O tempo, ao menos tal e como outros o interpretavam, era um conceito que Harry não entendia. Para ele não existiam os relógios, os horários nem os calendários para marcar os dias, as semanas e os meses. Ele só sabia que os longos e lentos dias da época das mariposas eram mais curtos, que as folhas das árvores começavam a tingir-se de outra cor e que o ar era cada vez mais frio. A estação chuvosa se aproximava e ele podia senti-lo em seus ossos. Mas pela primeira vez em sua vida este pensamento não o deprimiu. A casa de Louis, diferente da de seus pais, era um lugar cheio de emoções e descobertas.
Passava todas as horas dos dias sentado em sua cama, tocando a flauta. Quando se aborrecia , podia desenhar tudo o que queria, pois Louis descobriu que gostava de fazê-lo e lhe tinha dado lápis-carvão e blocos de papel de desenho. Por outra parte, sua mãe o visitava com muita frequência, em geral pelas tardes. Sua mãe estava aprendendo a ler sistematicamente os lábios e pela primeira vez em muitos anos, Harry tinha conseguido estabelecer certa comunicação com ela.
Ocupado com todas estas atividades, já não temia ver-se obrigado a permanecer na casa. Mas na realidade não tinha por que fazê-lo. Além dos materiais de desenho, Louis lhe tinha dado um artefato de aspecto bastante estranho que ele chamava guarda-chuva e que Harry comparava com um teto com cabo. Segundo ele, quando chovia, as pessoas abria o guarda-chuva e o situava sobre a cabeça. O resultado era que chovia ao redor da pessoa, mas não sobre ela. Com o guarda-chuva, ele poderia sair para passear em meio a chuva cada vez que quisesse, sem molhar-se. Se é que ainda podia caminhar quando chegasse a estação chuvosa.
Seu ventre estava crescendo tanto, que parecia que andava como um pato. Descer as escadas era o que mais lhe angustiava. Com aquela barriga tão proeminente, tinha que inclinar-se ligeiramente para trás para não perder o equilíbrio nos degraus. Era muito difícil. Também estava ficando preocupado. Graças ao que Louis lhe havia dito, que os bebês nasciam de uma forma completamente diferente dos pintinhos, já não acreditava que poderia pôr um ovo. Nã obstante, não lhe cabia a menor dúvida de que havia um bebê crescendo dentro dele. Algumas vezes podia inclusive senti-lo se mover, como se estivesse ansioso para sair. Dado seu tamanho, Harry estava começando a se perguntar como seria. Não era através de seu umbigo, com toda segurança.
Queria perguntar a alguém como nasciam os bebês humanos, mas não sabia como fazê-lo. Sua mãe apenas estava começando a ler os lábios. Louis o fazia muito melhor, mas não tanto como para entender tudo o que ele dizia. As poucas vezes em que tentou lhe fazer perguntas a respeito dos bebês, ele não parecia entendê-lo. De fato, Harry às vezes tinha a sensação de que ele não queria entendê-lo. Isto lhe preocupava e a fazia perguntar-se se ter um bebê não seria uma experiência horrível. Embora isto não lhe importasse. Queria um bebê e assim se tivesse que passar por um momento desagradável para ter um, estava disposto a fazer tudo o que fosse necessário.
Um dia, a última hora da tarde, momento que Harry normalmente passava junto a Louis, ele recebeu um recado solicitando sua imediata presença nas cavalariças. Pouco depois dele sair da casa, Harry começou a sentir-se aborrecido e posto que ultimamente lhe tinham dado mais liberdade de ação e lhe permitiam sair sozinho, decidiu dar um passeio pela propriedade. Seu passeio o levou justamente às cavalariças. Imediatamente depois de entrar, parou em seco e inclinou a cabeça, subjugado por um som apenas perceptível que rompeu o silêncio que sempre o rodeava. Posto que fossem raras as ocasiões em que podia perceber algum ruído, isto não era só um fato novo, mas também insólito. Era um som agudo, muito diferente de tudo o que ele recordava ter ouvido em sua vida.
Sentindo-se atraído por ele, atravessou vacilante as cavalariças. Acelerou o passo ligeiramente quando ficou mais forte e fácil de seguir. A metade de caminho do escuro corredor, Harry chegou à intercessão de dois corredores. A sua esquerda, viu o brilhante círculo formado pela luz de uma lanterna e uns homens dando voltas ao redor do disco luminoso. Fascinado, dirigiu-se para eles. Quando esteve o suficientemente perto para ver o que ocorria, percebeu que estavam reunidos frente ao cubículo de um cavalo. Estirando o pescoço para poder ver um pouco melhor, viu Louis ajoelhado junto a uma égua que estava tombada dentro do recinto.
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Harry's Song - Adaptação Larry Stylinson
RandomHarry Styles vive em um mundo solitário em que ninguém pode entrar e compreender. Tão delicado e belo como as doces flores da primavera de Oregon, é rejeitado por um povo que interpreta de maneira equivocada sua aflição. Porém, esta crueldade não po...