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Durante o primeiro mês de sua vida, Ethan Oliver Tomlinson, crescia a
um ritmo impressionante. O leite de seu pai e o ilimitado amor que lhe davam todos ajudava muito. Mas apesar dos centímetros que tinha crescido depois de quatro semanas, ainda não era tão comprido como seu nome. Entretanto, o que não tinha em longitude, tinha-o em potência pulmonar. Quando chorava, todos na casa, menos seu pai Harry, ouviam-no e acudiam correndo a seu lado.

"Pequeno Olie", Louis o chamava.

Este era um nome que sofria mudanças sutis quando o menino despertava Louis as três da manhã. Enquanto tirava seu filho do berço para andar com ele de um lado para outro da habitação, Louis lhe sussurrava: — Pequeno irritante. Nem sequer estamos na metade da noite.

Olie, igual a Harry, não parecia ter noção do tempo e era uma criatura regida pelos impulsos. Fazer vida social antes do amanhecer nunca foi uma das atividades favoritas de Louis. Mas, depois de quatro semanas, tinha que reconhecer que estava começando a gostar deste costume. Possivelmente muito para sua tranquilidade de espírito. Já era 10 de fevereiro e só faltavam três semanas para primeiro de março.

Por distintas razões, Louis tinha esperado para dizer a Harry que tinha a intenção de mandá-lo para uma escola. Em primeiro lugar, não queria que o pouco tempo que tinham para estarem juntos se visse embaçado pela tristeza e tinha a certeza de que, logo que contasse a ele, os dois iriam se sentir tristes. Por outra parte, sabia que Harry não receberia muito bem a notícia, e não via do que podia servir fazer com que se desgostasse semanas antes do que fosse necessário. Durante quatorze anos, tinham-no obrigado a viver isolado. Para ele não seria nada fácil que de repente o forçassem a sair ao mundo, que agora, subitamente, esperassem que assistisse a aulas e fizesse vida social.

E, além disso, estava o fato inegável de que Louis tinha resultado ser mais covarde do que acreditava. Em resumidas contas, não tinha vontade de falar com Harry sobre sua decisão porque sabia que ele o odiaria por isso. Ir a uma escola em Albany era o melhor para ele. Louis estava convencido disto e com o tempo, Harry o compreenderia. Mas, igual a uma medicina amarga, o que era melhor para uma pessoa nem sempre resultava muito apetecível.

Louis tinha pensado com muita antecipação em centenas de maneiras distintas de lhe dar a notícia; mas, quando finalmente chegou o momento, as palavras que tantas vezes tinha repetido lhe escaparam como penugens da flor do dente de leão levadas pelo vento. Estavam no estúdio, um tabuleiro de xadrez se encontrava desdobrado sobre a mesa que os separava, e o bebê dormia muito bem abrigado sobre o sofá de crina de cavalo, perto deles. Enchendo-se de coragem, Louis olhou os preciosos olhos verdes de seu esposo.

— Tenho uma surpresa maravilhosa para você, Harry. É algo que quero te dizer há várias semanas.

Debaixo da luminosa luz, seu sorriso lhe pareceu ainda mais radiante que de costume. Ao olhá-lo, Louis soube que nunca em sua vida tinha visto pessoa mais formosa que ele. Fazia dois dias que a costureira tinha terminado de lhe fazer o guarda-roupa para o período de pós-parto; e estava maravilhoso com sua calça de cor rosa intenso e sua blusa de algodão rosa pálido, com mangas de volantes. A camisa se ajustava a sua figura, mostrando sua nova e magra cintura e seus quadris ligeiramente voluptuosos.

— Uma surpresa? O que é? Um cachorrinho?

Louis sentiu um nó na garganta. Não tinha esquecido que ele queria um cão. Antes de tomar a decisão de mandá-lo a Albany, tinha pensado comprar um para Natal. Agora isto teria que esperar até que ele tivesse terminado a escola.

— Não, não é um cão, meu amor. — obrigou-se a esboçar um sorriso — É algo melhor. — Inclinando-se sobre o tabuleiro de xadrez, olhou-o profundamente nos olhos — Decidi te mandar a uma escola, Harry. Uma escola para surdos.

Harry's Song - Adaptação Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora