando são apresentados ao seu instrutor, o Capitão Wardraig, Arthur acaba soltando...