Louis permaneceu imóvel com um pé apoiado no último degrau do alpendre dos Styles. Escrutinou os arbustos com o olhar para tentar ver o jovem uma vez mais. A espessa folhagem frustrou esta tentativa. De repente, chegou a seus ouvidos um débil ofego, e os arbustos começaram a balançar-se. Jogando o peso de seu corpo para trás, viu uma mancha branca. Imediatamente ele saiu de supetão dos arbustos. Seu corpo magro parecia flutuar sobre uma nuvem.
— Não te farei mal, Harry. Não tenha medo. — antes que suas palavras se apagassem por completo, ele já tinha desaparecido no espesso mato que rodeava o jardim — Maldição!
Convencido de que corria perigo ao andar sozinho de noite pelo bosque, Louis esteve a ponto de ir atrás dele. Logo repensou e mudou de ideia. Era evidente que acreditava que ele era Sebastian, e o terror que lhe produzia o faria correr com todas suas forças. Embora conseguisse pegá-lo, duvidava que pudesse lhe fazer entender que não tinha a intenção de lhe fazer mal algum. Pobre criatura. Já teve que carregar uma cruz muito pesada em sua vida antes que Sebastian lhe acrescentasse novas angústias. Louis não queria agravar seus problemas lhe dando um susto de morte. Era muito possível que não pudesse entender o que lhe tinha acontecido naquele dia, nem tampouco que era pouco provável que aquilo voltasse a ocorrer.
Moveu a cabeça com tristeza e continuou subindo as escadas. Deus santo. Só a ideia de que aquela pobre criancinha acreditasse que ele era o violador fazia com que Louis quisesse retornar correndo para casa para dar a Sebastian a surra de sua vida. Sua indômita ira lhe fez bater na porta dos Styles com mais força da que teria empregado normalmente. O sangue sempre falava mais alto e por esta razão Louis não queria ver seu irmão balançando-se no extremo de uma corda. Mas, além disso, se pegassem Sebastian, iria ter muitíssimos problemas.
Anne Styles, a esposa do juiz, abriu-lhe a porta. Surpreendeu-lhe ligeiramente que não foi uma criada quem lhe fez passar, mas em seguida compreendeu que aquela noite era excepcional na vida daquela família, que eram tempos que se impunham a discrição e os murmúrios. Sem dúvida alguma, o fato de ter um filho com atraso mental já era o suficientemente difícil. Se a notícia se propagasse que tinham violentado o jovem, os rumores nunca deixariam que os Styles esquecessem o acontecido. Sem dúvida, tinham dado o dia livre a todos os empregados para certificar-se de que isto não acontecesse.
Louis pensou que era uma pena que os Styles tivessem que ocupar-se deste tipo de assuntos em um momento semelhante. Mas supunha que isto era muito normal. Apesar de que a maioria das pessoas era bastante pormenorizada quando se tratava de deficiências, não faltavam os indivíduos de mentalidade fechada. Embora seus pais nunca levassem Harry ao povoado, nem tampouco deixavam que as visitas o vissem, Louis ouviu dizer que algumas damas tinham desprezado Anne em mais de uma ocasião por causa de seu filho. Também se murmurava que as três filhas dos Styles raras vezes iam à casa de seus pais, e que isto não se devia a distância, como esta família sustentava, mas sim a que seus maridos não se sentiam a gosto na presença de Harry.
Embora impecavelmente arrumada, com seu vestido de alpaca verde e seu cabelo com alguns fios grisalhos preso em um perfeito coque no alto da cabeça, Anne parecia esgotada. Seus olhos verdes estavam inchados de tanto chorar. O rosto delicadamente esculpido mostrava sua lividez, a pele tirante sobre as maçãs do rosto salientes, a boca finamente desenhada, franzida e rodeada por duas covinhas profundas. Sobressaltou-se ao vê-lo ali, mas conseguiu dissimular muito bem. O único sinal delator era o nervoso movimento com o que seus dedos puxavam a saia.
— Senhor Tomlinson. — Inclinou a cabeça ao dirigir-se a ele. Sua atitude era séria e formal — A que devemos esta... Honra?
Parecia como se pronunciar esta última palavra lhe tivesse produzido náuseas. Mas isto era natural. Os Tomlinson não deviam estar no primeiro lugar de suas preferências naquele momento. Imaginava que seu mais veemente desejo seria lhe arrancar os olhos com as unhas. Se Harry fosse seu filho, assim é como se sentiria ele. Furioso. Irado. Sedento de vingança.
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Harry's Song - Adaptação Larry Stylinson
RandomHarry Styles vive em um mundo solitário em que ninguém pode entrar e compreender. Tão delicado e belo como as doces flores da primavera de Oregon, é rejeitado por um povo que interpreta de maneira equivocada sua aflição. Porém, esta crueldade não po...