Capítulo 17

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Kazimir balançou a cabeça e ficou imóvel e em silêncio enquanto Damien se arrastava sobre seu corpo até conseguir sair do outro lado. O recruta segurou a barra assim que ficou de pé e a puxou para que o primeiro-tenente ficasse livre para se levantar também. O louro apoiou as mãos ao lado do corpo sentindo que o sangue voltava a fluir novamente para os seus braços e quando concluiu que tinha apoio o suficiente se levantou.

De pé ele bateu nas roupas para se livrar da poeira, o depósito estava realmente sujo e provavelmente havia ficado alguma sujeira grudada em sua roupa. Ergueu os olhos e percebeu que Damien tinha se abaixado para pegar as armas caídas no chão, o que era o mais sensato a se fazer no momento.

- Me desculpe por tê-lo feito derrubar isso. – Damien disse subitamente.

O primeiro-tenente sentiu por um momento que a voz dele tinha vacilado. Abaixou-se e estendeu uma das mãos para alcançar uma das armas e ajudá-lo a reunir toda a bagunça de novo, mas o recruta impediu-o.

- Eu derrubei sozinho, me deixe arrumar sozinho. – ele pediu trazendo o fuzil para mais perto de si. – Só... me diga onde quer que eu coloque.

- Perto das outras. – indicou onde havia armas de outros tipos dentro de caixas perto da parede.

Krieg teria achado aquilo uma atitude louvável, qualquer recruta teria admitido culpa, mas provavelmente a maioria teria pedido ajuda e reclamado se não a recebesse. Damien não é qualquer recruta. O pensamento fluiu antes que qualquer coisa dentro da sua mente, até onde sabia Damien realmente era diferente dos outros, mas o que lhe restava descobrir era o quão diferente ele era dos outros.

Fitou-o enquanto ele juntava os fuzis dentro da caixa, o conhecia o suficiente para saber que ele não era do tipo que conseguia ficar calado por muito tempo. Havia explosões dentro da mente dele, em tons cinzentos e chuvosos, Kazimir podia não conseguir ver isso, mas podia ver com perfeição os olhos brilhantes. Não tinha quase nenhuma luz ali dentro, mas o feixe que saia da porta entreaberta acertava os olhos dourados com a precisão de um fuzileiro. Os olhos de Damien eram sempre brilhantes e energéticos, mas brilhavam secos como se de repente ele tivesse colado adesivos rabiscados de castanho pálido nas suas íris.

- Você está bem? – perguntou enquanto o assistia terminando de juntar a tralha.

- Sim, não é a primeira vez que sou rejeitado. – sorriu olhando para seu superior.

Kazimir sentiu como se aquilo tivesse lhe acertado como a pedra que atingiu Golias, não as palavras, mas o sorriso. Aquele sorriso o assustava, o sorriso carregado de lágrimas. Krieg era o motivo de ambos, tanto das lágrimas reprimidas que faziam os olhos de Damien parecerem como os de um mártir quanto do sorriso falso. Por um instante passou por sua cabeça se o verdadeiro motivo dele ter pedido para organizar aquilo sozinho era simplesmente para não ter que correr o risco de encontrar seus olhos com os do primeiro-tenente.

- Damien?

- Senhor? – ele perguntou, sem se dar à decência de abandonar o trabalho por um único segundo.

Kazimir não respondeu, o recruta sequer parecia ter notado que ele usara seu primeiro nome. Não sabia o que sentia ao certo por ele, mas tinha certeza de que a última coisa que queria era ser a causa da tristeza dele.

Rangeu os dentes e se abaixou de novo ao lado dele, Damien estava terminando de recolher os fuzis e amontoá-los no local indicado pelo primeiro-tenente, bem aquilo podia ser feito de novo. Kazimir agarrou-o pela mão que segurava o cano de um dos fuzis e o puxou até que pudesse alcançar seu rosto, fitou-o incerto por um único segundo, hesitante. Os olhos de Damien se abriram com espanto, mas com um impulso de desejo aceitou os lábios de Kazimir quando estes tocaram os seus timidamente e os encorajou a continuar.

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