Capítulo 24

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O capitão esperou que Damien saísse da sala e voltou a fitar Kazimir.

- Por que está me dizendo isso...? – perguntou baixinho, quase sussurrando, mas só estava com medo demais da resposta.

- Porque você estava certo. – respondeu quase em mesmo tom, mas sem conseguir olhar nos orbes azulados dele. – Eu não consegui dormir com ninguém depois daquilo, mas não por causa do que eu vi e sim por causa do que eu deixei acontecer.

Henry encolheu-se, é verdade que ficou muito tempo preocupado com Kazimir, porque foi possível notar que de repente todo o seu interesse em relações amorosas desapareceu, e mesmo que o capitão o tentasse empurrar para cima de algumas garotas ele as rejeitava o que fez com que ele pensasse na hipótese de ter traumatizado seu irmão, mas logo Kazimir começou a namorar então Henry apenas esqueceu aquilo e acreditou estar enganado.

- O que aconteceu não foi culpa sua. – respondeu. – Eu sei que você ficou com nojo de mim depois do...

- Eu não fiquei com nojo de você, eu jamais ficaria, eu fiquei com nojo de mim mesmo. – interrompeu-o imediatamente, surpreso com a suposição dele. – Aquilo aconteceu por culpa minha Henry, eu já sabia.

- Já sabia...?

 - Eu sabia o que seu pai fazia desde que eu tinha quinze anos. – quase mordeu a língua ao dizer. – Eu os vi uma vez, mas não disse nada para ninguém, deixei que continuasse.

Houve um momento de silêncio, longo e Henry por um único segundo imaginou porque Kazimir tinha feito aquilo, mas sequer passou por sua cabeça uma explicação plausível.

- Eu não consigo dormir com ninguém sem me lembrar disso porque foi algo que eu permiti. – quebrou o silêncio. – Eu deixei que seu pai fizesse aquilo com você por anos, eu não era uma criança, eu sabia que era errado e mesmo assim fingi que nada tinha acontecido, deletei o acontecimento da minha memória como se você merecesse passar tudo aquilo porque eu fiquei com medo de dizer o que tinha visto.

Henry semicerrou os olhos e fitou Kazimir um pouco decepcionado, mas não disse nada.

- Que droga Henry, você me agradeceu. – disse. – Eu fiquei calado assistindo seu próprio pai te machucar e você se sentiu salvo quando eu bati nele. Eu deveria ter apanhado da mesma forma que ele por ter ficado calado, eu o fiz sofrer por tanto tempo! – estava completamente decepcionado consigo mesmo e isso não era um sentimento recente. – Eu sou muito pior que o Coronel, eu não deveri...

Henry não o mandou calar a boca nenhuma vez, isso porque acreditava que as pessoas deviam desconfiar que estão falando bobagem demais e é melhor fechar o bico, mas Kazimir estourou o tempo limite para parar de falar e o capitão estava com sono demais para gritar com ele. Não deu um tapa na cara dele, não é porque era gay que tinha de usar de artimanhas femininas, deu logo um lindo e sensual soco no rosto do primeiro-tenente que o fez calar imediatamente e olhar para ele assustado.

- O qu...

- Para. – murmurou apontando para ele, nada melhor do que falar baixinho para colocar um terror. – Para com essa frescura, até pra viadagem tem limite.

Agora sim estava surpreso e assustado.

- Primeiro que o Coronel não é meu pai, segundo que tanto a minha irmã quanto a Elisa sabiam que ele comia e ambos eram bastante adultos para ter feito alguma coisa e não fizeram. – Elisa era a governanta da casa, a que usava aqueles duas pedrinhas azuis nas orelhas todos os dias e não ousou pintar os cabelos nem quando os fios brancos fizeram sua cabeça parecer um gambá. – Você era menor de idade, mesmo que tivesse feito alguma coisa o velho ia ajeitar os pauzinhos pra que você parecesse mentiroso.

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