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A data do casamento se fixou para a semana seguinte, e Louis chegou à soleira dos Styles às dez em ponto da manhã designada para converter Harry em seu legítimo esposo. O plano parecia muito simples: um matrimônio rápido, e passaria uns quantos meses cuidando de Harry, e logo devolveria o jovem para a casa de seus pais. O que poderia sair mal? A Louis parecia que a resposta a esta pergunta era: tudo.

No instante em que entrou na casa, começou a ter dúvidas, muitíssimas dúvidas. Como um menino curioso, obrigado a subir ao andar de cima quando tinha convidados em casa, Harry se encontrava sentado no patamar que dava ao saguão. Seu pequeno rosto estava emoldurado pelos balaústres de mogno e seus olhos estavam exageradamente abertos pela perplexidade, enquanto observava tudo o que estava se passando abaixo.

O reverendo Widlow, o pastor que iria oficializar a cerimônia, tinha chegado apenas uns segundos antes de Louis e um criado o conduziu ao salão. Dois peões transportavam um dos baús de Harry para o andar de baixo. Criadas corriam daqui para lá. Qualquer um poderia perceber que algo fora do comum estava a ponto de acontecer ali.

Quando Louis entrou no saguão, Harry ficou completamente paralisado e seu rosto pareceu perder até a última gota de sangue. Não precisava ser um gênio para compreender que o pobre menino acreditava que era Sebastian. Dada sua incapacidade intelectual, ele não sabia como tirá-lo desse engano. Como tanto gostava que as pessoas lhe lembrassem que era a viva imagem de seu irmão. A Louis não parecia que a semelhança fosse tanto; mas para Harry, que sem dúvida recordava tudo relacionado com Sebastian com uma imagem imprecisa, de pesadelo, as diferenças entre eles não pareciam ser tão evidentes.

Temeroso de que o noivo sofresse um ataque de pânico, Louis parou em seco. Até a uma distância de sete metros, ele podia sentir o medo dele. Eletrizante, flutuava no ar que havia entre ambos, lhe deixando arrepiado. Com seu metro oitenta e oito de estatura, o criador de cavalos era uma cabeça mais alto que a maioria dos homens. Por uma infinidade de razões, em distintas ocasiões desejou ser mais baixo, mas nunca tanto como naquele momento. Tirou o chapéu antes de entrar na casa, de maneira que naquele instante não podia tirar o chapéu de repente para parecer mais baixo. A julgar pelo terror que se refletia nos olhos de Harry, encurvar os ombros tampouco lhe estava ajudando muito. Era um homem grande. Havia muito pouco que pudesse fazer para ocultar esse fato.

Com um garoto como Harry, que tinha todas as razões do mundo para ficar assustado, este era um indiscutível ponto em contra. Se ele fosse capaz de falar, de entender, Louis teria podido tranquilizá-lo. Tal e como estavam as coisas, tudo o que podia fazer era ficar ali e tentar expressar com seu olhar o que não podia lhe dizer com palavras; concretamente, que ele não era Sebastian e que não tinha sido talhado com a mesma faca que seu irmão. A ele nunca lhe ocorreria lhe fazer mal, nem tampouco permitiria que nenhuma outra pessoa o fizesse.

— Olá, Harry — disse ao fim em voz baixa.

Quando Louis falou, ele passou a fixar toda sua atenção na boca dele, e uma expressão de absoluto desconcerto cruzou seu rosto. A alma de Louis caiu aos pés, pois esperou que pudesse entender ao menos umas poucas palavras. Convencido de que não era assim,colocou as mãos nos bolsos de sua calça e fechou os punhos. A maneira como ele o olhava fazia com que se sentisse como um monstro. Um monstro gigante. Esboçou o que esperava que fosse um sorriso de aparência inofensiva, mas sentia seu rosto tão rígido que temia que, mas bem parecesse uma careta. Se por acaso Harry pudesse perceber que ele não era Sebastian se conseguisse vê-lo bem, aproximou-se um pouco mais.

Por alguma razão, ele, que nunca o teve tão perto, não o tinha imaginado tão miúdo. Tinha os ombros estreitos, os pés pequenos e os membros frágeis. Duvidava de que pesasse sequer 55 quilos, com roupa e tudo. Ao longo dos anos, conheceu várias mulheres que poderia descrever como delicadas, mas inclusive este parecia ser um adjetivo muito forte para Harry. Recordava a uma figura de cristal delicado. Seu rosto tinha a forma de um coração, seus traços estavam finamente cinzelados e eram quase perfeitos. O nariz, pequeno e reto, nascia entre as sobrancelhas negras e elegantemente arqueadas. Quando ele se aproximou, ele mudou ligeiramente de posição. Pela tensão de todo seu corpo, supôs que o rapaz estava disposto a sair correndo se fizesse algum movimento brusco.

Harry's Song - Adaptação Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora