Capítulo 4

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Henry cruzou os braços e ficou olhando a cena, não fez nada além disso. Arthur começou a falar alguma coisa, mas as palavras se misturaram aos gritos de Damien e aos palavrões de Heiner que ainda não o tinham percebido ali.

O capitão tinha dispensado o restante dos recrutas para o almoço e pediu para que Heiner fosse chamar Damien e Arthur para fazer o mesmo, é claro que eles estavam sendo punidos, mas até mesmo cães precisam comer de vez em quando ou desmaiam de fome. Porém, quando Henry terminou seu almoço percebeu que nenhum dos animais estava no refeitório e resolveu ir ver o que estava acontecendo, o porquê da demora e esperava que houvesse um bom motivo. Na verdade achou que pudesse ter acontecido algo, Kazimir tinha dito que a punição envolvia enxadas e estacas e pensou que algum deles pudesse ter se machucado.

Nenhum dos recrutas recusava o almoço, na verdade era o momento mais aguardado do dia para grande parte deles, logo quando alguém não aparecia para comer logo se podia presumir que havia alguma coisa muita errada.

E tinha.

Ergueu uma sobrancelha, não costumava se alterar com facilidade, fazia sempre o máximo para manter a postura. Henry sempre acerditou que independente do nível social do individuo, manter sempre a calma e a compostura faziam-no se elevar perante os outros e costumava praticar isso durante a maior parte da sua vida. No entanto até o mais sério sujeito não consegue camuflar as emoções perfeitamente mesmo que tente e desde que seus olhos tinham encontrado a imagem dos três homens seminus batendo uns nos outros enquanto gritavam coisas desconexas Henry estava se segurando. Encarou como um exercício, um teste de paciência para vê quanto tempo ele aguentaria sem se alterar. Estava sendo difícil. Estava sendo muito difícil.

O capitão havia abdicado parte do seu tempo de descanso imaginando se algo havia acontecido com aqueles recrutas, porque apesar de odiar todos eles – Arthur um pouco mais que o restante – eles ainda eram sua responsabilidade e, além disso, não queria pagar indenização para um vagabundo aleijado pelo resto da vida dele. Henry gostava do seu salário e não queria dividi-lo com ninguém, já tinha sido difícil o bastante chegar até aquele cargo para poder finalmente merecê-lo.

A conclusão é que Henry tinha perdido seu tempo, seu precioso tempo para então chegar até ali e ver que estavam até se divertindo bastante. O capitão tinha um conceito de diversão um pouco diferente do comum, mas Damien realmente estava apanhando muito ali e suas costas chegavam a já estar vermelhas.

- Calem a boca! – gritou. – Eu não acredito que perdi meu tempo vindo até aqui quando vocês estão brincando na lama feito animais!

Os três se calaram imediatamente e fitaram o capitão surpresos, nenhum deles ainda o tinha visto gritar porque Henry, como dito acima, gostava de se manter inexpressivo porque fazendo isso podia demonstrar sua indiferença com respeito as outras pessoas sem abrir a boca. Vê-lo gritando tão cheio de ira daquela forma era algo exclusivo para apenas alguns.

- Será que é tão difícil acatar uma simples ordem?! – continuou em tom alto, estava realmente revoltado. – O primeiro-tenente mandou vocês abrirem valas e vocês fazem essa... – ele gesticulou com a mão procurando uma palavra. –... Orgia!

- Isso n... – Heiner começou a dizer.

- Eu mandei calar a boca! – Henry apontou para ele, de um modo que fez o recruta sentir um frio pela espinha. – Mas que droga, se eu soubesse que as punições eram assim tão divertidas eu teria participado delas desde o começo!

Na verdade se soubesse que eles faziam aquilo teria supervisionado todas as punições pessoalmente.

Nenhum deles disse nada ou moveu um músculo, na verdade Damien e Heiner estavam olhando para os próprios pés um pouco envergonhados, Arthur, no entanto estava com a cabeça levantada, também não ousou se mover, mas a cabeça estava levantada. Henry deu um passo a frente na direção dele, não importava o que dissesse e quanto o punisse, aquele bastardo sempre o fitava nos olhos desafiando-o em todas vezes. Arthur sabia que estava errado, mas continuava com o queixo em pé apoiado no orgulho gigantesco.

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