Durante as duas semanas seguintes pareceu a Louis incrivelmente fácil obedecer às ordens do doutor e concentrar-se em Harry. Na realidade, não tinha outro remédio. Do momento em que abria os olhos pela manhã até que os fechava de noite, ele ocupava todos seus pensamentos. Pensava em outras coisas que comprar. Em atividades que ele poderia desfrutar. Em como lhe iluminavam os olhos quando sorria. Contemplou inclusive a possibilidade de fazer uma jaula para seus detestáveis ratos.
Harry... Pela primeira vez em sua vida adulta, Louis tinha alguém que merecia seus cuidados, alguém que lhe importava muito mais que seu trabalho. Não demorou em perceber o muito solitário e carente de sentido que tinha sido sua vida até então. Começou a passar cada vez menos tempo na pedreira e nas cavalariças. Depois das refeições, encerrava-se em seu escritório com os livros que o doutor Horan lhe tinha conseguido. Durante três horas, sem falta, estudava atentamente suas páginas, tentando memorizar o alfabeto mímico para aprender a comunicar-se através da língua de sinais. Logo, passava meia hora falando com sua imagem em um espelho de mão, para praticar a leitura dos lábios. As três em ponto, ele abandonava estas atividades para passar o resto da tarde e da noite com seu esposo.
A princípio, Harry não parecia muito contente de ter a sorte de desfrutar de sua presença; mas, depois de uns poucos dias, pareceu aceitá-la e inclusive desfrutar dela. Se Harry ia ao sótão, ele o seguia até ali. Se estivesse com Maddy no andar de baixo, tirava-o da casa para ir dar longos passeios. Pelas noites, insistia-lhe para que se sentasse com ele à mesa e jantassem juntos. Uma vez ali, o fazia servir o chá e passar as fontes e também lhe ensinava como comportar-se corretamente na mesa. Quando terminavam de jantar, passavam ao escritório, onde lhe ensinava jogos simples, como a tabuada e as damas chinesas, que requeriam muito pouca comunicação verbal.
Naqueles dias, a costureira foi tirar medidas de Harry e Louis lhe pediu que fizesse um variado guarda-roupa para seu esposo. Depois de receber uma bonificação considerável, a senhora Grimes aceitou contratar empregadas adicionais para poder entregar ao menos três ternos em uma semana. Louis mal podia esperar para ver os olhos de Harry quando visse a roupa pela primeira vez. Embora tivesse que escolher os estilos tendo presente que o ventre de seu garoto continuava crescendo, estava seguro de que ele ficaria muito contente.
Não mais ternos mofados tirados dos baús cobertos de pó do sótão. A partir de então, ele teria preciosas roupas próprias. Mas era uma loucura... Louis começou a perguntar-se seriamente se não estaria perdendo a razão. Estava se apaixonando loucamente por um homem-menino que acreditava que o bebê que estava crescendo dentro dele levava um gorrinho com volantes. A orientação carnal de seus pensamentos era indecente, não lhe cabia a menor dúvida; mas quando olhava Harry nos olhos se perguntava como algo que parecia tão bom e puro poderia ser mau.
A sorte quis que Anne Styles finalmente fizesse provisão de valor para ir à casa de Louis a mesma tarde em que a senhora Grimes levou os primeiros objetos de roupa do novo vestuário de Harry. Louis, que esperava com impaciência frente à porta do quarto de crianças, enquanto Harry provava os ternos, ouviu Frederick conversando com alguém no saguão e foi ao patamar para saber de quem se tratava. Ao ver Anne, esteve a ponto de lhe ordenar que saísse de sua casa. Mas a angústia que viu no rosto da mulher lhe impediu de fazê-lo.
— Senhora Styles — disse com frieza — Surpreende-me vê-la aqui.
Jogando a cabeça para trás para poder olhá-lo nos olhos, Anne retorceu as mãos. Era evidente que temia que lhe pedisse que partisse antes que ela tivesse a oportunidade de lhe dizer umas palavras.
— Sei que me despreza e possivelmente com justa razão, senhor Tomlinson. Mas lhe rogo que tenha a amabilidade de me deixar ver meu filho. Não ficarei muito tempo. Juro. Tampouco farei nada que possa alterá-lo. Mas, por favor, me deixe vê-lo.
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Harry's Song - Adaptação Larry Stylinson
RandomHarry Styles vive em um mundo solitário em que ninguém pode entrar e compreender. Tão delicado e belo como as doces flores da primavera de Oregon, é rejeitado por um povo que interpreta de maneira equivocada sua aflição. Porém, esta crueldade não po...