6

1.3K 140 83
                                    

Harry viu muitas vezes a distância a casa de pedra com telhado de piçarra; mas, intimidado por seu tamanho, nunca tinha se atrevido a se aproximar. Com seu perfil recortado contra o verde bosque, a casa tinha quatro andares, incluindo o sobrado, e se encontrava situada no alto de uma colina coberta de erva e cruzada por cercas brancas. O exterior se livrou de ter um aspecto severo graças a seus abundantes adornos de madeira branca; um alpendre de colunas com um terraço saliente, portinhas em todas as janelas e volutas ao longo dos beirais, decoração que Harry nunca em sua vida tinha visto em outro lugar.

Muro de pedra com marquises brancas rodeava o jardim frontal e o caminho de entrada para casa estava marcado com pilares pintados de branco na parte superior, que tinha faróis pendurando neles. Faróis, nada menos! Isto parecia Harry era uma completa loucura. Luz fora da casa? Quando seu pai tinha que sair no meio da noite, simplesmente levava consigo um candeeiro. Enquanto a carruagem bamboleava e sacudia ao passar o caminho de entrada, ele olhava fixamente para a casa através de uma cortina de lágrimas e seu pânico era cada vez maior. Seus pais o tinham dado... Tão implacável como uma adaga, este pensamento atravessava insistentemente sua cabeça. Sem dúvida tinham deixado de querê-lo.

Porque estava engordando, supôs. De modo que o tinham dado. E para aquele homem, nada menos. Deus santo! Harry engoliu saliva e conteve a respiração, temendo fazer algum ruído sem querer. O desconhecido tinha o chicote de papai. Estava ali, a seu alcance, no assento junto a ele. Um movimento incorreto e com toda segurança bateria nele com aquela tira de pele. Ele já sabia que este não era o mesmo homem que lhe tinha feito mal na cascata. Quando apareceu debaixo dela no saguão, pôde olhar atentamente seu rosto. Linhas tênue se abriam nas extremidades dos olhos de cor azul e de cílios espessos, indício de que era uns quantos anos mais velho que o outro sujeito. E lhe pareceu também que seus traços dourados pelo sol eram um pouco mais angulosos. Mas, pelo resto, as diferenças entre eles eram tão leves que mal se notavam.

O mesmo cabelo cor uísque, o mesmo nariz de botão que nascia entre suas sobrancelhas leoninas, um contraponto perfeito para suas maçãs do rosto salientes e sua mandíbula quadrada. A semelhança era muito marcante para ser uma mera coincidência, isto era indubitável. Se não fosse pela diferença de idade, aqueles dois homens seriam tão parecidos que poderiam ser irmãos gêmeos. Isto certamente queria dizer que eram parentes próximos, ou melhor, irmãos. A ideia lhe revolveu o estômago.

Irmãos... Harry supôs que os irmãos deviam ser tal e como as irmãs; viviam na mesma casa e tinham muitas similaridades, não só em todo o relacionado com a aparência física, mas também em muitas outras coisas. Se um irmão fosse bom, o outro provavelmente também era. Se um irmão fosse mau, era muito possível que o outro também o fosse. Harry, enfim, sabia que aquele homem tinha um parente próximo, possivelmente um irmão, que era muito mau. Isto o assustava muitíssimo. Para tentar se sentir melhor, repetia-se insistentemente que já lhe teria feito mal se assim quisesse. E, até então, não tinha tentado nada. Mas isto não queria dizer que não o fizesse se chegasse a desejar.

A carruagem parou com uma sacudida. Aterrorizado, Harry ficou olhando fixamente para a casa, e lhe veio a mente outro pensamento. Era possível que o outro homem, o das cataratas, estivesse ali dentro. Esperando-o, talvez. O coração deu um salto de terror, e olhou ao redor dele, procurando uma maneira de escapar. Passasse o que passasse, não podia entrar naquela casa. Como se Louis tivesse intuído o que ele estava pensando, o desconhecido o sujeitou com mais força. Harry teve que conter-se para não gritar, mas começou a tremer e seus dentes começaram abater. Ele não podia ouvir este som, mas pensou que Louis possivelmente pudesse. Sendo assim, saberia quanto medo sentia.

Os malvados sempre eram mais cruéis quando pensavam que ele tinha medo. O homem o agarrou pelos pulsos com uma mão e, com a outra, pegou o chicote e abriu a porta da carruagem. Antes que Harry pudesse adivinhar o que ele pensava fazer, colocou o chicote em seu bolso, sujeitou-o contra seu peito e saiu do veículo. Dado que o homem o estreitava com força entre os braços, seus pés ficaram pendurados a vários centímetros do chão. Pensou em lhe dar outro forte chute nas canelas ou em lhe bater de novo na boca com a cabeça, mas em seguida desprezou esta ideia. Agora que o tinha levado até ali, não havia maneira de saber o que poderia lhe fazer se lhe provocasse. Como se fosse um boneco de trapo cheia de penas de ganso subiu com ele as escadas que conduziam a casa.

Harry's Song - Adaptação Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora